Nota
Sem dúvida, uma surpresa deveras agradável o filme solo do irmão caçula dos Autobots. Quando anunciado, Bumblebee foi alvo do comum e até compreensível achismo de que mais um filme da franquia Transformers iria estourar nas bilheterias, mesmo sem identidade própria ou nada do que já não tenho sido feito nos longas de Michael Bay.
Felizmente, e isso graças principalmente ao fato de Bay – sem tirar o mérito do cineasta ser expert em fazer dinheiro, ao contrário de assumir uma boa direção – não estar do comando do filme e assumir ao lado do grandioso Steven Spielberg a produção, Bumblebee se diferencia das demais adaptações cinematográficas dos famosos robôs alienígenas da Hasbro por dispor de uma identidade interligada à nostalgia e ao eficiente desejo de ser clichê e piegas na medida certa, para cumprir a premissa de se identificar com os saudosos “filmes de Sessão da Tarde”.
Na trama, o ano é 1987 e a história gira em torno de Bumblebee, um Autobot que procura refúgio na Terra após uma guerra entre os Decepticons em seu planeta natal, o Cybertron, e da jovem Charlie (Hailee Steinfeld), que sonha em consertar um carro que pertenceu ao seu falecido pai e encontrar seu lugar no mundo. Quando as histórias do robô e da adolescente se cruzam, os dois começam uma grande amizade e vivem altas aventuras.
A direção bem equilibrada de Travis Knight torna Bumblebee uma produção consideravelmente agradável de se prestigiar. A condução das cenas de ação aqui, diferente da saga Transformers, é bem detalhada e se apega ao belo no lugar do frenético, deixando a adrenalina de lado e focando na boa composição de cena, fotografia, sombras e luzes. Além disso, não existe no longa o patético costume de arranjar qualquer pretexto para inserir piadas e personagens com humor besteirol, tampouco o exacerbado patriotismo, que puxa para um nacionalismo cafona.
Em vez destes elementos destrutivos, há uma leveza por trás da trama, que se utiliza dos clássicos de Steven Spielberg e John Hughes, ET: O Extraterrestre e Clube dos Cinco, para dar aos personagens carisma, motivação e emoções. Aliás, o apelo emocional não chega a ser barato e, por mais que pareça jogado à trama, faz sentido no momento em que o público consegue encontrar na personagem a radiante e simpática Hailee Steinfeld uma identificação.
Dotado de inúmeras referências e uma contagiante trilha sonora dos anos 80, o filme consegue cativar os fãs da série animada e, ao mesmo tempo, o público mais jovem que tem uma ligação especial com o vintage. Todavia, o excesso de saudosismo e músicas em qualquer momento de descontração ou interação de Charlie com o carro-robô deixa a produção por vezes maçante, como se estivesse constantemente repetindo no seu ouvindo o que ela pretende passar para o público, sendo que já entendemos isso desde a primeira cena.
É fato afirmar que a escala de elenco para Bumblebee, mesmo sem ter grandes nomes conhecidos, a não ser os de Hailee Steinfeld e John Cena, foi uma das mais agradáveis possíveis. Stenfield passa para o público bastante confiança e simpatia enquanto Cena, mesmo na pele de um estereotipado militar durão, mantém-se no personagem e expressa de fato preocupação perante uma possível invasão alienígena. O personagem de Jorge Lendeborg Jr., o vizinho Memo, aparentemente seria mais do mesmo de um típico alívio cômico esquecível, mas, à medida que o filme se desenrola, ele se prova alguém necessário para gerar a tal simpatia do público para com os personagens. No elenco de vozes, temos Dylan O’Brien, como o personagem título, Angela Basset, como a vilã Decepticon Shatter, e Peter Cullen, que mais uma vez empresta a voz ao icônico Optimus Prime.
Pouco inovador, porém diferente ao ter apego pelo nostálgico e cheio de carisma, descontração e emoções bem equilibradas, Bumblebee é tudo que os filmes da franquia Transformers (com exceção do primeiro filme, que teve um resultado positivo) jamais conseguiram ser: divertido sem passar dos limites e fazer jus ao nome que está levando.
Lucas Rigaud
Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.
