Crítica | Jackie

Nota
3.5

A morte do presidente John F. Kennedy (Caspar Phillipson) foi definitivamente um choque para toda a população estadunidense em 1963, mas para sua esposa, Jackie Kennedy (Natalie Portman), muito mais que um choque, tudo relacionado ao dia 22 de novembro vem como um trauma em sua cabeça, já que ter o seu marido assassinado em seus braços é com certeza um cenário horrorizante. A partir disso, acompanhamos sua entrevista com um jornalista (Billy Crudup) que tenta, a todo custo, arrancar algo íntimo da ex-primeira dama, enquanto ao mesmo tempo assistimos diversos momentos prévios ao fatídico dia. Essa é a premissa de Jackie, do diretor Pablo Larraín, que já tem como uma marca registrada de seus filmes a representação de figuras históricas de uma forma que ninguém viu.

Um dos primeiros filmes a representar a obsessão do diretor Pablo Larraín em retratar os sentimentos ocultos em figuras históricas, Jackie, que veio antes do contraditório Spencer (2021) e até mesmo do recente El Conde (2023), mostra sobretudo alguns pontos positivos sobre o diretor, especialmente sobre sua consistência estética. A cinematografia de Jackie consegue ser impecável na sua representação da época, tendo como um exemplo de quão minucioso foi o cuidado com a representação fiel à realidade, as cenas que simulam o áudio e a imagem das televisões dos anos 50, retratando com exatidão uma entrevista da Jackie Kennedy em 1962, além de todas as técnicas de filmagem que são vistas posteriormente em seus filmes. 

Apesar de não se parecer muito fisicamente com a Jackie Kennedy, Natalie Portman acerta em cheio em sua atuação da primeira dama, conseguindo fazer uma voz que se assemelha muito com a original. Mas, ainda assim, a personagem não consegue explorar todo o potencial da atriz, que é muito reconhecida por seus personagens complexos e excêntricos, que mostram sobretudo sua versatilidade representando super bem esse estereótipo de mulher perfeita dos anos 60, mesmo em seus momentos fora das câmeras. E, mesmo com tanto esforço, sua atuação não a recompensou com o Oscar de Melhor Atriz em 2017, perdendo naquele ano para Emma Stone e sua performance em La La Land.

Ao contrário do que viria a ser seu próximo filme de destaque nas premiações, Jackie consegue abordar temas mais sensíveis à personagem, como foi com a morte do então Presidente John F. Kennedy, o que não acontece com Spencer que vai apenas especulando os sentimentos da Princesa Diana, mas parece que há um receio de abordar temas mais polêmicos, como o acidente que levou à sua morte em 1997. Durante o filme, as especulações dos sentimentos da Jackie Kennedy conseguem ser menos exagerados, e sobretudo mais realistas devido a gravidade da situação que ela se encontra, o que, botando os dois filmes na balança, torna Jackie mais plausível e até respeitoso com a personagem retratada.

Além da indicação à Melhor Atriz, Jackie levou mais duas indicações em categorias técnicas, uma em Melhor Trilha sonora e outra, que realmente tem um destaque importantíssimo no filme, em Melhor Figurino. O figurino do longa é um show a parte, que apesar de ter muitas peças clássicas da marca Chanel, que normalmente é uma marca associada à mulheres clássicas e conservadoras, mas que contrastam bem com o cenário por muitas das vezes ter uma cartela de cores coloridas em seus flashbacks e que se acinzenta para roupas pretas ou brancas após o luto da personagem. Apesar de não receber indicação em Cabelo e Maquiagem, vale comentar também o trabalho impecável com as perucas das personagens, sobretudo da Natalie Portman, que mesmo em dados momentos fique mais aparente que era uma peruca para olhares mais apurados ou profissionais, é de fato muito difícil identificar que ela usa uma peruca, mas que além disso a sua personagem sempre se apresenta com penteados perfeitos e bem elegantes para a época retratada.

Jackie foi a primeira obra que o diretor Pablo Larraín se permitiu explorar sentimentos ocultos de figuras históricas, mas que ao contrário de trabalhos mais recentes, faz o seu trabalho com mais efetividade. Com uma atuação no nível esperado da Natalie Portman, ela entrega a voz idêntica à da ex-primeira dama estadunidense, e que embora acabe não se parecendo tanto fisicamente com ela, junto de um bom trabalho de figurino e caracterização, consegue vender bem a imagem da personagem. Das obras de Pablo Larraín que retratam figuras históricas muito conhecidas, Jackie ainda consegue ser a melhor retratação do diretor. 

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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