Resenha | A Cidade Sinistra dos Corvos

Nota
5

“Para Beatrice –
Quando estávamos juntos, eu ficava sem fôlego.
Agora, foi você quem ficou.”

Violet, Klaus e Sunny Baudelaire já passaram por poucas e boas em sua curta vida. Mas uma das piores foi serem traídos por alguém em quem confiavam. Esmé Squalor, antiga tutora das crianças e sexta consultora financeira mais importante da cidade, mostrou-se uma víbora rancorosa ao ajudar o Conde Olaf a executar um plano nefasto e transportar o único amigo que os órfãos Baudelaire possuem.

Desacreditados, os Baudelaire são acompanhados mais uma vez pelo Sr. Poe para um novo lar. Dessa vez, o bancário decidiu escrever os órfãos em um programa de tutoria, baseado no aforismo “É preciso uma cidade para educar uma criança”, onde órfãos são enviados a essas cidades e todos os habitantes os educam em conjunto. Enquanto encaram receosos essa possibilidade, os órfãos se deparam com uma curiosa cidade com um nome bastante peculiar: Cultores Solidários de Corvídeos ou C.S.C.

Determinados a descobrir o que significa a misteriosa sigla, eles escolhem a cidade como sua tutora e se preparam para encarar o que o futuro lhes reserva. Mas, como esse é um relato das crianças mais desafortunadas que conheço, nada será fácil. Um mal entendido complica ainda mais as suas vidas e pode mudar de uma vez por todas o rumo da desastrosa vida dessas crianças.

Se você parou nessa resenha por um acaso do destino, ou veio até aqui em busca de um motivo para continuar a ler essa triste saga, eu vós peço para que pare imediatamente. Existem coisas mais alegres e divertidas nesse site, leituras que divertirão vocês e dariam uma boa distração ao seu dia a dia. Talvez, algumas ótimas dicas de como passar um bom tempo de folga ou apreciar um momento de silêncio. Sinceramente, eu não consigo achar um único motivo plausível para que você continue essa desprazerosa leitura, mas, caso você persista, não diga que não foi avisado. As desafortunadas vidas dos Baudelaire estão prestes a entrar numa decadência assustadora.

A Cidade Sinistra dos Corvos marca o sétimo volume da pessimista saga narrada por Lemony Snicket e é um verdadeiro divisor de águas na vida dos Baudelaire. Se nos volumes anteriores tivemos a mesma trama, com leves toques para diferenciá-los um dos outros, nesse temos uma quebra drástica de tudo que foi repetido nos anteriores. Com a saga se encaminhando para sua metade final, estava mais do que na hora de Snicket balançar um pouco as coisas e deixar o leitor chocado com os acontecimentos que se seguem.

Parando para analisar, foi uma jogada genial. Criando uma repetição contínua nos volumes anteriores, em que coloca o leitor em uma calmaria proposital para que, enfim, possa trazer um novo aspecto para a saga que nos deixa extremamente curiosos sobre o que está por vir. A construção da curiosa cidade é divertida e irritante ao mesmo tempo. C.S.C. já cria uma expectativa frustrante por ter essa sigla misteriosa que tem acompanhado os Baudelaire por boa parte da sua jornada, e o leitor espera descobrir ao menos uma pista sobre o que diabos realmente significa tudo aquilo. A Cidade é presidida por um Conselho de Anciões, que fazem valer as inúmeras regras da cidade. É ai que entra outra forte crítica social do autor, são tantas regras que elas se contradizem em tantos pontos que se você obedecer uma está desobedecendo outra, criando um sistema falho e confuso.

Lemony sempre soube brincar bem com esses dilemas e nesse livro não seria diferente. A cidade, que deveria cuidar e educar as crianças, usa as mesmas como empregados e tem pouco zelo para com os mesmos. Tendo em vista uma visão bem distorcida de proteção e cuidado que toca em um ponto bastante doloroso para alguns pais e tutores por aí. Além das fortes críticas, a cidade tem uma das melhores referências literárias da saga. Dominada por corvos que migram pelas diferentes partes da cidade, conforme o dia avança, e terminam o fim da tarde na Árvore do Nunca Mais, uma referência brilhante ao mestre Edgar Alan Poe e seu poderoso poema O Corvo.

Nesse ponto, conhecemos Hector, um faz-tudo da cidade que morre de medo de se impor e se fazer ouvir. Mas que mostra um apreço e zelo pelos Baudelaire. Além de ter uma leve revolução velada ao descumprir várias das normas da cidade, que o faz de capacho em vários momentos. Em meio a todo esses dilemas, uma notícia choca os órfãos: o seu pior inimigo, o Conde Olaf, foi preso e será julgado pela cidade. Mas, como sempre, nada é o que parece ser e essa notícia esta prestes a mudar tudo.

Primeiramente, gostaria de dar os parabéns a equipe de tradução da Seguinte. Eles conseguiram manter o brilhante jogo de palavras, envolvendo o leitor ainda mais na trama. Não é nada fácil traduzir uma língua estrangeira e ainda manter a essência do que foi narrado, e nisso eles fizeram um trabalho primoroso. A capa segue o mesmo padrão dos anteriores e as ilustrações nos acompanham bem durante a jornada. As páginas amareladas e a ótima fonte facilitam ainda mais a leitura e nos convidam a ler só mais um capítulo… ou talvez o livro todo de vez.

Com um plot-twist preciso,  A Cidade Sinistra dos Corvos desperta nossa curiosidade e sacode o leitor para a próxima metade da saga que se estende com toda sua tragédia e pessimismo, fazendo-nos crer que um destino tão desastroso e tão pesado e irregular pode resultar em um final feliz…

“Violet, Klaus e Sunny se entreolharam e respeitaram fundo, reunindo toda a sua coragem para enfrentar os raios em dia de céu claro que, segundo eles – e lamento dizer que estavam certos –, os aguardavam no futuro, e então os autossustentáveis órfãos Baudelaire deram os primeiros passos na direção das últimas luzes remanescentes do sol poente.”

Ficha Técnica
 

Livro 7 – Desventuras em Série

Nome: A Cidade Sinistra dos Corvos

Autor: Daniel Handler / Lemony Snicket

Editora: Seguinte

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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