Crítica | Amor, Sublime Amor (West Side Story) [1961]

Nota
4

“Life can be bright in America. If you can fight in America. Life is all right in America… If you’re all-white in America.”

No lado oeste de Nova York, à sombra dos grandes arranha-céus, ficam os guetos dos imigrantes e da classe menos favorecida. Em meio às sombras, duas gangues disputam seu espaço, seguindo seu próprio código de honra e guerra: os Jets, formados por brancos de origem anglo-saxônica liderados por Riff (Russ Tamblyn), e os Sharks, uma gangue porto-riquenha liderada por Bernardo (George Chakins), que vivem entrando em conflito com a policia local.

Mas, nem todos pensam dessa maneira. Durante um baile organizado para apaziguar as relações entre as gangues, Tony (Richard Beymer), o antigo membro e criador dos Jets, conhece e se apaixona por Maria (Natalie Wood), a irmã do lider dos Sharks, que corresponde ao seu amor. Enquanto a paixão dos dois floresce, a disputa entre as gangues piora, tornando-se uma crescente sem precedentes que pode destruir tudo aquilo que conhecem. Seria o amor suficiente para conter o ódio ou nem mesmo ele pode impedir aquilo que se mostra inevitável?

Quando pensamos em amor proibido imaginamos o clássico Romeu e Julieta, com um sentimento tão puro e jovial que conseguiu florescer mesmo em uma guerra entre famílias que estavam determinadas a se destruírem. Agora, imagine essa trágica história inserida em uma Nova York caótica dos anos 50, aprofunde a historia ao trocar as poderosas famílias por gangues menosprezadas e acrescente um cenário musical que existe para criticar a sociedade na qual esta inserida.

Dirigido pela dupla Jerome Robbins e Robert Wise, Amor, Sublime Amor (ou West Side Story no original) é baseada em um musical de mesmo nome, que se tornou um estrondo sucesso na Broadway. Adaptado por Ernest Lehman, Arthur Laurents e pelo próprio Jerome, o longa trouxe para as telas uma revolução cinematográfica para os padrões musicais de Hollywood, em uma época experimental que procurava inovar e reinventar tudo o que tinha em mãos.

O longa incorporou aspectos puramente teatrais, aproveitando cores, luzes e cenários para construir sua narrativa, trazendo um deslumbre visual repleto de uma vivacidade impar. Mas não era só no visual que o filme procurava inovar. Seus temas fugiam do convencional, encarando uma realidade mais dura e cruel que fazia parte do cotidiano de uma minoria da comunidade americana. Racismo, machismo, estupro são alguns dos temas explorados, assim como a constante humilhação sofrida pelos imigrantes em solo americano. Mas, ao mesmo tempo que acerta em sua temática, o filme sofre com alguns maus da época.

Um exemplo é o embranquecimento da personagem vivida por Natalie Wood que, por ser a mocinha da historia, não poderia carregar os traços de sua origem. Maria é a única porto-riquenha interpretada por uma branca, para se desassociar da imagem criada para seus companheiros e construir um aspecto de pureza acima dos demais. Note que Maria é a única imaculada entre o elenco, que não faz parte de uma gangue e muito menos faz vista grossa para isso, enxergando a tolice nas constantes brigas entre as gangues e transcendendo as barreiras raciais impostas a ela. É dela o discurso reflexivo no final do longa, que nos marca profundamente e é dela a ultima imagem que teremos da jornada.

Todos os outros personagens são estereotipados, expondo a violência dos menos favorecidos que levam a guerras sem motivos. Riff e Bernardo são a melhor representação, mostram do que não sabem o porquê continuam com as atitudes destrutivas, mas não possuem força suficiente para parar, sempre tentando provar o seu argumento. E, embora ambos possuam as mesmas atitudes, são tratados de formas distintas pelo Tenente Schrank (Simon Oakland), que se mostra mais complacente com os participantes brancos da confusão.

Richard Beymer convence no papel de Tony, trazendo uma boa química com a protagonista, embora não seja um dos grandes destaques do elenco. Esse fica por conta de Rita Moreno, que encanta a todos com sua Anita. Moreno rouba cada uma das cenas em que aparece, aproveitando todas as camadas de sua personagem e fazendo-a aflorar perante o publico. Suas performances são avassaladoras e despertam arrepios, mostrando todo o poder que ela guarda em si.

O longa ainda nos apresenta uma trilha incrível composta com todo o cuidado. É impossível não se encantar com as músicas e as performances bem construídas, que marcaram não só o cinema como o teatro musical. Tonight, Maria, I Feel Pretty e Somewhere são marcos musicais, mas gostaria de destacar duas canções que se destacam nas ótimas obras aqui apresentadas.

A primeira, e talvez mais conhecida, é a magnífica America que traz uma batalha de ideologia entre mulheres e homens porto-riquenhos. A autocritica presente nesse momento é de tirar o folego, trazendo um dos melhores momentos de todo o longa. Enquanto as mulheres narram as vantagens de se estar nos Estados Unidos, os homens tem uma visão mais dura sobre o sonho americano.

As dificuldades passadas por ambos e o tratamento que os imigrantes tem no pais são uma temática tão forte que nos acerta como um soco no estômago, trazendo uma letra repleta de ironia, sobre tudo aquilo que a sociedade os faz passar diariamente. A segunda é a eloquente Gee, Officer Krupke, onde os Jets tentam achar mil motivos para usarem como desculpas para suas atitudes, apenas para concluírem que o defeito é puramente deles. Mais uma critica bem construída que não pode passar despercebida.

Embora tenha seus problemas, é inegável que Amor, Sublime Amor se tornou um marco revolucionário no cinema musical. Ganhador de 10 Oscars, incluindo melhor filme, o longa conseguiu ser abraçado não só pela crítica como pelo público, trazendo temas importantes que merecem ser discutidos enquanto transborda com uma energia avassaladora e bem coreografada.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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