Review | La Casa de Papel [Season 1 – Parte 1 e 2]

Nota
4.5

“Meu nome é Tóquio. Mas quando essa história começou, eu não me chamava assim”

Depois de um assalto mal sucedido e da perda do seu grande amor no processo, um jovem garota acaba sendo salva de uma emboscada da polícia por um homem misterioso. O homem, que responde pelo codinome de Professor, a convida para se juntar a ele num dos mais singulares planos de assalto da história: assaltar a Casa da Moeda Real da Espanha e sair com 2,4 bilhões de euros.

Respondendo agora pelo codinome de Tóquio, ela se junta a Denver, Moscou, Nairóbi, Rio, HelsinqueOslo e Berlim, outros sete grandes nomes do crime, que também possuem seus próprios codinomes, suas próprias histórias, suas próprias motivações e suas próprias habilidades. Em meio a um sequestro que durou onze dias, que teve 67 reféns, entre eles a filha do embaixador do Reino Unido, e muitas reviravoltas, somos levados a conhecer cada um dos membros do bando e cada mínimo detalhe dos planos do Professor, que parece estar sempre pronto para cada movimento da polícia e para lidar com cada deslize de sua equipe. Se tornando rapidamente a série de língua não inglesa mais assistida da Netflix, em 2018, e uma das mais assistidas no geral, a produção elevou completamente a carreira de seu elenco.

Criada por Álex Pina para a rede de televisão espanhola Antena 3La Casa de Papel surgiu como um drama policial com cerca de 15 episódios, planejado como uma minissérie dividida em duas partes, a primeira com nove episódios e a segunda com seis. A produção acabou tendo seus direitos de distribuição adquiridos pela Netflix, que decidiu readaptar a duração dos episódios para transformar a primeira parte em 13 episódios, de cerca de cinquenta minutos de duração, e a segunda parte em 9 episódios, com cerca de quarenta minutos de duração, que acabou sendo lançados como se fossem duas temporadas na versão do streaming. Subvertendo completamente o gênero, o show coloca todos os holofotes nos sequestradores, nos conectando com eles e transformando-os nos heróis da história, nos cativando a torcer por eles e desejar que o plano dê certo a cada nova reviravolta.

Professor, vivido por Álvaro Morte, é frio e calculista, é ele quem está coordenando todo roubo e aparando todas as pontas soltas no decorrer do sequestro, é ele quem negocia com a policia e quem precisa regular a tensão da equipe dentro da Casa da Moeda, mas ele acaba evoluindo no decorrer dos episódios, expondo uma humanidade que foge da primeira impressão que ele passa, e que só o engrandece no show. Outro grande destaque da trama é a Nairóbi de Alba Flores, um grande ícone feminista em meio ao machismo que exala no roubo, ela é espontânea e carismática sem deixar de ser firme, e é justamente essa Nairóbi que nos cativa, a mãe que deseja reencontrar o filho, a guerreira que não vai deixar nenhum companheiro fraquejar, a coordenadora que conquista até seus reféns a seu favor. Quem também desponta é a explosiva Tóquio de Úrsula Corberó, uma jovem sem rumo que acaba encontrando em meios ao ‘bando de amigos com nome de cidades’ uma família, que tem medo e é humana ao mesmo tempo que é determinada e apaixonada, é ela quem narra a história e é ela quem nos garante que tudo deu certo no final, e que o que realmente importa não é o roubo ou o resultado, mas o que cada um deles viveu e quem cada um dos sequestradores era antes de entrar naquela Casa da Moeda e como eles saíram.

Surpreendente na medida certa, La Casa de Papel prova que toda a fama e o alvoroço em volta de seu enredo é justo, a série pode não ser perfeita, mas ela está longe de ser superestimadas. Repleta de cenas inteligentes, apesar de algumas parecerem convenientemente previstas, a série é inteiramente dedicada a nos fazer admirar o Professor e seu bando, criando inúmeras camadas no decorrer de seus vinte e dois episódios e nos emaranhando cada vez mais em sua trama. Seria mentira dizer que o filme está imune aos clichês e às comodidades do roteiro, como a imunidade incomoda de Arturo Román, o falta de vigilância com Alison Parker  ou a inocência extrema de Rio, mas tudo isso praticamente passa batido quando levamos em consideração todo o roteiro que está sendo construído ao redor dessas inconsistências ou quando somos inundados pela agradável trilha sonora que acompanha o show, e que acabou colando uma certa música antifascista entre as mais tocadas do verão europeu de 2018.

“Que comece o matriarcado!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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