Crítica | Besouro Azul (Blue Beetle)

Nota
4

“Y a mucha honra. Jaime la del Barrio soy “

Jaime Reyes, um jovem mexicano recém-formado, volta para casa cheio de planos para o futuro, buscando seu próposito no mundo e acaba descobrindo que sua familia está em apuros devido aos planos de Victoria Kord e suas Indústrias Kord. Tentando ajudar os seus a pagar as dividas e não perder a casa, ele acaba indo trabalhar para a Kord e, por um acaso do destino, acaba sendo testemunha de uma briga entre Victoria e sua sobrinha, Jenny Kord, o que o aproxima da jovem herdeira e coloca em seu caminho uma antiga relíquia de biotecnologia alienígena, conhecida como Escaravelho, que o escolhe como hospedeiro e lhe dá uma armadura super poderosa com poderes. Agora que Jaime atralhou os planos de Victoria, precisará enfrentar desafios imprevisíveis para ajudar Jenny, proteger sua familia, se proteger de Conrad Carapax e entender os poderes que ganhou ao se tornar o Besouro Azul.

Recentemente a DC passa por um periodo de bastante incerteza nos cinemas, sabemos que os recentes The Flash e Adão Negro tentaram a todo custo salvar o já existente universo, mas que a chegada de James GunnPeter Safran colocou em risco a continuidade desses e muitos outros projetos iniciados do estudio, sendo Besouro Azul um deles. Dirigido por Ángel Manuel Soto e com roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer, o longa consegue ir fundo da mitologia do personagem e nos brindar com nada discretas referencias ao universo da DC nas HQs, trazendo o passado de Ted Kord, incluindo Dan Garrett nesse universo, e nos contextualizando com a existência de Batman, Superman e Flash em paralelo com Jaime. O longa ainda se fortelece disfarçando a dificuldade em trazer inovações para o gênero com bastante coração, emoção, diversão e cultura latina, algo que falta, e muito, nas diversas produções cinematográficas da DC. Toda a apresentação dos personagens pode soar como gênerica, mas o longa decide quebrar a atmosfera ao finalizar o primeiro ato com uma agil, e bastante gráfica, contextualização da história do Escaravelho na Terra e até antes de chegar nela, dando a grata surpresa ao não só introduzir o Escaravelho do Besouro Azul mas vários outros dos Escaravelhos criados pelos Reach (apesar da raça alienigena não ser citada no longa).

Um filme com protagonista latino, diretor latino e roteirista latino não daria outra coisa, a produção é uma verdadeira exaltação ao sangue latino, fazendo duras críticas ao imperialismo americano, representado pela antagonista do filme (interpretada pela americana Susan Sarandon), e a transformando numa encarnação perfeita do poderoso executivo que dizima países subdesenvolvidos em busca de suas riquezas, tanto que Victoria está desabrigando as familias latinas do bairro de Jaime para expandir o imperio das Indústrias Kord. Outro grande ponto da produção, que parece um claro aceno aos preconceitos de Hollywood, é o fato de termos um elenco majoritariamente formado por latinos, dando ainda mais holofotes à comunidade latina e hispânica que vive nos Estados Unidos. Com um humor  que brinca com a paixão por novelas mexicanas e o universo do seriado Chaves, o longa mostra que as características típicas da América Latina conseguem sustentar bem o filme e até podem ser tornar o ponto alto do longa, falando o tempo todo com um discurso sobre familia, não é à toa que a familia de Jaime ganha um espaço de tela absurdo, com cada membro sendo descascado igualitariamente e fortalecendo a trama, talvez até tendo mais tempo de tela que Sarandon.

Xolo Maridueña prova que foi a escolha perfeita para o papel. Cativante e carismático, o ator constroi um personagem que é amado por sua familia, que tem uma grande papel na construção e motivação do Besouro, e vai passando por todos os clichês do primeiro contato live-action de um héroi de uma forma agradavel. Os outros personagens da familia Reyes são maravilhosos em tela, George Lopez é insano como o louco Tio Rudy, assumindo praticamente o papel de Nerd da Cadeira do sobrinho, e Adriana Barraza é excepcional como a Nana, que nos surpreende com seus segredos do passado e quebra completamente o estereotipo da velhinha frágil ao se mostrar a mais durona da familia. Raoul Trujillo assume um ponto complicado ao interpretar Carapax, um personagem que parece superficial e clichê demais no decorrer do filme, que não se assemelha muito a sua base nos quadrinhos, mas que, em certo momento do filme, passa por uma evolução acelerada ao ganhar uma história inedita surpreendente, que mesmo que justificada pelo roteiro merecia muito mais tempo de tela. Bruna Marquezine é outra que merece seu devido destaque, que aproveita com todas as forças sua primeira chance no mercado internacional como uma personagem que vai muito além do interesse amoroso do protagonista, apesar de ter uma ótima química com Maridueña, ela atua de forma potente, convicente e carismatica, arrancando o melhor de sua personagem de forma organica, mas infelizmente surgem claros problemas na construção de Jenny no filme, a personagem parece claramente criada para que Marquezine tivesse um papel na DC, mas não tem uma construção muito solida dentro da trama, sem muitos ganchos que justifiquem sua criação, só resta agora Hollywood notar a brasileira e dar oportunidades melhores para ela mostrar seu talento.

Divertido e envolvente, Besouro Azul parece ter exatamente o que faltava nas produções da DC e merecia muito mais atenção, ele acaba sendo menosprezado em meio a tantos grandes nomes e perde a oportunidade de trazer algo mais marcante em sua história, mas convence muito com seu elenco, sua comédia e toda a emoção que carrega em seu drama, trazendo o melhor do clichê das novelas mexicanas para um filme de super-heroi. É mega divertido os paralelos que Milagros Reyes cria entre a história de Jaime e Maria do Bairro (da clássica novela mexicana María la del Barrio) ou os comentarios que Tio Rudy solta em relação ao hérois. Pode até parecer puxassaquismo, mas é possivel até enxergar claras referencias nos filmes da Marvel, que vão fazer qualquer pessoa sair do cinema sentindo que acabaram de ver a versão DC de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, e até pode ser normal sentir que que Besouro Azul segue os passos de Shang-Chi e Pantera Negra ao apostar em personagens mais etnicos colocados nas mãos certas de cineastas que podem extrair o melhor dos personagens.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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