Crítica | Creed II

Nota
4

Adonis Creed saiu mais forte do que nunca de sua luta contra ‘Pretty’ Ricky Conlan e segue sua trajetória rumo ao campeonato mundial de boxe, contra toda a desconfiança que acompanha a sombra de seu pai e com o apoio de Rocky. Sua próxima luta não será tão simples, ele precisará enfrentar um adversário que possui uma forte ligação com o passado de sua família, o que torna tudo ainda mais complexo.

Em meados de 2014, foi anunciado que Rocky Balboa estaria de volta as telas de cinema. Dessa vez, não com uma produção que tivesse seu nome no título, mas, sim, do seu maior rival, Apollo Creed, e, dessa vez, seria a oportunidade de Balboa ser o mentor do filho do seu grande adversário, e que também havia se tornado seu amigo durante a série de filmes do personagem. Pois bem, Creed – Nascido Para Lutar estreou em 2015 com verdadeiros olhares desconfiados; contudo, após a sua estreia, ficou estampado que a franquia tinha ganho uma força inexplicável, não apenas pelo ótimo trabalho de Michael B. Jordan como protagonista, mas também por assistirmos um Sylvester Stallone na sua melhor versão de Balboa, o que lhe rendeu prêmios, incluindo o Globo de Ouro, de ator coadjuvante.

Anos depois, como era de se esperar, a sequência foi anunciada e, assim, ficamos sabendo que Creed iria lutar contra o filho de Ivan Drago, vilão do filme Rocky 4, conhecido por matar Apollo Creed numa luta feroz no início do longa. Apesar do sucesso do primeiro Creed, a ideia de trazer o filho de um vilão da série Rocky parecia ser forçada demais e talvez a sequência fosse mais uma em cair em desgraça, como já aconteceu com várias franquias. Entretanto, Creed 2 resolveu seguir um caminho diferente do esperado, e isso fica estampado logo na primeira cena do filme.

Na grande maioria das vezes, principalmente em filmes que envolvem esportes de luta, é muito fácil explicar ao público quem é o mocinho e quem é o vilão. A cena de abertura de Creed 2 deixa bem claro que nesse filme não será desse jeito. Em vez de uma cena de abertura com Adonis, temos uma cena mostrando a relação entre Ivan e Viktor Drago e como a vida de Ivan mudou após ele perder a luta para Rocky Balboa, o que aconteceu na frente de todos seus compatriotas na Rússia. A mudança na vida profissional e pessoal do personagem coloca o filme em outro rumo e, acredite, é fácil o público criar empatia com a dupla.

Além do grande acerto na questão de apresentar e desenvolver seus antagonistas, o longa acerta em cheio na evolução da relação entre Balboa e Creed. Os dois passaram por muitas coisas no primeiro filme e é possível enxergar como essas situações apresentadas no longa anterior criaram raízes na sequência. Mais uma vez é preciso destacar a atuação de Stallone. A sensibilidade nas suas ações, frases e expressões são precisas, e é muito pesado e até mesmo triste ver o quanto ele perdeu e o quanto ele vive uma vida por muitas vezes solitária, preocupando-se com coisas pequenas, como, por exemplo, um poste de luz que a prefeitura não conserta há anos, e, no fim das contas, essas pequenas preocupações são apenas um modo de preencher o vazio de uma vida sem pessoas por perto.

A relação de Michael B. Jordan e Tessa Thompson também está mais madura e é mostrado que as pessoas, independentes do quão elas sejam boas ou não, irão encontrar muitas dificuldades ao longo do percusso. O roteiro do filme não exita em nenhum momento de poupar o casal dos problemas e situações que podem afetar a vida de qualquer casal quando está querendo se formar uma família.

Em relação a direção do jovem Steven Caple Jr, o americano de apenas 30 anos consegue muito bem segurar a qualidade deixada pelo diretor Ryan Coogler no primeiro longa. Caple Jr. consegue manter a identidade visual e principalmente musical do filme anterior, além de conseguir exibir novas nuances musicais com direito a uma decisão musical que Coogler, que preferiu não se utilizar totalmente no primeiro filme. Aqui na sequência, o diretor não tem medo de tomar essa decisão.

Creed 2 é uma continuação que está a altura do seu antecessor. A produção ganha bastante força no momento em que por alguns momentos deixa o público pensando duas vezes em se realmente existe um vilão nesse filme. No fim das contas, na vida real, muitas vezes nos esportes temos dos dois lados do ringue, ou da quadra, ou do campo; duas histórias que merecem ser contadas. E duas histórias que falam de dor e superação. Creed apresenta isso de forma muito clara e consegue nos entregar um longa da mais alta qualidade.

Formado em publicidade, crítico de cinema, radialista e cantor de karaokê

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