Crítica | Freaky – No Corpo de um Assassino (Freaky)

Nota
3.5

“Ele circula pela cidade sem ser visto, como um fantasma, e ele mata a vontade todos os anos.”

A cidade de Blissfield viveu um tormento por anos, quando um serial killer batizado de Carniceiro de Blissfield fez diversas vítimas e desapareceu, passando vinte anos sem novas vítimas, até que ele voltou. Millie Kessler é uma adolescente deprimida que está lutando para enfrentar seu último ano do ensino médio, ela estuda no Blissfield High e está sempre se atrasando para cumprir seus compromissos. Por uma macabra ironia do destino, Millie acaba sendo esquecida por sua mãe na escola, o que a faz ficar sozinha e indefesa quando o Carniceiro a avista, a persegue e crava uma adaga na garota, ele só não sabia que estava usando uma adaga mágica, o que fez com que o Carniceiro e Millie trocassem de corpo, com apenas 24 horas para reverter a troca. Agora Millie, que está presa na forma de um maníaco de meia-idade, precisa fugir da caçada humana por toda a cidade enquanto o psicopata, que está livre para transitar no seu novo corpo adolescente, começa a fazer um massacre na cidade para libertar seu apetite por carnificina.

Com direção de Christopher B. Landon e roteiro assinado por Landon e Michael Kennedy, o longa se inspira no livro escrito em 1972 por Mary Rodgers para construir uma comédia com boas doses de suspense e terror slasher. A obra de Rodgers, que conta a história de uma garota adolescente que acaba trocando de corpo com a sua mãe depois de uma briga, já se tornou um clássico do cinema na forma da adaptação Sexta-Feira Muito Louca, protagonizada por Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis, mas consegue alcançar outro patamar quando colocado sob as novas lentes do roteiro de Landon e Kennedy, que nos leva até uma sexta-feira 13 e lembra bastante o trabalho de  Tom Brady em Garota Veneno, outro grande clássico da comédia americana. Apesar da troca de corpos como forma de amadurecimento e aprendizado ser a grande proposta dos dois filmes clássicos, o roteiro do filme da Universal Pictures descarta a proposta do crescimento para focar na aventura e na diversão que pode surgir das ações de Millie no corpo do assassino em contraste com o suspense que circunda as ações do assassino no corpo de Millie.

Apesar de ser a protagonista com menos tempo de tela, Kathryn Newton consegue sustentar bem as três personalidades que lhe são incubidas, vemos no inicio da trama uma Millie vulneravel, que tem medo de se arriscar e parece se aproveitar dos problemas de sua vida pessoal para não mudar, sofrendo bullying e a recente morte do pai, se apoiando emocionalmente entre os amigos e com medo de assumir seu amor por Booker, mas a trama vira e a atriz muda completamente sua feição, não é só as roupas que mudam, Kathryn muda sua postura, seu olhar e até seus gestos para representar o assassino, é como se ela virasse outra pessoa completamente diferente (o que é) e nos surpreende com todo esse trabalho em expor essa diferença, ao fim temos a nova Millie, uma garota que se assemelha à do inicio, mas que se transformou depois da jornada, que mantem a mesma personalidade mas com uma discreta mudança de atitude. Já Vince Vaughn é quem rouba a tela, é ele quem passa maior parte do tempo guiando o filme, é ele quem realmente o protagoniza, e consegue carregar maior parte do humor do enredo na forma como Millie precisa lidar com a nova aparencia, as novas partes do corpo e a forma como todos ao seu redor agem quando a veem, claro que a construção do assassino de Vince é um show a parte, com claras refêrencias a Jason Voorhees ao assumir uma postura mais rigida, impenetravel e inabalavel, mas é quando ele interpreta Millie que ele realmente brilha.

Divertido e sangrento, Freaky – No Corpo de um Assassino é um slasher que foge dos padrões esperados, deixando claro o estilo que Landon sempre procura colocar em seus diversos filmes de terror. Capaz de construir uma mitologia solida e bem planejada, o longa deixa uma brecha para sequências que podem até fugir do tom de comédia ao criar uma premissa para explorar a Adaga Dola em diversas produções, ao mesmo tempo que desenvolve seus personagens de uma forma que nos envolve e até nos faz desconsiderar as diversas falhas de construções de personagem e do núcleo escolar. Outro grande ponto do filme é seu cuidado com a fotografia, que consegue explorar bem o contraste do colorido mundo adolescente com a sanguinaria entrada do assassino nesse mundo, explorando até as transições em meio a cenas onde o assassino começa a agir, como se tivessemos vendo, de forma bem planejada, um filme que transita entre a comédia e o terror com um controle bem definido, é como se a dualidade dos protagonistas assumissem a tela e a simples presença deles pode ser notada pela forma como o ambiente muda. Brincando com cenas sérias e deixando sérias de forma rápida algumas cenas de comédia, o diretor mostra que sabe o que está fazendo e que sabe exatamente como entregar o que o publico precisa.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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