Crítica | Mulan [1998]

Nota
5

“A flor que desabrocha na adversidade é a mais rara e bela de todas.”

Fa Mulan nunca se encaixou bem.  Ela está longe de ser uma garota calma, reservada, graciosa, educada, refinada, equilibrada e muito menos pontual que precisa para conseguir um bom casamento. Mas, após o desastroso encontro com a Casamenteira, Mulan acha que nunca vai conseguir trazer honra a sua família. Desacreditada, ela se questiona sua real capacidade e o momento de encontrar a si mesma.

Enquanto isso, os Hunos invadem a fronteira norte da China, a Grande Muralha, causando um grande alvoroço nas províncias. Preocupado com a segurança do seu povo, o Imperador convoca um homem de cada família para servir ao exército imperial. Sendo filha única, Mulan observa seu orgulhoso pai aceitar a convocação e se preparar para a guerra, mesmo ele estando debilitado e não tendo o mesmo virgor e saúde que teve um dia. Determinada a salvar a honra da família e ao seu pai, ela se disfarça de homem e decide ir atender ao chamado do Imperador.

Vendo o destino da família colocado em risco, os Ancestrais da Família Fa convocam Mushu, o dragão da família, para acordar o maior e mais poderoso guardião e protetor deles: o Grande Dragão de Pedra. Após destruir o poderoso guardião, Mushu se vê numa enrascada e decide ele mesmo ajudar a Mulan na sua jornada. Junto com o Grilo da sorte, o curioso trio parte para o acampamento para receber o treinamento do Comandante Li Shang e embarcam numa jornada que pode não só mudar sua família, mas salvar toda a China.

Inspirado num antigo poema chinês, Mulan é a melhor representação da era conhecida como Renascimento da Disney. Iniciada em A Pequena Sereia, o novo arco mostra princesas mais independentes que procuram ter o destino em suas mãos, e, embora esteja longe de ser considerada uma princesa em minha humilde opinião, Mulan é uma das melhores representações femininas de todos os tempos.

Com uma cena inicial invejável, o longa já mostra a que veio com sua beleza e graça, misturada com a brutalidade e destruição que uma guerra proporciona. Os traços delicados da cultura chinesa são apresentados com um louvor impecável que encanta a quem assiste, assim como as tradições e superstições tão marcantes e precisas. Uma animação impecável que mostra a grandiosidade e o cuidado do estúdio para/com a história, misturando os traços 2D com o 3D explorado nessa era pelo estúdio que causou um leve desconforto em Hércules, mas aqui mostra uma harmonia magnífica.

As músicas memoráveis representam bem o que o longa quer passar. Iniciando com Honor to All Us, que apresenta a cultura local, suas tradições e trazendo o desconforto inicial da personagem ao tentar se encaixar nos padrões sociais, passando pela tocante Reflection, onde Mulan mostra toda sua fragilidade e parte nossos corações; e entra na brava I’ll Make A Man Out Of You, onde acompanhamos o desenvolvimento dos personagens e o crescimento deles como um grupo; e, por fim, a esperançosa A Girl Worth Fighting For. Todas as músicas foram interligadas por um instrumental crescente e sensível, trazendo traços chineses em sua construção e transportando ainda mais o espectador a história que esta sendo narrada.

Os personagens são esplendorosos. Mulan (Ming-Na Wen) é forte e determinada; ela não está disposta a deixar os homens decidirem seu futuro e toma sua vida em suas mãos. Mesmo quando encontra seus dilemas sobre ser ela mesma, a guerreira nunca abre mão de fazer o que é certo e salvar a quem ama. Saindo bastante do papel de mocinha indefesa e representando com maestria a grande mudança que a Disney vinha construindo em suas personagens femininas.

Mulan é um exemplo louvável e duradouro de uma representatividade ímpar em que coloca a mulher como protagonista de sua própria história. Li Shang (BD Wong) encontra seus próprios dilemas enquanto tenta agradar e honrar seu pai; ele precisa se mostrar forte e duro com seus subordinados enquanto tenta não sucumbir a pressão de treinar um exército de desajustados. Sua ligação com Ping (o alter ego masculino que Mulan adota para não ser descoberta) é magnífica, a confusão de sentimentos que o rapaz apresenta é sublime e encantadora.

Os colegas de acampamento de Mulan têm personalidades tão diferentes e ao mesmo tempo tão bem encaixadas uma nas outras que se mostra um parte essencial para o desenvolvimento da animação, além de representar boa parte do alivio cômico da trama. Temos o atrapalhado Ling (Gedde Watanabe), o bruto Yao (Harvey Fierstein) e o gigante amoroso Chien-Po (Jerry Tondo). A avó da protagonista é outro show à parte, apresentando uma senhora hilária que acredita fortemente em suas superstições e sabe exatamente o que dizer na hora certa.

O exército dos Hunos é brutal e imponente, e seu líder, o Shan-Yu (Miguel Ferrer), é implacável e assustador, trazendo um perigo real a uma das tramas mais ousadas das animações Disney. Mushu (Eddie Murphy) rouba cada uma das cenas em que aparece, pegando bem os trejeitos de seu dublador e implementando a personalidade grandiosa do personagem, é assim que o Dragão Vermelho conquista o público quando aparece e proporciona algumas das melhores cenas do longa com seu humor ácido e preciso. Ao contrário de Mulan, Mushu parte na jornada por interesse próprio procurando lucrar e se livrar de uma encrenca danada, mas acompanharemos o amadurecimento do personagem durante a trama e seu forte laço com a protagonista.

Comovente, engraçado e extremamente preciso, Mulan é um marco memorável na história grandiosa da Disney, que traz um contraste maravilhoso entre a delicadeza e a brutalidade e apresentando umas das melhores protagonistas das histórias do estúdio. Dona do seu destino e com uma profundidade impecável que conquistou uma legião de fãs não só por salvar a China, mas por dar uma nova representatividade ao público feminino, Mulan mostra todas as multifaces e o verdadeiro poder de uma mulher que luta por seus ideais e desabrocha mesmo em meio a toda adversidade.

“Quem é que está aqui? Junto a mim, em meu ser. É a minha imagem? Eu não sei dizer… Como vou desvendar? Quem sou eu? Vou tentar… Quando a imagem de quem sou vai se revelar?”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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