Crítica | Matar um Tigre (To Kill a Tiger)

Nota
4.5

Esta crítica aborda tópicos sensíveis como abuso de menores, se você é sensível a esse tipo de tópico sugiro não continuar a ler.


Até onde você iria para proteger um filho? Enfrentar seus vizinhos, sua cidade inteira ou até as próprias leis do seu país? To Kill a Tiger é um dos documentários indicados ao Oscar 2024, que trás uma temática não só muito atual, como muito necessária para ser discutida no mundo inteiro, mas principalmente na Índia: O abuso de menores. Após sua filha de 13 anos ser estuprada por vários adolescentes e jovens adultos da sua vila, Ranjit entrou numa batalha judicial que durou vários anos para conseguir justiça. A batalha foi muito longa porque alguns dos culpados eram filhos de pessoas importantes e que foram protegidos até pelo prefeito da cidade. Acompanhando o processo judicial e também as repercussões do caso onde a família da vítima mora, a diretora Nisha Pahuja, acompanhou o caso de perto durante anos e nos conta também algumas motivações de enfim conseguir finalizar e mostrar o seu filme para o mundo.

To Kill a Tiger é um daqueles documentários que é comovente do começo ao fim, mas sem de forma alguma ser apelativo. A diretora Nisha Pahuja acompanhou a jornada da jovem vítima durante alguns anos de sua adolescência, onde rejeitada pelas pessoas da vila, sofrendo bullying na escola e ataques de pessoas próximas, que não acreditavam no ocorrido, a então adolescente passou por um momento horrível para conseguir se livrar do trauma, porque a mesma não entendia direito o que aconteceu, mas as sequelas do ocorrido já abalaram muito sua saúde mental. 

Acredito que com uma temática tão delicada, o filme ser dirigido por uma mulher é nítido pela abordagem da diretora, que inclusive só finalizou o filme e o levou para mostras de cinema após a vítima consentir e ter idade suficiente para decidir se permitia a exibição do filme. Apesar de ter uma delicadeza na abordagem, Nisha também é incisiva quando precisa ser, entrevistando defensores dos criminosos, pessoas importantes da política indiana, além de dar visibilidade à movimentos que apoiam vítimas de abuso e estupro na Índia, entrevistando alguns representantes dessas organizações e acompanhando esse trabalho de perto. 

O filme concorreu apenas à categoria de Melhor Documentário no Oscar, disputando com outros títulos de peso que deixavam muito incerto To Kill a Tiger levar a estatueta para casa. Apesar de já ter levado alguns prêmios canadenses em 2023, o longa provavelmente passará despercebido entre os participantes da cerimônia por outros que receberam mais destaque ao longo do ano passado, mesmo tendo uma mensagem importantíssima para ser falada e discutida após a cerimônia. 

To Kill a Tiger é um documentário que você precisa assistir pela sua importância na prevenção e conscientização de leis mais severas que protejam nossas crianças e adolescentes. Onde, num país como a Índia, estupros são reportados a cada 20 minutos e menos de 30% dos acusados recebem penas justas, abordar esse tema se mostra necessário, não apenas para a Índia, como para o mundo inteiro. Atrelado a isso, o documentário se mostra extremamente sensível e respeitoso com os seus retratados, o que mostra ainda mais o comprometimento da diretora com a causa.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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