Crítica | Caixa de Pássaros (Bird Box)

Nota
3

Dificilmente alguém não ouviu falar de Bird Box em 2018. Em sua primeira semana de estreia no serviço de streaming, a produção teve cerca de 46 milhões de streams. É claro que com tanto sucesso viria um show de comentários, críticas e memes; afinal, tudo na rede viraliza desta forma.

Bird Box é baseado no livro do Josh Malerman, lançado em 2014 pela Intrínseca. No filme, conheceremos Malorie (Sandra Bullock), uma mulher grávida que se vê no meio de um apocalipse. A única coisa que se sabe é que as pessoas estão ficando loucas ao ver alguma coisa. Assim, com medo de que aconteça algo e tentando fugir do que quer que seja, ela acaba achando refúgio e vivendo sob um teto com algumas pessoas totalmente desconhecidas, mas com um fim em comum: salvar-se. Ao que tudo indica, essa coisa começou a acontecer na Europa Ocidental e chegou a Rússia. Então, provavelmente está assolando o mundo todo. E a única forma de permanecer a salvo é não ver nada.

O filme é dividido em 2 partes: (1) na primeira, vemos o presente, vemos a Malorie tentando salvar duas crianças e todos estão vendados; (2) a segunda parte, acontece 5 anos antes, quando tudo começou; conhecemos o abrigo e como tudo culminou na protagonista com as crianças fugindo para um lugar que promete salvá-los. E esse intervalo de tempo aparece em tela de modo intercalado. Então, é importante que o telespectador não perca o foco, pois um descuido… perderá parte da trama. Em relação ao mundo criado no filme, no fim, ele é apenas mal desenvolvido, e, sim, sabemos que as dúvidas que permanecem no filme ainda se mantém no livro, onde tudo é sensorial e a tensão é constante; já no filme, isso acontece somente quando a criatura está próxima ou quando envolve uma decisão: “quem vai tirar a venda para ver o que teremos pela frente?”. Só faltou pôr a opção de o assinante escolher e transformar a produção em algo interativo.

A Sandra Bullock está perfeita ao interpretar a Malorie. A atriz mostra que está muito segura da personagem. Ao lado dela, temos a sua irmã, interpretada por Sarah Pulson, que, apesar de passar míseros 10 minutos em cena, entrega uma personagem ótima e consegue passar o medo somente olhando para o além, para a criatura. E não podemos falar nada parecido sobre os outros personagens, que são reduzidos a: o velho chato, o gordo medroso, a mulher corajosa, o bonitão que age como líder da equipe etc. Todas essas relações são mal desenvolvidas e superficiais com direito a personagens que são esquecidos no meio da trama. E se formos pegar algum desses personagens para serem analisados de maneira mais específica, temos a policial corajosa, cheia de atitude e que, quando vê que o fim do mundo se aproxima, aceita transar com o primeiro cara que aparece na frente (mesmo tendo dado início de que seria uma personagem bem diferente dos esteriótipos), inclusive é o cara punk que acha que transar é a única forma de aproveitar seus últimos momentos. No fim, percebemos que a mulher forte e destemida que venderam no início do filme era só uma mulher que precisa de um homem para se sentir segura. Escorregou legal, hein, Netflix! Também é assim que surge o relacionamento entre a Malorie e o Tom, onde tudo começa com uma resposta dela a um flerte do “homem corajoso e gato do grupo”, e ele responde: “ você seria uma babá gostosa”. O filme peca ao criar relações superficiais e hipersexualizadas.

Mesmo problemático, Bird Box cumpre o seu objetivo: entreter e gerar números. Afinal, foi o que o serviço de streaming fez na primeira semana de lançamento da adaptação. Porém, um filme bastante problemático em tudo: nas relações, no mundo criado e, principalmente, no que diz respeito às criaturas, por isso usa cenas de suicídio a cada minuto para justificar algo que ninguém sabe o real motivo. Se quer ter uma experiência realmente interessante, aconselho ler ao livro.

Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.

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