Crítica | Contra o Mundo (Boy Kills World)

Nota
3

“Está acontecendo. Sou um guerreiro em uma missão. A missão.”

Um garoto jura vingança depois de ver sua familia ser assassinada por Hilda Van Der Koy, uma ditadora que comanda uma dinastia pós-apocaliptica. Garoto, como passamos a chamar o protagonista, ficou órfão, surdo e sem voz por conta de Hilda, mas é resgatado por Xamã, um misterioso lutador, que o leva para a floresta e começa a treinar Garoto para se tornar um instrumento de morte, num processo que o obriga a lutar para reprimir sua imaginação infantil vibrante, que lhe coloca envolvido em algumas alucinações e o faz ser acompanhado pela projeção de sua mente na forma de Mina, sua finada irmã, e que cria em sua cabeça uma narração potente feita pela sua voz interior, que ele pega emprestado de seu videogame favorito. Agora que Garoto foi transformado em uma máquina de morte, chega o dia da Cerimônia de Abate, dia em que Hilda estará mais exposta a um ataque, e Garoto precisa aproveitar a oportunidade que surge para usar tudo que aprendeu, incluindo suas artes marciais caoticamente sanguinaria, e se juntar a um grupo de resistência para mergulhar na jornada que pode lhe colocar cara a cara com sua nemesis.

Criado por Armend Remmers e Moritz Mohr, o conceito de Boy Kills World foi apresentado a Sam Raimi e Roy Lee, que ficaram tão impressionados a ponto de concordar em produzir o longa, através da Raimi Productions e da Vertigo Entertainment, ao lado da Nthibah Pictures e da Hammerstone Studios. Com a proposta de misturar temas do mundo real com um visual estilizado, um roteiro fresco e uma atmosfera que lembra quadrinhos e videogames, o longa promete uma ação intensa e bastante humorada, mas vai muito além disso, o que nem sempre é tão positivo quanto parece. Parecendo uma mistura de Kill BillKung FusãoJogos Vorazes, o longa entrega uma salada diversa, um conto de vigança extravagante de uma forma deliciosamente maluca e inesperada, trazendo uma trama sangrenta que parece ter sido tirada diretamente das páginas de um quadrinho. Uma piada curiosa que o longa entrega é a forma como Garoto parece invencivel, como nenhum tiro atinge ele, nenhum golpe parece errar o alvo e seus rivais parece vir em fases, com direito a uma cutscene de transição entre as Fases de Boss, uma pegada bem interessante que parece ter sido diretamente dos conceitos dos videogames.

Bill Skarsgård protagoniza o longa com uma atuação surpreendente, é palpavel enxergar a inocencia em seu olhar e a felicidade a cada novo avanço, o que faz um contraste intenso com sua jornada assassina. É uma escolha arriscada colocar Skarsgård sem voz num filme onde o ator é o centro das atenções, mas talvez a escolha tenha haver com a proposta de transformar Garoto em um perfeito MC dos jogos, aqueles personagens que representam o jogador e nunca falam. Por outro lado, a voz potente de H. Jon Benjamin dá um ar mais forte ao narrador do longa, compartilhando conosco os pensamentos de Garoto e praticamente fazendo parecer que, em alguns momentos, ele realmente acha que está falando, mesmo que a voz não combine com a construção do personagem, o que parece ser intencional. Outro ponto de grande destaque é Jessica Rothe como June 27, a fiel defensora de Hilda e maior rival de Garoto, ela não tem uma evolução muito evidente, mas nos cativa em suas aparições, insinuando o tempo todo que há camadas na personagem e que no momento certo saberemos suas motivações, o que realmente é cumprido e se torna um dos pontos altos do longa. Quem infelizmente acaba subaproveitada no roteiro é Famke Janssen, a grande antagonista do longa, que apesar de ser tão presente na jornado de Garoto, tem tão pouco tempo de tela que não temos tempo de sentir nada pela personagem ou de conhece-la, algo que prejudica o momento de tensão que acontece no final do longa, deixando brechas que dão um ar de incompletitude ao roteiro, como se estivesse faltando explicar algo para que o desfecho seja realmente possivel de entender.

Emanando uma energia delirantemente desequilibrada, Contra o Mundo é uma mistura de ação e comédia irreverente (ao extremo) que parece fruto do cinema de hérois pós-Deadpool. O longa entrega uma vibe exageradamente insana ao ponto de se tornar cansativa, em certo ponto, e logo depois estourar os limites do inesperado e acabar se tornando bom para quem estiver disposto a não esperar um filme de ação sério, mas uma carnificina gloriosa, sangrenta e cômica. A distopia pode facilmente ganhar o posto de filme de ação mais insano de 2024 (lembrando que nesse ano ainda temos Deadpool & Wolverine para estrear, e talvez nem ele consiga ser tão insano quando o longa de Mohr), mas está claro que ele não é nenhuma obra-prima que mereça ser alçado ao alto nivel do cinema mundial. Contra o Mundo não é perfeito, mas é um grande começo para a carreira do (aparentemente promissor) Moritz Mohr, que faz sua estreia como diretor, além disso ele merece uma chance para aqueles que querem ir ao cinema se divertir com uma comédia despretenciosa, e pode ser uma boa aposta se você gosta de filmes de ação malucos com classificação para maiores.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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