Crítica | Confissões de uma Garota Excluída

Nota
4

“A verdade é que, no futuro, ninguém vai estar nem ai se você foi o popular na escola ou não… Pena que eu ainda não cheguei no futuro.”

Tetê sempre foi a garota excluída de sua escola, apesar de ser bastante inteligente. Quando o pai da garota fica desempregado, ela e seus pais precisam sair da Barra da Tijuca e se mudar para a casa dos avós, em Copacabana, o que a obriga a recomeçar em um novo colégio, onde ela precisa enfrentar novas formas de bullying, tentar fazer amigos e conhecer novos amores. Nesse novo mundo é onde ela acaba conhecendo Davi, o nerd da sala que logo vira seu amigo, Zeca, o garoto gay que não leva desaforo para casa, Erick, o surfista repetente que rouba seu coração, e Valentina, a garota popular que imediatamente coloca um alvo em Tetê, principalmente pela forma como a garota olha para Erick, seu namorado.

Baseado no livro Confissões de uma Garota Excluída, Mal-amada e (Um Pouco) Dramática, de Thalita Rebouças, o longa lançado em 22 de Setembro de 2021, pela Netflix, é o novo romance adolescente que entra para o currículo de Bruno Garotti, o diretor mais uma vez nos presenteia com um romance nacional gostoso e bem moderno, repetindo a parceria de sucesso que já fez com Rebouças em Tudo por um Popstar. A autora, que já demonstrou se sair bem com roteiros originais e adaptações, assina mais uma vez o roteiro de uma adaptação de um livro seu, dando uma boa enxugada na história de Tetê e adicionando elementos que tornam toda a trama mais dinâmica e fluida para se adequar à nova mídia. Com um humor que quebra um pouco da quarta parede e faz piada de vários clichês dos romances adolescentes, fica claro no decorrer da trama a brasilidade que a história possui, o roteiro de Rebouças e a direção de Garotti são precisos, fugindo dos padrões colegiais americanos e trazendo adaptações bem realistas dos clichês para nossas terras. O mauricinho vira a surfista de Copacabana, a patricinha vira a sem noção de classe média, e temos tantos outros elementos que se adaptam habilmente ao ponto de tirar os padrões americanos incrustrados nos clichês e ganhar composições muito mais brasileiras.

No papel protagonista, Klara Castanho mostra ser a escolha ideal para viver Tetê, uma jovem em busca de popularidade, que enfrenta os diversos desafios da adolescência e usa sua inteligência para tentar dar a volta por cima. A personagem tem toda uma construção que mostra os motivos de ela ser uma excluída e de ter orgulho disso, colocando em pauta muitos debates sobre aceitação e bullying, brincando sobre os desafios internos do crescimento mas sem coloca-los como assunto principal. Valentina (Júlia Gomes) e Laís (Fernanda Concon) são pessoas completamente diferentes, mas que ocupam um papel semelhante como as populares, elas são melhores amigas, mas o longa tenta o tempo todo mostrar que Laís é totalmente diferente do que aparenta, fazendo tudo parecer uma construção forçada para, com a evolução da personagem, nos surpreender com quem ela realmente é. Erick (Lucca Picon) pode até fugir bastante do clichê que esperávamos, mas acaba sendo o personagem mais raso e mal trabalhado do longa, dando uma justificativa forçada para o seu desenrolar e uma construção complicada, que parece deixar aberto demais a idealizações irreais do personagem.

Dando todo o suporte em tela que Castanho precisa, temos Gabriel LimaMarcus Bessa, respectivamente Davi e Zeca, os dois personagens que se aproximam mais facilmente de Tetê e que acabam sendo vetores importantes para o desenvolvimento da personagem. Gabriel vive o parceiro perfeito, que está ali para dar suporte e acolhimento para Tetê não se sentir sozinha, mas o verdadeiro peso dramático fica nas costas do personagem de Marcus, é ele quem levanta as discussões mais necessárias, sobre diferença, sobre aceitação, sobre medo, sobre mudanças e sobre autoconfiança, o personagem consegue ser o guia moral e emocional de Tetê, a ajudando a entender melhor a si mesma e não se deixar derrubar pela opinião dos outros. Balanceando ainda mais a trama, é o humor familiar que torna tudo mais fluido, tudo graças aos momentos graciosos criados pela interação de Tetê com seus pais e avós, dando um discreto alerta sobre a importância de os adultos escutarem o que os mais novos pensam, graças aos enorme talento de Rosane Gofman e Júlia Rabello.

Simples, sincero e militante, Confissões de uma Garota Excluída vai além dos desafios do crescimento, ele conversa com a atual geração, onde convivemos com múltiplas redes sociais, sobre assuntos como tecnologia, sexualidade, família, reputação e amadurecimento. Com sua atmosfera levemente oitentista, o longa usa sua linguagem informal para conversar diretamente com os adolescentes, que são seu publico alvo, mas peca ao tomar decisões narrativas bastante duvidosas em diversos momentos do enredo, o que acaba criando licenças poéticas que incomodam mais do que constroem, nos levando a presenciar cenas que destoam do longa por sua irrealidade. Trazendo reflexões precisas e que vão reverberar por um certo tempo, o longa tem um roteiro divertido, daqueles que são bons para ver no fim de semana com os amigos ou a família, mas que acaba sendo esquecível, principalmente depois da sequencia final, que vai contra todas as possibilidades e cria um ponto final oportunista demais para ser aceito pelo espectador.

 

 

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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