Review | Diablero [Season 1]

Nota
4

Há muitos anos atrás, existia um equilíbrio no mundo, para cada demônio existe um anjo para o combater e para cada anjo existe um demônio rival, mas os tempos mudaram, os anjos julgaram a humanidade, seres ruins, e sumiram, mas os demônios não, eles seguem na terra, e para proteger a humanidade existem os Diableros, caçadores de demônios que lutam dia após dia para cumprir o trabalho que os anjos abandonaram. Elvis Infante é um desses caçadores, ele vem de uma longa linhagem de Diableros e tem uma vida agradável, caçando demônios para ganhar dinheiro e para pagar uma dívida que tem com El Indio, faltam só mais 12 demônios para pagar esse poderoso mafioso, um homem que lidera uma lucrativa rinha de demônios e já foi um grande Diablero.

A vida de Elvis muda quando Keta, sua irmã, o chama para ajudar um padre, Padre Ramiro Ventura, que acabou de descobrir que uma namorada do passado teve uma filha com ele e que essa filha foi levada por um demônio, um demônio poderoso que pode ter uma ligação com o desaparecimento de Mayaken, o filho de Keta que foi sequestrado há anos atrás. Ao lado desse trio temos Nancy Gama, uma garota que aos oito anos invocou seu primeiro demônio e matou seu pai, uma aliada de Elvis que tem o poder de absorver demônios em seu corpo e invoca-los na hora em que precisa.

Fundindo o mistério sobrenatural e muitos sustos, temos ainda uma trama polêmica envolvendo a igreja e o gigantesco tabu das filhas ilegitimas de padres. Ramiro é construído de forma a se tornar uma vítima da igreja já que ele nunca quis abandonar sua filha, mas foi levado a isso quando Morelo, seu cardeal, escondeu a existência da garota na intenção de não afastar o jovem da sua vocação religiosa, e seu personagem é ainda mais fortalecido pelo trabalho de Christopher Von Uckermann, já imaginou ver o Diego de Rebelde como padre? Em Diablero é possivel. A trama ainda se completa com a misteriosa Mamá Chabela (interpretada por Dolores Heredia), uma mulher que surge em defesa das crianças sequestradas pelo demônio, mas que esconde tantos segredos que nos deixa o tempo todo indecisos entre se ela é realmente boa ou má. No plano de fundo de toda  a trama, temos uma demônio sequestrando crianças bastardas, filhas de padres, por uma nefasta causa, um ritual extremamente poderoso e perigoso.

Diablero seria uma série terrível se fosse feita com seriedade, mas não é. Sua trama, que mistura comédia e terror com uma pegada super trash, é o tipico exemplo do ‘é tão ruim que é bom’, mas tudo isso só é possivel por conta de seu roteiro tão bem trabalhado, que soube extrair o melhor da premissa de  F.G. Haghenbeck, sendo nada fiel ao material original mas surpreendendo ao trabalhar bem essa nova roupagem. Os efeitos, apesar de incômodos em certos momentos, são o tempero da trama, culminando na rinha de demônios de “Leg of a Dog, Heart of  a Chicken” (episódio 2) e o demônio de “Red Sky” (season finale), mas a forma como a série consegue encaixar humor nas situações mais tensas são perfeitas para quebrar aquela tensão que as cenas de terror deixam e também para compensar o peso que vemos no momento que a série trata dos assuntos polêmicos envolvendo religião e crenças.

É preciso acima de tudo dizer que falta holofote para Giselle Kuri, que interpreta tão bem a Nancy e tem um jogo de cintura estupendo ao representar uma garota com tantos traumas e ao mesmo tempo tão forte e tão sensível, ela nos cativa e ficamos com vontade de abraçar e dizer que tá tudo bem, ela nos deixa com vontade de protege-lá em uma redoma de vidro pra ninguém mais machuca-la, e a relação que surge entre ela e Ramiro é tão singela e inocente, que nos faz shippar os dois e esquecer que estamos torcendo para um relacionamento entre um padre e uma garota possuída.

No final só nos resta parabenizar o trabalho bem feito que a série possui, usando suas limitações para fazer piada e cutucando a ferida que abre em nossas mentes com muita precisão. São apenas oito episódios, mas ele cria uma mitologia tão bem construída que as brechas nos deixam entusiasmados para ver uma segunda temporada, que inclusive já foi confirmada pela Netflix, e, mesmo com essas brechas, o show segue sem deixar buracos, mostrando que as brechas são propositais, são pequenos pontos deixados para trás como sementes para serem regadas no futuro da trama, e para nos deixar com ainda mais vontade de ver seu segundo ano. E por falar em vontade de ver o segundo ano,  “Red Sky” consegue ainda deixar um buraco gigantesco para ser preenchido no formato de trama da segunda temporada, nos preenchendo com milhares de perguntas para resolver e depois nos jogando numa cena final cheia de significados, pegando uma teoria que a série nos leva a acreditar e jogando no lixo, ao mesmo tempo que nos deixa uma cena inteiramente sem explicações e tão cheia de potencial.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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