Crítica | A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom )

Nota
4.5

Summary

“Esse mundo seria vazio sem o blues. Eu tento pegar esse vazio e preenchê-lo com alguma coisa. Não inventei a forma de cantar o blues, ele sempre existiu. Mas se querem me chamar de mãe do blues, por mim, tudo bem.”

Na Chicago de 1927, a artista pioneira, Ma Rainey (Viola Davis), se prepara para a gravação vespertina de seu novo disco. Enquanto esperam a chegada da lendária Mãe do Blues, sua banda é enclausurada em uma claustrofóbica sala de ensaios onde se preparam para fazer seu trabalho. Mas o ambicioso trompetista Levee (Chadwick Boseman) tem outros planos, o que incita seus colegas a uma erupção de contos, histórias e vivências que colocam suas perspectivas sobre um novo ângulo.

Enquanto uma serie de erros consiste em atrapalhar a gravação, o clima esquenta e a tensão alcança seu ápice, eclodindo em uma batalha de vontades que traz a tona tudo aquilo que estava encoberto.

Em um ano conturbado e repleto de manifestações sobre a importância da população negra, o texto de August Wilson cai como uma luva para retratar a sua presença na história norte-americana. Não é a toa que George C. Wolfe tenha programado, originalmente, sua nova narrativa para estrear em junho desse ano, reforçando ainda mais o Black Lives Matter e toda a discussão racial que se espalhou pelo mundo. Acontece que, por escolha dos produtores, o longa teve que ser adiado, chegando ao público apenas em dezembro pela Netflix.

Dirigido por Wolfe e brilhantemente readaptado pelo roteirista Ruben Santiago-Hudson, A Voz Suprema do Blues reaviva aspectos históricos sobre a vivência afro-americana no Sec. XX, trazendo diferentes pontos de vistas que nos atinge de várias maneiras. O longa se baseia na peça homônima de Wilson, colocando seu público em um cenário claustrofóbico e abafado onde tudo parece crescer até atingir o ápice.

Wolfe sabe aproveitar bem as dinâmicas impostas, focando no brilhantismo de seu elenco e no poder das expressões corporais dos mesmos, enquanto expõe cenas memoráveis que mudam drasticamente quando menos esperamos. O diretor passeia pelos ambientes, nos colocando no cerne da história e se aproveitando de cada detalhe. Nos sentimos espremidos e suados, como se o ambiente conseguisse transpor a tela e alcançar nossa posição privilegiada de expectadores, enquanto nos prende a sua narrativa de maneira exemplar.

Viola Davis é uma força avassaladora, impondo sua presença com sua postura imponente e a voz poderosa. Seus olhares, tons e posicionamento trazem a tona o poder de uma mulher que lutou para chegar ao seu lugar no mundo e não está disposta a ceder nem um pouco de sua posição àqueles que a desafiam. Chega a ser hipnótico assistir a sua atuação, trazendo toda vivacidade e força necessária para uma personagem tão marcante quanto Ma.

Do outro lado da moeda temos o egocêntrico Levee, que marca a última atuação de Boseman de uma maneira memorável e grandiosa. Chadwick consegue compor um misto de emoções transitando com facilidade entre os múltiplos humores do personagem. Sua vivacidade e carisma constrói extremos de uma maneira crua e impecável que mostra toda suas qualidades artísticas. É inegável a sua entrega à persona aqui criada, demostrado o cuidado e paixão que ele consegue impor enquanto rouba a cena e nossa singela atenção.

Tanto Ma quanto Levee não aceitam  injustiças, e trazem tantas semelhanças em suas diferenças. Suas vozes são marcantes no enredo, construindo visões diferentes para pessoas injustiçadas, que aprenderam desde cedo como é ser usadas e descartadas pela sociedade. Uma combinação perfeita e explosiva que nos soca no estômago a cada nova cena.

Repleta de uma construção memorável e atuações marcantes, A Voz Suprema do Blues nunca soou tão precisa e necessária. Usando seus planos para engradecer seus atores, o longa traz uma veracidade em seu texto que acerta em cheio o público, nos apresentando críticas precisas de vozes que cansaram de serem caladas e usadas socialmente. Atemporal e encantador, o filme nos golpeia com força enquanto constrói uma obra-prima que deve ser lembrada durante muitos anos.

“Certo meninos, vocês já viram o resto. Agora mostrarei o melhor. A Ma Rainey mostrará a vocês o Black Bottom.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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