Crítica | Barbie

Nota
4.5

“Esse é o melhor dos dias, assim como ontem e amanhã e todos os dias para sempre”

Na Barbieland todas as Barbies acreditam na mudança que fizeram no mundo real, e graças a elas todas as meninas podem sonhar alto e serem quem desejam ser, assim como crescerem para ser mulheres de grande liderança. Neste mundo perfeito, todas as bonecas possuem seu papel, seja ele de diplomata, presidente ou até mesmo médica… Como poderia uma delas começar a ter pensamentos de morte? Como esses sentimentos poderiam afetar esta personagem tão autossuficiente? Após tudo começar a ruir no seu dia (que deveria ser perfeito), Barbie (Margot Robbie) precisa ir para o mundo humano tentar entender de onde tudo isso está vindo, e como resolver seu problema para poder voltar a ser o estereótipo perfeito que sempre foi. O longa é a grande aposta da Warner para 2023, o que criou grandes expectativas durante toda a sua produção e a pergunta mais importante a ser feita é: a expectativa e a realidade entram em choque ou dialogam entre si?

O enredo é de uma simplicidade muito bem-vinda, mas obviamente com todos os aspectos que apenas sua diretora, Greta Gerwig, conseguiria trazer. A trama bem linear usa de uma das bonecas mais conhecidas da história para tratar daquilo que a Barbie propõe, feminismo, afinal de contas o slogan é “você pode ser o que quiser”, mas se sabe que na realidade em que vivemos não é bem assim e mulheres precisam se esforçar o triplo para conseguir o mínimo. Obviamente não é algo novo, afinal Adoráveis Mulheres já trouxe esse questionamento assim como muitos outros filmes, mas de certa forma, há algo familiar em filmes da Greta: o protagonismo feminino na sua forma mais pura, sem a necessidade de alegorias e que apenas uma mulher que valoriza as demais poderia trazer.

A fotografia do longa é belíssima, impossível não se encantar com o mundo de plástico da Barbie, um dos destaques é sua cena de abertura, que referencia à perfeição um dos trechos mais icônicos da historia do cinema, 2001: Uma Odisseia no Espaço, quando os macacos encontram o monólito. Outro deles é a grandiosa cena do balé do Ken, que bebe quase que por completo do efeito technicolor trabalhado em Cantando na Chuva (1952), é quase como se fossemos jogados de volta para 1952 (só que em alta resolução) em uma cena clássica e atemporal. Já a coreografia e figurino desta cena remetem muito a um dos musicais mais clássicos do cinema, Grease (1978). O design de produção é digno de um Oscar, tudo perfeitamente executado e muito bem pensado, assim como a trilha sonora, que completa toda a experiência e tem seu ápice ao som de “What I Was Made For?”, da cantora Billie Eilish.

Margot Robbie é sem dúvidas a queridinha do momento, e com razão já que seus últimos trabalhos renderam muitos elogios, com destaque para Eu, Tonya (2017), cujos aspectos remetem mais ao que foi entregue no longa atual, já que o tom melancólico da boneca é bem profundo e intenso. Barbie é o estereótipo da boneca que é caracterizada por ser magra, loira e viver uma vida perfeita, mas tudo que ela conhece parece mudar quando começa a ter pensamentos sombrios, difíceis de entender e que demandam a ajuda de alguém que já lidou com isso, a Barbie Estranha (Kate McKinnon), que a orienta sobre o que precisa fazer. Partindo para o mundo dos humanos, ela entra ainda mais em conflito quando descobre que a realidade não é igual ao que ela imaginou.

Kate McKinnon, como a Barbie Estranha, dá vida a uma boneca que sofreu com sua dona e acabou rabiscada e com os cabelos cortados, mas essa experiência trouxe uma espécie de transcendência para ela, assim possuindo o papel de sábia ou guia para sua xará em apuros encontrar a solução para seu problema. Trazendo momentos cômicos, a atriz entrega um timing perfeito para as piadas e situações em que está inserida, mas sem perder o ar místico que seu papel demanda.

America Ferrera é Gloria, uma mulher comum que trabalha como secretária do CEO da Mattel (Will Ferrell) e que comprou uma Barbie para sua filha (Ariana Greenblatt) quando ela era criança e juntas se divertiram muito, só que a medida que a garota foi crescendo, também foi se afastando de sua mãe e da sua amada boneca. Gloria então se vê no meio de uma confusão envolvendo sua filha e uma mulher que diz ser a personagem mais importante da empresa em que trabalha. America entrega uma personagem cheia de camadas que, aos poucos, vão se mostrando e desenvolvendo-se de uma forma que prende e encanta o espectador.

O Ken… bem ele é só o Ken, um boneco cuja única função é existir para agradar a Barbie onde seu dia só é feliz se a boneca o notar. Ryan Gosling vive o momento e se deixa levar pelo seu personagem, um grande paspalho que faria de tudo para chamar a atenção da sua amada, mas que nunca tem sua chance, afinal de contas ele não é o único e precisa competir com o Ken (Simu Liu) para receber os olhares que tanto quer da Barbie. Obviamente não deve haver mal ele acompanhar ela em sua jornada ao mundo real e descobrir certas diferenças com a Barbieland, não é?

Sendo assim, Barbie entrega uma ótima experiência, que definitivamente vai agradar quem é fã da boneca, mas pode ser um pouco difícil para quem não conhece muito, já que referências a vários produtos da marca são referenciados durante a trama. Outro aspecto negativo é que seu elenco de peso fica subutilizado já que não há tempo de tela suficiente para desenvolve-los, mas esse fato não atrapalha a experiência e a mensagem que Greta consegue passar. No geral é um filme grandioso, que sabe não se levar a sério demais, fazendo com que o espectador fique deslumbrado enquanto recebe uma aula sobre o mundo feminino.

“Só há um final para os humanos… Ideias vivem para sempre”

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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