Crítica | Deadpool 2

Nota
4

Deadpool (Ryan Reynolds), o Mercenário Tagarela mais querido da Marvel, está de volta maior, melhor e mais engraçado do que nunca. Quando o super soldado Cable (Josh Brolin) chega em uma missão assassina, o anti-herói precisa aprender o que é heroísmo de verdade para poder se redimir de um erro por ele cometido, recrutando pessoas poderosas, ou não, para ajudá-lo.

Cair nas graças Hollywoodianas é o destino da maioria das sequências de grandes filmes. Tentar superar o nível da produção que a antecedeu consequentemente gera longas-metragens massivos, excessivos e, principalmente, cansativos. Casos e acasos caracterizam continuações que visam repetir ou superar a fórmula de seu primeiro filme, mas, às vezes, a própria pretensão de ir além acaba por agradar uma vez que levamos em conta o que é proposto inicialmente pela produção. “Deadpool 2” é um claro exemplo de como o suposto excesso, diante de uma premissa louvável, pode ser muito bem aproveitado.

Tal como o primeiro Deadpool, o novo filme começa com uma insana sequência musical de ação, contando logo após com toda a contextualização, no melhor estilo metalinguístico que o Mercenário Tagarela tem a oferecer, até chegar no ponto onde foi dado o início da história e, dessa forma, desenvolvê-la. Eis que entra o fator surpresa que afasta “Deadpool 2” de uma simples continuação massiva: o drama. Fica evidente no roteiro de Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds (que, além de atuar brilhantemente como o anti-herói, roteiriza o filme) que a pretensão do longa não era apenas investir nos exageros hollywoodianos para superar seu antecessor, e sim em criar uma trama de fato envolvente e dramática, fazendo o espectador criar empatia pelo personagem principal e compreender o rumo tomado pelo desenrolar da história.

Bem roteirizado, o filme, por outro lado, escorrega justamente pelo fato desse fator surpresa por vezes levar a sério demais uma história dramática, o que faz o humor de “Deadpool 2” ficar menos constante do que no primeiro filme, mas estar em um nível que, consideravelmente, respeita limites. Apesar do humor estar evidente, é notável um leve distanciamento do estilo paródia ao agregar dramas como a depressão do personagem Wade Wilson e seu propósito com o garoto Russell (Julian Dennison).

Dessa forma, o filme mescla o humor irreverente e satírico a uma seriedade dramática de filmes de ação, o que vem a ser positivo para afastar a sequência de excessos de personagens e situações absurdas, mas também são responsáveis por galhofas constantes, o que consequentemente deixa a produção bem equilibrada. O diretor David Leitch leva um pequeno tempo até atingir o ponto certo de equilíbrio, começando a intensificá-lo no meio do segundo ato, mas com louvor.

Além do roteiro, o que “Deadpool 2” tem a oferecer de melhor, assim como o primeiro filme, são os seus personagens. Ryan Reynolds reprisa o Mercenário Tagarela, incorporando-o completamente e dando o melhor de si como nunca, arrancando lágrimas do público de tanto fazê-lo rir. O ingênuo taxista Dopinder (Karan Soni) também retorna e tem ótimos momentos, assim como a cega Al (Leslie Uggams) e Colossus (Stefan Kapicic), personagem este que finalmente mostra o seu potencial que fora ofuscado no primeiro filme numa cena surpreendente de ação contra um famoso vilão com o CGI, segundo o próprio Deadpool, bem caprichado. Mas, os maiores destaques (além de Ryan) são, sem dúvida, Josh Brolin, que entrega um Cable com uma caracterização além do esperado, isto é, temido, respeitável e com uma pinta de T-800, e Zazie Beetz, que encarna uma Domino extremamente divertida, simpática e com momentos de ação dignos.

Cumprindo o que promete, “Deadpool 2” é, de fato, um raro caso em que os excessos, quer seja na trama, nas cenas de ação (algumas com excelentes coreografias e contato corpo a corpo, sem o uso de CGI), no humor, entre outros, casam perfeitamente com o filme. Referências à cultura pop o longa tem de sobra. A trilha sonora consegue ser tão excitante quanto a de Guardiões da Galáxia. As cenas pós-créditos já podem ser consideradas as melhores da história do cinema (não é exagero).

Entre quebras e mais quebras de quarta parede, sangue, piadas e boa música, “Deadpool 2” é uma sequência que não precisa superar o primeiro filme para funcionar, encontrando em seu universo uma maneira de explorar novas histórias, mas sempre com aquele toque especial que faz a sua fórmula funcionar.

 

Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.

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