Crítica | Hércules

Nota
4

“Às vezes, eu sinto como se meu lugar fosse outro. Como se não fosse este o meu lugar.”

Antigamente, na longínqua Grécia antiga, o Olimpo se encontrava em festa. Um novo deus, filho de Hera e Zeus, acabará de nascer. Todas as divindades foram convidadas para a celebração, até mesmo o deus do submundo; Hades. Considerado a ovelha negra da família e sendo colocado de lado pelo próprio irmão, o senhor do submundo não vê motivos para comemorar. Após consultar as Parcas, ele decide colocar em prática seu plano de tomar o Olimpo e derrotar seu poderoso irmão, mas existe um grande empecilho na trama do deus: seu sobrinho Hércules.

Temendo que seu plano vá por água abaixo, Hades ordena que seus capangas Agonia e Pânico sequestrem o garoto, deem a ele uma poção que o transforme em mortal e depois acabem com a vida dele. Mas, felizmente, Hércules não bebe a última gota e permanece com sua força descomunal. Agora mortal, ele é criado por um casal de camponeses e se sente deslocado no ambiente em que vive. Atrapalhado e com uma força desumana, o rapaz é motivo de chacota e temor entre as pessoas, sendo considerado uma aberração.

Após descobrir que foi adotado, o garoto decide ir ao templo de Zeus descobrir mais sobre o seu passado. Lá, ele descobre que é filho do senhor do Olimpo e que ele só poderá voltar a sua forma divina quando provar que é um verdadeiro herói, digno de ser lembrado como um deus. Mas, para isso, Hércules precisa convencer o desacreditado Phil a treiná-lo e provar seu valor ao mundo. O caminho não será fácil, já que Hades descobriu que seu sobrinho continua vivo e fará da vida do herói um verdadeiro inferno…

Marcando o retorno de Ron Clements e John Musker como diretores, Hércules trouxe uma história mais leve e bem humorada, contrastando com a carga pesada instalada em O Corcunda de Notre Dame. O longa surgiu como uma condição do estúdio para que os diretores pudessem realizar o tão desejado Planeta do Tesouro, se Ron e John conseguissem construir um projeto mais leve e comercial, o próximo longa estaria liberado e eles não podiam ter acertado mais.

A produção trouxe uma nova mitologia para os estúdios Disney, misturando os traços angulares e exagerados com cores marcante e chamativas. Desde a pele dourada e cintilante do protagonista às chamas azuis e sombrias de Hades, tudo ali foi feito para chamar nossa atenção e intensificar as personalidades marcantes dos personagens. O filme ainda nos presenteia com ótimas referências ao mundo contemporâneo, como a calçada da fama, Mary Monroe ou uma cena clássica de Karatê Kid recriada, apresenta-nos o canto, as piadas certeiras e um humor leve (p.s.: até o Scar faz uma breve aparição deixando qualquer fã da Disney enlouquecido).

O filme já joga fora o peso em sua abertura, trazendo as incomparáveis Musas para narrar a história. Definindo bem o tom do filme e encantando o público ao misturar as artes gregas com os desenhos caricatos criados para o filme, tudo parece ter sido pensado para atrair o público e nos deixa confortáveis e animados com a trama que se desenvolve na nossa frente. Trazendo algo forte e ágil e com ensinamentos preciso e emocionantes.

Mas nem tudo são flores, embora o longa tenha seus inúmeros acertos, as cenas em 3D parecem tão deslocadas e gritantes que incomodam a quem assiste. Algo que foi aprimorado pelo estúdio em outros projetos, mas que aqui parece fora de tom. E esqueça toda mitologia que aprendeu na escola, Hércules molda os mitos a sua vontade para que eles sirvam e encaixem no padrão Disney de ser, trazendo algo mais cômodo e menos sombrio.

Hércules (Josh Keaton/Tate Donovan) é desengonçado e se sente deslocado. Até mesmo quando ele pensa em ajudar, tudo parece desmoronar ao seu redor. Sentimos suas dificuldades, sofremos com seu deslocamento e, assim como ele, pensamos que talvez temos algo grandioso reservado no nosso futuro. O jovem é gentil e adorável e seu desejo de ser aceito e normal o torna ainda mais humano aos meus olhos.

Hades (James Woods) é ácido e explosivo. O senhor do submundo sempre perde a cabeça ao ver seus planos darem errados e constrói boa parte das piadas do longa, mas isso não o torna menos perigoso nem traiçoeiro. O vilão traz tanta alma à trama que é impossível não lembrar de seus maneirismos exagerados e sua presença marcante. Phil (Danny DeVito) é um sátiro rabugento que já desistiu de ter seu maior sonho realizado: ser o treinador de um herói lendário. Após falhar incontáveis vezes, o homem-bode vê em Hércules sua última chance de fazer algo grandioso, servindo como guia e conselheiro.

Fora as Musas, que roubam cada uma das cenas em que aparece, outra personagem que encanta é a traiçoeira Meg (Susan Egan). Debochada, sarcástica e cheia de uma personalidade forte, Meg é diferente de qualquer protagonista Disney que conhecemos. Além de uma beleza estonteante, ela traz um olhar provocante e uma lábia venenosa que nos conquista desde o primeiro momento. Com um humor ácido e cheia de entrelinhas, a protagonista tem atitude que deixariam qualquer princesa de cabelos em pé, mas ganha o público ao mostrar sua fragilidade e sua força.

Com uma trilha sonora que mistura o gospel com o Jazz, Hércules transborda musicalidade. Começamos com a poderosa O Que Passou, que nos situa na mitologia que o filme procurou criar. Logo depois a emotiva Vencer Distâncias nos entrega o sonho do herói e o desejo de ser algo mais. Passam os por um treinamento árduo em Minha Chance e pela Zero a Herói. Mas nenhuma é tão tocante como Não Direi (Que é Paixão); afinal, quem nunca teve um coração partido e negou a todo custo que estava se apaixonando outra vez, mesmo quando a razão diz que é loucura?

Com uma trama cheia de camadas e um roteiro envolvente, Hércules trouxe uma nova força a Disney, mostrando-nos que nosso poder não está em nossa força física, mas no quão forte pode ser nossos corações ao nos depararmos com um caminho sombrio e sem esperanças. E, acredite, quando se descobre algo assim você pode enfim vencer distâncias.

“Eu viajarei
Vou vencer distâncias
Sei que chegarei
Com o meu suor
Nesse tal lugar
Onde vou parar
Eu sei que pra minha vida vai ser bem melhor”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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