Crítica | 2020 Nunca Mais (Death to 2020)

Nota
4.5

“- É a retrospectiva do ano. Vamos rever os eventos de 2020
– Por que diabos você quer fazer isso?”

2020 foi um ano único, aparentemente interminável e cheio de assuntos a ser debatidos, e é com a ajuda de especialistas, políticos, poderosos, monarcas, cientistas, psicólogos e cidadãos comuns que devemos sentar agora a refletir sobre tudo o que aconteceu nesse ano, tudo sobre a ótica daqueles que realmente viveram esse ano com todos os seus eventos, desastres e alegrias (?). Comandado pelo repórter da The New Yorkerly TimesDash Bracket, vamos a fundo dos eventos desse ano em entrevistas muito relevantes com os maiores expoentes da atualidade, como o historiador Tennyson Foss, o bilionário Bark Multiverse (CEO da Shreekr), o cientista Pyrex Flask, a comum Gemma Nerrick, a porta-voz não oficial do governo Jeanetta Grace Susan, a maternal Kathy Flores, a psicóloga Dra. Maggie Gravel e o digital influencer Duke Goolies.

Criado em forma de mockumentário, o longa é um evento de comédia comandado pela insana mente de Charlie Brooker e protagonizado por ninguém menos que Samuel L. Jackson, no papel de Dash Bracket. Ao longo da produção vamos vendo uma mistura de elementos da vida real, entrevistas com famosos reais e cenas puramente roteirizadas, que nos apresentam a uma série de ‘especialistas’ em diversos assuntos, que nada mais são do que grandes nomes da comédia tirando sarro dos eventos reais que aconteceram nesse ano devastador. Podendo facilmente ser dividido em dois grandes polos, a série é guia pela majestosa narração de Laurence Fishburne, que vai pontuando cada um dos grandes eventos catastróficos de 2020, com certas pitadas de piadas, e vai nos levando a ouvir as mais inescrupulosas opiniões de cada um dos entrevistados, que nada mais são do que piadas muito bem pontuadas para equilibrar o pesadíssimo clima que vai inundar qualquer retrospectiva de 2020. O historiador vivido por Hugh Grant é superior, ele consegue expor de forma inalterada eventos assustadores como se fossem comuns ao dia a dia, como o fato do quase impeachmeant de Trump após sua 407ª crise de governo, o mesmo pode ser elogiado do acido repórter vivido por L. Jackson, que trata com escarnio os eventos que, para nossa surpresa, pareciam uma catástrofe em janeiro e só agora, em dezembro, percebemos o quanto eram uma besteira, como a pequena distração que surgiu, que ficou conhecida como Terceira Guerra Mundial.

“Isso quase deu início à Terceira Guerra Mundial. E ainda é a porra de Janeiro.”

Depois de passarmos pela temporada de incêndios florestais australianos, pelo discursos ambientais de Greta Thunberg no Fórum Econômico Mundial e pela quase eclosão da terceira guerra mundial, somos levados até o Reino Unido, quando estávamos chegando ao Brexit e uma crise atingiu o Palácio de Buckingham, muito conhecido por conta da série The Crown, levando o príncipe Harry e sua esposa, Meghan, a deixarem a família real britânica, tudo isso sendo contado de forma bem clara pela extremamente receptiva Rainha Elizabeth II (vivida por Tracey Ullman). Mas o verdadeiro evento de 2020 começa pouco tempo depois, quando surge um vírus em Wuhan, que assusta os médicos locais antes de matá-los e obriga os médicos ocidentais a ficarem vendo tudo a distancia, pelo seu próprio bem, o que nos leva aos braços carismáticos do cientista de Samson Kayo, que se esforçou muito para entender como o vírus infectou os humanos, mas acabou tendo o empecilho de os morcegos não quererem contar. E é nessa vibe que vamos pouco a pouco conhecendo as personalidades poderosas, como o egoísta bilionário vivido por Kumail Nanjiani (uma precisa sátira a Mark Zuckerberg), a cidadã ordinária desconfiada e racista de Diane Morgan, a defensora ferrenha e conservadora de Lisa Kudrow (distorcendo a realidade para se encaixar em sua opinião política), a representação perfeita do estereótipo de Karen feita por Cristin Milioti, a psicóloga comportamental sem papas na língua de Leslie Jones, e o representante da geração millennial iludida de Joe Keery. É importante inclusive salientar a importância de um dos momentos mais tocantes do longa, quando vemos a máscara cair de uma forma majestosa e escutamos as opiniões cruas de L. Jackson e Jones sobre o movimento “Black Lives Matter”, uma verdade dolorosa que toca fundo em nossa alma como ferro em brasa, e que fica marcado mesmo após as piadas racistas (claramente de humor negro) proferidas pelos personagens de Grant e Milioti.

Nos levando por uma retrospectiva que explana a fundo eventos de todo o mundo, como a festa de celebração aos cineastas brancos chamada Oscar, que esse ano transformou a coisa que realmente importa para o ocidente em desastre após dez mil brancos serem desbancados por um sul-coreano, ou o verdadeiro drama que atingiu o ocidente durante a tentativa de Impeachmeant de Trump, que serviu como pontapé para o inicio da corrida eleitoral e para vermos que a polarização é um mal que vem afetando os Estados Unidos e o mundo real, o longa brinca o tempo todo com os eventos mais dramáticos que aconteceram durante esse terrível ano, nos fazendo rir verdadeiramente da nossa desgraça e ao vermos que tudo é uma questão de ótica. Quem diria que falar sobre a Quarentena seria algo tão divertido antes de ouvir que ela se tornou um sucesso mundial maior que o UCM? Quem acharia que o fechamento dos cinemas ou o fracasso de Tenet poderia ser tratado de um forma tão superficial sem nos ofender? 2020 Nunca Mais pode não ser perfeito, mas ele sofre pelas suas próprias limitações (temos um grupo de comediantes americanos e britânicos falando sua visão do ano) que nos levam a ver muito foco nos eventos do EUA e da Inglaterra, mas quando entramos nessa experiência sabendo que a proposta do longa é exatamente essa, o incomodo acaba ficando de lado e fica claro que, literalmente, o ano se resumiu a corona vírus e eleições americanas e policia racista, o que nos faz enxergar que estamos de frente a uma comédia extremamente necessária, banhada de humor mórbido e desconfortável, e capaz de pegar pesado na ironia e mostrar (e debochar) da falta de inteligência que circunda a politica, o racismo, os dissipadores das fake news e os conservadores.

“2020, um ano tão especial que tem 20 em dobro.
Um ano cuja retrospectiva atrasou por que ele nunca acaba.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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