Crítica | Casa Gucci (House of Gucci)

Nota
3.5

“Em nome do Pai, do Filho e da Casa Gucci”

Baseado no livro Casa Gucci, de Sara Gay Forden, House of Gucci apresenta a história do conhecido caso do assassinato de Maurizio Gucci (Adam Driver), arquitetado por sua ex-esposa Patrizia Reggiani (Lady Gaga), desde seu avassalador início. Passando por grandes e perigosas intrigas e traições dentro da família que culminaram na separação do casal. O longa de duas horas e quarenta minutos de duração foi uma jogada ousada da Universal, que decidiu trabalhar com um dos casos de assassinato mais famosos do mundo da moda, mesmo assim promete bastante principalmente por seu elenco, que conta com grandes nomes como Al Pacino e Lady Gaga.

Para dirigir esta empreitada, Ridley Scott precisou fazer algo que já está bastante habituado, trabalhar as emoções e o psicológico dos personagens, ainda mais com uma trama densa e repleta de complôs por poder, mas acima de tudo ele precisa redimir-se de seu recente fracasso, o longa O Último Duelo. O que ocorre na prática é um filme sutilmente sem foco, o diretor trabalha muitos aspectos e se perde em alguns deles. Mesmo sendo de conhecimento público, afinal de contas, os olhos da mídia estavam voltados para Maurizio, o enredo do filme fica monótono em certos pontos, algo que pode ser considerado preocupante para um filme tão longo, mas que não chega a atrapalhar a experiência. Algo que incomoda bastante se deve ao fato de partes da história serem omitidos, como o tumor no cérebro da Patrizia, que foi utilizado como estratégia de defesa, e até a falta de uma das filhas que o casal teve.

A caracterização dos personagens é incrível, a semelhança entre os atores e as pessoas é um dos pontos fortes do longa, a fotografia é impecável, os ângulos foram bem trabalhados e enriquecem a experiência visual. Por fim, a trilha sonora nos transporta para os anos 80 e complementa bem aquilo que está sendo visualizado.
Gaga se entregou a Patrizia Reggiani, uma mulher que sabe usar aquilo que tem para conseguir o que quer, isto inclui seu casamento. A atriz soube mostrar as diferentes facetas da personagem, desde a doce jovem por quem o Maurizio se apaixonou e se casou, passando pela manipuladora que consegue virar pai contra filho até o seu apogeu na esposa desprezada que arquitetou com sua cartomante e melhor amiga Pina (Salma Hayek), a morte de seu ex-marido. É possível sentir a energia que ela passa, é uma força crescente e avassaladora que se destaca mesmo em meio a nomes de peso do cinema, podendo inclusive concorrer a mais uma estatueta.

Maurizio é um jovem peculiar, estudante de direito e que não se interessa pelos negócios da família. Por ser muito ingênuo, se encanta com as investidas de Patrizia e logo se apaixona por ela, inclusive discutindo com o próprio pai (Jeremy Irons), que tentou abrir os olhos do filho para as verdadeiras motivações da jovem. Adam Driver mostra um homem feliz, que ama sua esposa e vive sua vida de forma simples, mas vê essa felicidade ser destruída pela ambição de sua esposa, onde as tramas dela o levam a trair sua própria família.

Al Pacino dá vida a Aldo Gucci, tio de Maurizio e dono de metade da empresa da família, um homem que possui um grande apreço pelos negócios e principal responsável pela expansão da marca. Mesmo possuindo um grande apreço pela família, ele despreza o filho Paolo (Jared Leto), que considera ser um grande idiota, por outro lado, acolhe seu sobrinho e passa a tratá-lo como um filho merece ser tratado, o que é aproveitado por Patrizia para gerar intrigas dentro da família. Sua atuação é requintada e especial, conhecemos um homem de negócios que cria relações pelo mundo para expansão do seu império, mas também preocupado com os interesses da família. No decorrer da trama vemos a amargura e o desgosto dominarem sua personalidade, o transformando num novo personagem, mais frágil e mutilado.

Sem dúvidas um dos personagens mais peculiares é Paolo Gucci, um homem que sonha em ser um designer de moda famoso, o que lhe falta é talento. Jared Leto mescla a comicidade natural do personagem com o drama familiar pelo qual ele passa. Parafraseando seu próprio pai, “ele é um idiota”, e isto fica bem claro quando ele cai em todos os esquemas arquitetados por Patrizia, sendo jogado contra o próprio pai em busca do lançamento de sua tão sonhada coleção. À medida que o enredo se desenvolve, o personagem vai mudando, as desventuras que passa trazem amargura para o homem, que passa a odiar o primo e a sua esposa, mas sem perder seu caráter cômico.

Mesmo sendo um filme longo, parece que falta tempo para trabalhar o desfecho de Casa Gucci, o que deixa o espectador incomodado e curioso sobre detalhes da investigação e como finalmente chegaram à culpada. Mesmo com a falta de informações relevantes, o longa funciona bem, trabalhando as facetas de cada personagem e suas ambições, ainda assim, ele consegue apresentar de forma satisfatória o Caso Gucci às novas gerações.

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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