Crítica | A Profecia (The Omen) [1976]

Nota
4

“A criança está morta…”

Robert Thorn era o embaixador americano no Reino Unido quando sua esposa, Katherine, entrou em trabalho de parto, a noite em que seu filho nasceu morto e, para não entristecer sua mulher, ele aceitou adotar um órfão recém-nascido, que ele fingiu ser seu filho e batizou de Damien Thorn. Cinco anos se passaram, e aos poucos o garoto começou a apresentar comportamentos estranhos, que levam o Padre Brennan a contatar Robert, alertando que Damien tem um segredo obscuro, um segredo que vai começando a deixar o cético Robert alerta quando o homem percebe que está acontecendo uma série de mortes bizarras de pessoas ligadas de alguma forma à Damien.

Nascido na sexta hora do sexto dia do sexto mês daquele ano, Damien pode parecer um garoto inocente, mas na verdade ele foi eternizado como a mais popular personificação do Anticristo. Um garotinho inocente poderia ser a maior encarnação do mal? Seria ele realmente o responsável por todas aquelas mortes? Aos poucos o filme vai construindo uma tenebrosa aura ao redor de Damien, deixando clara a poderosa obscuridade que envolve esse garoto e os marcantes símbolos que o circundam, que surgem desde o discreto cachorro sanguinário e vão até a complacente babá demoníaca. Damien é uma grande criação do roteiro de David Seltzer, e acabou encontrando nas mãos do diretor Richard Donner a melhor tradução que se poderia imaginar. O longa vai, pouco a pouco, nos levando a fundo no culto que existe ao redor do garoto, apresentando seus guardiões, seus seguidores e seus opositores, criando uma trama tão clara e tão mística que vamos, vagarosamente, vendo a maldade por trás do olhar inocente de uma criança.

É impressionante o desempenho que Harvey Spencer Stephens tem na produção, ele assume o papel protagonista do mal encarnado em forma de criança ao viver Damien, o anticristo de cinco anos. A trama pode dar todo o tom necessário para cada uma das cenas, mas é a atuação impecável de Harvey que faz o filme ser transformado de uma maneira absoluta de um filme de suspense para um verdadeiro terror, capaz de arrepiar até os mais fortes. O anticristo de Harvey não é puro mal, ele é uma criança inocente como qualquer outra, mas é as nuances do roteiro que fazem vermos esse garoto normal como uma força completamente diferente de ‘inocente’. O roteiro e as câmeras fazem um jogo detalhista, deixando as cenas chaves serem executadas de uma forma que o publico enxerga a maldade em Damien, mas as pessoas ao seu redor são incapazes de notar as expressões que o garotinho demonstra, o verdadeiro tempero final que faz da sua atuação um verdadeiro show.

Além do brilhantismo de Harvey, temos que dar os devidos créditos à maravilhosa trilha de Jerry Goldsmith, que ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (o único Oscar da carreira do compositor) e prepara o clima de cada cena com músicas cheias de nuances góticas e religiosas, capazes de dar um tom mais chamativo ao desenrolar da trama e de chamar a atenção para as ‘maldades’ causadas pela presença do garoto em certos ambientes. Ao lado de Harvey, temos o brilhantismo de Lee Remick Gregory Peck, interpretes dos pais do garoto. Enquanto Lee protagoniza cenas de intenso desespero, como o ataque dos babuínos, fica para Gregory as principais cenas de ação e aventura, como o transporte do garoto para o ponto onde se deve acontecer o ritual para libertar a terra do anticristo. Com pesados 110 minutos, o longa segue o padrão lento do cinema da década de 70 mas consegue construir um filme que fica marcado na memória de quem assiste, garantindo seus espaço na história com as icônicas mortes e uma mitologia muito bem planejada, que se expande ainda mais quando somos apresentados a Bugenhagen, na viagem a Israel, nos puxando por uma trilha capaz de endeusar o ato final do longa e, por incrível que pareça, criar uma surpreendente finalização, criando um dos desfechos mais gostosos e imutáveis da história do terror.

“Não tenha medo, pequenino. Estou aqui para vos proteger.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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