Crítica | Hereditário (Hereditary)

Nota
4.5

“Às vezes, eu sinto que tudo está arruinado.”

Após a morte da avó reclusa, a família Graham sofre mudanças crescentes. Annie (Toni Collette) sente que sua mãe não partiu, mantendo-se presente em seu convívio e rondando seu lar como uma sombra funesta que assombra a família. Principalmente próximo da pequena Charlie (Milly Shapiro), a solitária neta caçula que era muito próxima da matriarca.

Enquanto estranhos acontecimentos começam a invadir sua vida cotidiana, um terror crescente se apodera da família, fazendo-os explorar lugares obscuros e descobrir segredos macabros sobre seus antepassados. Determinados a escapar do infeliz destino que herdaram, os Graham mergulham em algo mais funesto, que pode despertar horrores inimagináveis dentro de seu próprio lar.

A história do cinema sempre se vangloriou de seus filmes de terror, explorando universos macabros e trazendo momentos de pura agonia para os amantes do gênero, principalmente quando tais obras mergulham em um ambiente que deveria soar seguro e acolhedor, despertando tudo aquilo que mais tememos: o seio familiar. Sabendo disso, Ari Aster escolheu uma família quebrada para ser o cerne de seu longa de estreia, passando não só a dirigir mas também roteirizar o projeto. Renegando seus princípios sóbrios e naturalistas, o roteiro traz um ótimo trabalho em quebrar as expectativas e subverter as mensagens passadas ao público, mesclando temas como luto e perda com o lúdico aterrorizante que só uma obra bem construída pode causar.

Logo nos primeiros minutos Hereditário mostra a que veio, trazendo um traveling extremamente sádico entre os cenários do longa e as obras de miniatura orquestradas por Annie. A metanarrativa de Aster mostra-se tão brilhante que ele nos apresenta seus elementos ao longo da primeira metade, de maneira clara e objetiva, mas que só farão sentido quando ele assim desejar.

Um dos fatores mais marcantes é a boa divisão de seus atos, tomando seu próprio tempo para nos imergir em sua narrativa caprichada. Na primeira parte acompanhamos as reações adversas que uma morte pode causar, seja na falta de choro ou pela busca de um entre querido, tudo é construído para desestabilizar a base sólida em que eles se apoiam. O que entra em contraste com a segunda metade, que toca em sentimentos mais viscerais, trazendo antigas feridas de volta enquanto escancaram o que o silencio guardou por tanto tempo.

Os aspectos sobrenaturais são apresentados aos poucos, de forma gradativa e sufocante como uma figura que aguarda nas sombras de nossa mente. A fotografia aterradora e o uso espetacular das luzes, para imergir ainda mais seus personagens nas sombras, traz o tom necessário para atordoar o espectador. Algo ainda mais notável é feito com os efeitos sonoros, que aumentam sua intensidade ao passar da trama, ou somem completamente em momentos chaves, como na cena mais memorável do longa.

Toni Collete entrega uma personagem fascinante, que transborda todos os elementos para nos prender na cadeira. Com uma atuação visceral, a atriz aprofunda toda carga emocional necessária, trazendo à luz momentos magníficos, que se intensificam com seu auto controle corporal. Milly Saphiro faz sua estreia de maneira magnifica, marcando o filme com sua construção bizarramente mórbida, que nos deixa tensos desde o primeiro momento. Seus tiques e instrospectos ditam a trama, trazendo o compasso e acentuando a estranheza promissora. Alex Wolff e Gabriel Byrner tem atuações mais seguras, embora Wolff consiga extrair melhor a essência disfuncional de seu Peter, principalmente na segunda metade do longa, quando ele ganha espaço para isso.

Incomodo e imprevisível, Hereditário não só nos surpreende como nos mergulha em sua jornada. Fugindo do convencional, o longa tem todo elemento necessário para se tornar um clássico instantâneo. Mostrando-se uma obra memorável, que nos entrega um banquete tão indigesto quanto saboroso, o filme atravessa seu gene hereditário e nos acompanha por muito tempo após seu final, quase como uma estranha presença que insiste em ficar mesmo quando não solicitada. Simplesmente brilhante.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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