Nota
“Anna e Elsa precisam saber a verdade. É a única coisa que as salvará”
A chegada de Elsa e Anna, diretamente de Arendelle, marca uma nova fase na série, ao mesmo tempo que expande o universo encantado para além dos contos tradicionais revisitados até então. Inspirada pelo fenômeno Frozen, a Parte A da temporada mergulha nos laços familiares das irmãs reais e no impacto que sua chegada tem em Storybrooke. Mais do que isso, a série ousa ao continuar a história do filme da Disney exatamente de onde ele termina, dando sua própria versão dos eventos posteriores — uma versão que, mais tarde, se provaria completamente distinta da sequência oficial lançada pela Disney anos depois. Porém, ao contrário do que poderia ser um simples fan service, a série consegue costurar bem o enredo das duas personagens ao universo já existente, ao mesmo tempo em que aprofunda a construção emocional de Emma e traz novos vilões com uma carga dramática potente.
Se a primeira metade é movida pela tentativa de Elsa reencontrar Anna e compreender os poderes que carrega, a segunda metade da temporada — chamada Queens of Darkness — abre espaço para o retorno de Malévola e a chegada de Cruella De Vil e Úrsula, formando um trio de vilãs marcantes que promete desafiar o legado de redenção que vinha sendo construído por Regina e Rumple. O interessante aqui é o quanto a série mergulha nas ambiguidades morais de seus personagens. Regina, agora completamente em busca de redenção, precisa lidar com a própria escuridão ao mesmo tempo em que tenta manter Robin Hood por perto. Já Rumple segue em sua eterna dança entre poder e vulnerabilidade, sendo talvez o personagem mais imprevisível da série até então.
A estrutura dividida em duas partes permanece como um acerto, permitindo que o ritmo da série seja mais dinâmico e que cada arco tenha tempo para se desenvolver de forma mais concentrada. A Parte A, apesar de visualmente impactante e emocionalmente delicada, peca um pouco na repetição de temas e na demora para desenvolver certos conflitos. Já a Parte B surge mais viva, com vilãs que trazem uma energia nova à série e criam embates mais intensos, ainda que o trio não receba o mesmo aprofundamento de antagonistas anteriores, como Zelena ou Pan.
Emma começa a tomar para si o centro dramático da narrativa. A jornada de autoconhecimento que já vinha sendo construída nas temporadas anteriores começa a ganhar contornos mais densos, especialmente com a introdução do conceito do Autor e o embrião do arco de escuridão que será desenvolvido futuramente. A atuação de Jennifer Morrison também cresce, acompanhando a curva dramática da personagem. Por outro lado, a presença das personagens de Frozen — embora bem integrada — gera uma sensação de que a série flerta com um certo oportunismo, se aproveitando do sucesso do filme. Ainda assim, os roteiristas conseguem entregar emoção, especialmente na relação entre as irmãs e no paralelo que se traça com Emma e sua dificuldade de se abrir para os outros.
Visualmente, a temporada impressiona, especialmente nas sequências mágicas ligadas aos poderes de Elsa e nos efeitos relacionados ao clímax do arco da Rainha da Neve. A trilha continua competente e os figurinos, principalmente de Cruella, ganham destaque por evocar com perfeição o ar clássico da vilã da Disney com uma pegada mais sombria e cínica. A performance de Victoria Smurfit como Cruella, inclusive, rouba a cena em muitos momentos, trazendo um humor ácido que contrasta com o drama dos demais personagens.
Apesar de algumas irregularidades e da sensação de que certos plots poderiam ter sido mais ousados, a quarta temporada de Once Upon a Time mantém o bom nível da série e entrega episódios que equilibram emoção, magia e dilemas morais. A trajetória de Regina segue sendo um dos pilares mais fortes da série, com Lana Parrilla dominando cada cena em que aparece, enquanto o fim da temporada prepara o terreno para transformações profundas, prometendo levar Emma a um território até então inexplorado.
“Quanto mais você tenta ajudar, mais a minha vida fica pior”
Icaro Augusto

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.