Review | The Circle Brasil [Season 1]

Nota
4.5

“Até onde você é capaz de ir para ser popular?”

Nove jogadores são levados a um hotel, cada um em seu quarto isolados do resto do mundo e do resto dos jogadores, tendo apenas o Circle, um programa de interação social controlado pela produção, para que eles interajam entre si, através de testes e mensagens de textos públicas ou privadas. Cabe agora a cada um criar seu perfil, através das fotos e das impressões causadas nas mensagens e testes, visando se tornar popular, conquistar os outros jogadores e garantir o posto de mais popular da edição, o posto que vai garantir um prêmio de 300 mil reais no final do jogo.

Trazendo para o Brasil a experiencia feita pela Netflix e que foi sucesso nos EUA, The Circle é um reality-show onde cada participante pode escolher se querem ser eles mesmos ou viver um personagem, mudando sua personalidade ou até sua identidade, permitindo até se tornar um Fake dentro do jogo para garantir sua vitória. Semanalmente os jogadores votam para escolher os mais populares, garantindo um ranking ao final de cada episódio, o que será usado para definir os Influencers da semana, que serão os dois mais populares da avaliação, com o poder de escolher entre os outros jogadores quem deve ser Bloqueado, ou seja, ser removido do programa e substituído por outro participante. The Circle é muito mais que um jogo, é uma batalha pelo trono de mais popular, onde cada jogador deve escolher o que pretende mostrar de si próprio e o quanto de seu verdadeiro eu precisa esconder para não ser eliminado.

Logo no primeiro episódio somos apresentados aos nove jogadores iniciais: Marina, uma carioca de 25 anos que decide usar suas fotos mas fingir ser uma cantora de 22 anos; Ana Carla, uma modelo e DJ paraibana de 22 anos que assume completamente sua identidade; Rob, um ogro paulista de 34 anos que resolve assumir a identidade de sua amiga Júlia, uma paulista bissexual e solteira; Gaybol, um gamer profissional paulista de 26 anos que vai jogar como ele mesmo; João Akel, um mineiro de 20 anos que resolve usar suas fotos mas fingir ser um médico de 30 anos; Paloma, uma paulista lésbica de 26 anos que resolve jogar fingindo ser seu melhor amigo, o Lucas, um hétero de 25 anos; Lorayne, uma paranaense de 22 anos que resolve jogar sendo ela mesma; Raphael Dumaresq, um gay potiguar de 24 anos que resolve jogar expondo-se completamente; e JP, um bombeiro pernambucano de 31 anos que resolve jogar sendo quase completamente sincero, mudando apenas sua idade para 28 anos.

Aos poucos vamos vendo a construção de cada perfil, com diversos joguinhos obrigando cada participante a mostrar mais de si ou de seu personagem, criando novas impressões e dando sua cara a tapa, tendo inclusive um momento de interações anonimas, onde os participantes podem destilar seu veneno para provocar ainda mais seus concorrentes. Tudo isso vai se intensificando a medida que vemos as substituições acontecerem, nos apresentando: LucasMarcel Blazute, gêmeos acreanos de 30 anos que entram para jogar juntos como Luma, uma linda mulher de 27 anos que usa as fotos de uma influencer acreana que já foi a Miss Acre; Ray, uma dançarina amazonense de 22 anos que entra no jogo fingindo ser solteira e ter 25 anos; Rafael Vilar, um carioca de 37 anos que entra para se passar por Ana, uma escritora gordinha e feminista de 35 anos que usa as fotos da melhor amiga do Rafael; e Renan, um paranaense de 30 anos que entra para ser ele mesmo, mas finge ter 26 anos.

É incrível como todos os participantes, até mesmo aqueles que são fakes, possuem camadas que nos surpreendem e nos fazem ver que eles são muito mais do que mostram por fora. A forma como Ana Carla sofre por conta de sua aparência é tão real que nos surpreende, vemos um lado não discutido da beleza, quando uma pessoa, por ser bonita, é imediatamente taxada de fake, fútil ou burra; Temos também a personalidade de Marina e Dumaresq, que se mostram tão expansivos e inabaláveis mas possuem um coração de ouro, e uma história tão inspiradora; Temos ainda a relação que surge entre Lorayne e Akel, nos fazendo ver o quanto duas pessoas sem contato e nem saber se são reais podem se conectar de uma maneira tão impar e sincera, fazendo qualquer pessoa shippar imediatamente os dois. Durante essa edição somos forçados a refletir sobre o quanto as redes sociais podem ser cruéis em vários momentos, o quanto vivemos num mundo onde a aparência sempre conta mas, se dermos uma pausa para escutar quem realmente cada um de nossos ‘amigos’ são intimamente, podemos ser surpreendidos ao descobrir quantas pessoas maravilhosas existem ao nosso redor, que são o tempo todo forçados a viver debaixo de mascaras para conseguir transitar na sociedade sem ser julgado.

Contando com doze episódios de cerca de 45 minutos, a versão brasileira do The Circle US traz participantes que parecem estar bem dispostos a mudar completamente o conceito de estrategia, indo mais fundo no jogo, investindo pesado nas mentiras e nos fakes, e prontos para ser falsos e estrategistas sem ter medo, talvez um país tão treinado pelos conceitos do BBB seja o campo perfeito para um jogo onde personalidade, estrategia e falsidade possa ser uma grande arma na busca por um grande prêmio no final. O show ganha novos tons nas terras tupiniquins, tocando ainda mais fundo nas feridas de todos, nos levando a auto-reflexões sobre os conceitos de caráter, identidade e consciência emocional, nos fazendo ter que rever os limites de manipulação e até onde somos capazes de ver além das aparências e de ter honestidade.

Ao contrario da versão americana, no Brasil o programa não é apresentado por uma comediante, mas fica nas mãos de Giovanna Ewbank, que consegue dar conta do recado, soltando pequenas piadas e balanceando os climões que surgem cada vez que um participante abaixa suas defesas e se abre. The Circle é, com toda a certeza, um programa que traz novos ares aos realitys locais, e que poderia render ótimos frutos se fosse colocada nas mãos da Globosat, sendo adaptado para um grande programa na TV aberta que com toda a certeza seria bem popular.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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