Crítica | Imaginário – Brinquedo Diabólico (Imaginary)

Nota
3

“Nunca abandonar Alice”

Jessica Barnes é uma bem sucedida escritora de livros infantis, tendo se consolidado com uma série de livros protagonizados pela inocente milípede Molly e a assustadora aranha Simon. Ela é casada com o músico Max e divide a casa com suas duas enteadas, a doce Alice e a revoltada Taylor, cuja mãe foi internada depois de alguns problemas no passado. Quando uma série de pesadelos começa a atrasar o novo livro de Jess, ela decide voltar para a casa que morou durante sua infância com seu marido e suas entedeadas, mas sua Alice começa a escutar uma voz que a leva até o porão, onde Alice encontra, largado, um urso de pelúcia chamado Chauncey, que rapidamente se transforma em seu melhor amigo e começa a mudar o comportamento de Alice, deixando Jess preocupada e trazendo a tona um obscuro segredo do passado da escritora.

Escrito e dirigido por Jeff Wadlow, a proposta do longa produzido pela Blumhouse Productions é bem simples: o que acontece quando abandonamos nossos amigos imaginários? Em meio a uma proposta bem interessante, o filme tem uma cena bem didática que apresenta uma biologia para fortalecer a mitologia por trás dos paracosmos, que fala que cada Amigo Imaginário nasce, cresce se alimentando da criatividade infantil e morre a medida que as crianças amadurecem e deixam de alimenta-los, criando uma base perfeita para toda a proposta sobrenatural de Chauncey, um amigo que não completou o seu ciclo habitual de vida e acabou se transformando numa entidade vingativa. Mas o que começa como uma proposta interessante, acaba se transformando num exagero narrativo nos atos finais, como se o roteirista não estivesse satisfeito com o trabalho já feito e resolvesse expandir a mitologia a um tamanho desnecessário, algo semelhante ao que Bryce McGuire fez com o recente Mergulho Noturno, também produzido pela Blumhouse.

DeWanda Wise é a adulta da produção, no papel de Jess, ela nos representa dentro do filme, tentando entender tudo que está acontecendo ao mesmo tempo que tenta conquistar o coração de suas enteadas e escrever seu próximo livro. É interessante a forma como Wadlow deixou o passado de Jess subliminar no longa, com a alegoria de Molly e Simon conectada aos seus pesadelos e seu passado e os livros (Molly Milípede e a Mansão MágicaMolly Milípede e a Porta Azul, e etc) sendo pura referência a informações que são reveladas no desenrolar do filme, deixando claro que o passado de Jess, apesar de ter sido apagado de sua mente, permanece interferindo nela. Pyper Braun é a grande protagonista do filme, a inocencia de Alice é o que a faz cair mais fácil nas garras de Chauncey, se tornando praticamente uma refém do ursinho, e a atriz também tem um segundo papel muito interessante no longa, criando momentos com um requinte de terror único e que podem deixar o público com uma dúvida estimulante. Por outro lado, o papel de Betty Buckley é extremamente dispensavel, ela tem uma presença insistente na trama, que quase não adiciona nada, e se torna o pontapé inicial para a parte mais incomoda do enredo, sendo uma das várias escolhas dos roteiristas que poderiam ter sido descartadas/alteradas para melhorar a conclusão da trama.

Dividindo opiniões, Imaginário – Brinquedo Diabólico pode ser um bom filme para os menos exigentes, mas não é um grande terror. O longa traz uma proposta diferente, desenvolvendo uma mitologia própria e começando de forma animadora, mas a proposta alternativa logo se perde e começa a decepcionar os que estiverem esperando uma crescente constante. A menos que esteja disposto a perdoar as falhas e exageros do roteiro, é melhor ir ao cinema com uma expectativa baixa e esperando um filme mediano, dando espaço para o longa te surpreender com alguns plot twists interessantes mas sem se entregar o suficiente para se decepcionar com o desfecho desnecessário. As aberturas para interpretações do longa não animam e a comodidade do ato final pode não agradar, mas é interessante assistir à proposta de  Wadlow até o ponto que ele perde a mão. O longa brinca ao debater que um amigo imaginário nem sempre é o que parece, levando sua protagonista por uma caça ao tesouro ao mesmo tempo que faz o público caçar os retalhos de informação para tecer um entendimento. Apesar dos problemas, é um filme que vale a pena ser assistido para tirar suas próprias conclusões.

“Se eu acabar a minha lista, vou poder viajar com o Chauncey para o lugar de onde ele vem.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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