Review | Infinity Train [Book 2]

Nota
5

“Eu sou de um lugar chamado O Vagão Cromado…”

Desde que foi libertada por Tulip de sua ‘prisão’, Tulip Espelho, ou TE, segue vagando pelo Trem em busca de encontrar sua nova identidade, ao mesmo tempo que precisa fugir de Mace e Sieve, os Policiais do Espelho designados para caça-la e leva-la de volta ao mundo dos reflexos. Depois de se transformar completamente, para deixar de ser uma replica de Tulip, e viver sua fuga alucinante se escondendo de tudo que possa ter reflexo, ela acabou encontrando a paz em um vagão incomum, onde conheceu um cervo mágico e acabou cruzando o caminho com Jesse Cosay, um outro humano aprisionado no trem, que precisa zerar seu número para voltar para casa e acaba por se tornar o novo companheiro de viagem de TE.

Lançada em 6 de janeiro de 2020, a segunda temporada da série criada por Owen Dennis, para o Cartoon Network, assume um novo ponto de vista sobre os mundos que compõe o Trem, chegando até a mostrar as consequências que os atos de Tulip tiveram na sociedade dentro do Trem. Expandindo a mitologia do Trem Infinito, começamos a nova temporada vendo como está funcionando a nova gestão de One-One, muito mais amigável e clara, diferente de como era a vida no Trem na época de Amelia, que recebe cada um dos Passageiros com um vídeo de apresentação e nos dá uma nova visão sobre o papel do Maquinista, tudo isso enquanto nos guia por uma viagem ainda mais profunda na personalidades de seus protagonistas. A trama homenageia sua origem o tempo todo, principalmente com a chegada de “The Lucky Cat Car” (2×06), onde vemos a volta da maioria dos habitantes do Trem que cruzaram com a Tulip Original em sua jornada, como A GataNancyRandallGreige, entre outros, e até de seres da jornada de TE, como é o caso de Terrence, O Sapo. Intitulado Livro 2 – Reflexão Quebrada, os dez novos episódios, de cerca de 10 minutos, vai mais fundo na evolução e desconstrução da Tulip Espelho, dando uma alma para a garota ao mesmo tempo que a faz abrir seu coração para um novo, e verdadeiro, amigo, tudo isso enquanto nos leva mais a fundo daqueles que a circundam e nos apresenta a tenebrosa Apex.

Logo de cara vemos o dilema da Tulip Espelho e sua busca por uma identidade, e é justamente durante essa busca que vamos aprendendo sobre as Leis do Espelho e a origem dos Bota Cromadas, questões que tocam profundamente na essência dela, de Mace e de Sieve, nos levando a conhecer o funcionamento do mundo dos espelhos, construindo uma subtrama distópica que nos envolve, nos faz entender os medos e motivações da garota sem identidade. Jesse é o passageiro da temporada, mas ele acaba se tornando um suporte na jornada de autoconhecimento de TE, fazendo a garota se sentir mais humana, entender o significado de amizade e passar por todo o processo que todo passageiro deveria passar até zerar seu número. Mas mesmo sendo um suporte na jornada de TE, Jesse também vive sua própria jornada pessoal, ele precisa rever seus atos, seu passado, a forma como se diminuiu e se humilhou para agradar aos outros, ele também precisa encontrar sua identidade e encontrar suas motivações, isso o faz crescer enquanto conhecemos cada uma das suas camadas, inclusive a culpa pelo que fez com seu irmão, Nathan. Nessa temporada, assim como na anterior, também temos um personagem incompreendido que serve como alivio cômico, o cervo mágico que é batizado pela dupla de Alandrácula. Alandrácula não fala, mas age de uma forma decidida, ele é um companheiro inseparável para a dupla e os ajuda sempre que possivel, também os deixando na mão nos momentos que eles mais precisam, o que acaba sendo a fonte de toda a piada.

O antagonismo da temporada fica a cargo de Mace e Sieve, os dois agentes que estão fazendo de tudo para levar TE de volta ao mundo dos espelhos, se tornando mais como impulsionadores da jornada do que realmente vilões, uma característica que parece deixar claro que nesse novo enredo não existem verdadeiramente mocinhos ou vilões, tudo foge do lugar-comum ao nos apresentar personagens cinzas, literal e figurativamente, personalidades com falhas e qualidades como qualquer ser humano, que são movidos por suas crenças e pelo sistema da sociedade em que forma criados, fica claro o quanto os Bota Cromados acreditam vitalmente nas Leis do Espelho, o que faz com que eles não sejam exatamente os vilões no seu ponto de vista, assim como fica claro o quanto TE busca fugir das regras que tanto podaram sua existência, ela cansou de viver a vida de outras pessoas e agora quer lutar para ter sua própria vida.

Toda essa densidade pode até mesmo ser vagamente enxergada na Apex, um grupo rebeldes que não acredita que One-One seja o verdadeiro Maquinista, que chegaram ao Trem durante a gestão de Amelia e não sabem a verdade por trás da tomada de poder da mulher. Tudo nessa nova temporada de Infinity Train parece apontar na flexibilidade moral que é intrínseca à humanidade, ele quebra completamente o clichê do bem e do mal quando nos dá um vislumbre da dualidade moral de cada pessoa, chegando ao ápice na brutal cena em que TE comete um assassinato. O show de Dennis brilha, mesmo sendo parte de um catalogo de um canal infantil, ao trazer debates que podem confundir a mente até dos adultos, apresentando mocinhos teimosos e antagonistas com sentimentos e atitudes justificáveis, uma verdadeira escala acinzentada de moral por onde Tulip Espelho, Jesse, Mace, Sieve e até One-One parecem transitar.

“Se o meu tempo nesse vagão me ensinou alguma coisa, é que os sapos sempre são chutados.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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