Crítica | Bob Marley: One Love

Nota
3.5

Bob Marley: One Love traz um recorte importante da arte de Bob Marley, contudo permanece na superfície da história do artista. Dirigido por Reinaldo Marcus Green, a cinebiografia já inicia com Bob Marley (Kingsley Ben-Adir), enquanto artista conhecido na Jamaica, enfrentando as problemáticas políticas e sociais do seu país nos anos 70, desencadendo muita violência e mortes em decorrência de uma grande circulação de pistoleiros nas ruas. O filme preza por uma abordagem não tão convencional de biografias, haja vista o espectador não acompanhar a vida do cantor desde o início, mas sim um recorte de sua época de ascensão artística até sua morte, acompanhado de flashbacks da sua juventude e o romance com Rita Marley (Lashana Lynch). Fica perceptível, dessa forma, que a obra foca muito mais no propósito, mensagem de paz, justiça social e amor que Bob Marley quer passar através da sua arte.

O seu relacionamento com a Rita, contudo, é tão pouco aprofundado quanto diversos fatores em Bob Marley: One Love. Dando tanta ênfase na conexão existente entre os dois, contraditoriamente, muitas vezes, o espectador se sente perdido no que diz respeito à relação entre eles. Quando Bob Marley se muda para Londres com sua banda, e ele está no telefone conversando com a Rita, afirmando que precisa dela por perto, a câmera mostra uma outra mulher por trás. Contudo, apesar de ser fato que Bob Marley tenha se relacionado com outras mulheres, em nenhum momento isso é confirmado na obra, tudo é apresentado de uma forma bem vaga. Em outra cena, o artista demonstra ciúmes de Rita quando ela conversa com outro homem, eles têm uma discussão bem dramática, porém o espectador não sabe se estão juntos, se terminaram mas ainda há sentimentos, fica tudo extremamente nebuloso. O filme deixa bastante perceptível, entretanto, a importância de Rita na vida de Bob Marley enquanto apoio para tudo, incluindo a sua carreira, e principalmente no caminho para adentrar no Movimento Rastafári.

A atuação fabulosa de Kingsley Ben-Adir consegue capturar muito bem a relação do artista com o Rastafári. Tendo em vista o objetivo principal da obra ser refletir acerca das mensagens trazidas através da arte de Bob Marley, o espectador consegue compreender bem as raízes do Reggae na tradição Rastafári. Dessa forma, é abordada a jornada do cantor adentrando na religião e como ela é o alicerce principal de sua carreira e propósito de vida. O filme, portanto, traz diversas falas importantes do artista, principalmente sua demonstração da relevância da visão de pessoas enquanto unidade, e o uso da sua existência enquanto ferramenta para ajudar a humanidade. Diante de um período de tantas guerras, Bob Marley luta incessantemente para promover a paz, principalmente na Jamaica, onde ele perdeu diversas pessoas importantes e sua vida por conta da violência. Dessa forma, fica evidente como a obra consegue retratar bem a mensagem por trás de toda a vida e carreira de Bob Marley.

Assim, o grande foco de Bob Marley: One Love foi cumprido, contudo capturar a vida de um artista que revolucionou um povo, popularizou o gênero musical Reggae e foi premiado pela ONU, de forma resumida e pouco aprofundada acaba por banalizar parte de sua história. A questão do tempo também é um fator que influencia muito, uma hora e quarenta minutos para falar da vida de Bob Marley é muito pouco. Quando se analisa, por exemplo, a cinebiografia mais recente de Whitney Houston, I Wanna Dance With Somebody (2022), de duas horas e vinte e seis minutos, além de ser mais aprovada pelo público, quem não conhece nada da história da artista sai da sala de cinema sabendo bastante. Já Bob Marley: One Love, mesmo com uma ótima direção de arte, fotografia e atuação, torna-se pouco aprofundado pelo próprio roteiro que encurta a trajetória da vida de Bob Marley, deixando os espectadores terminarem o filme com diversas lacunas, que não foram respondidas pela obra.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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