Crítica | Telefone Preto (The Black Phone)

Nota
3

Telefone Preto é a nova aposta dos criadores de A Entidade (2012) e tinha tudo para repetir o sucesso do seu antecessor já que possua todos os componentes para tal, porém algo aconteceu no caminho. Telefone Preto é prova de que não é por você ter um sucesso nas costas que conseguirá repetir o feito sempre. Inspirado em um conto de Joe Hill, filho de Stephen King, Telefone Preto tem como pano de fundo uma sequência de sequestros de meninos, que nunca são encontrados. Ninguém na cidade sabe ou ao menos tem pistas de quem seria o responsável e, criativamente, passam a chama-lo de “O Sequestrador“(Ethan Hawke). É perceptível o medo que a onda de sequestros causa em todos os membros da pequena comunidade estadunidense, e até do público após o segundo sequestro em tela. A história ainda gira em torno de Finney (Mason Thames) e sua família disfuncional, composta por sua irmã (Madeleine McGraw), que é um dos melhores pontos do filme, e seu pai alcoólatra.

Finney é o típico garoto que sofre bullying por ser inteligente, ele tem o sonho de trabalhar na NASA e a interpretação de Thames, sempre nos deixando ciente que ele será sequestrado futuramente, nos transmite bem a sensação de ficar em cárcere e de começar a achar que está enlouquecendo. Sua relação com o Telefone Preto, um objeto que não deveria funcionar mas misteriosamente se tornou o meio de comunicação com o Outro Lado e as vítimas d’O Sequestrador, se mostra mais importante justamente por compreendermos sua ascendência materna, coisa que também viria a afetar sua irmã e todo o desenrolar do filme. Claro que o filme peca em verossimilhança com alguns aspectos, mas em um filme onde você pode falar com espíritos por um telefone desconectado claramente isso é ignorado.

O contraponto aqui fica com o personagem de Ethan Hawke, sendo apresentado inicialmente como um mágico atrapalhado para logo em seguida vestir a máscara literal do psicopata que viria a receber o apelido nada genial. A verdade é que vemos pouco do personagem, mas o que vemos é interessante. A simbologia por trás da máscara é sutil e poderia ser melhor trabalhada, porém quem a capta de primeira tem outra percepção com o filme, e isso se mostra mais importante só no desfecho. Sendo um homem claramente perturbado e com graves problemas familiares, o personagem de Hawke ainda, aparentemente, mantém uma conexão maior do que o normal com o personagem de Mason e com o objeto título do filme. Mesmo não aparecendo tanto quanto o que gostaríamos, o personagem consegue lhe marcar, mas não chega a ser um dos melhores seres entre um universo de criaturas do gênero.

Sendo mais um filme sobre “viver ou morrer” do que propriamente um filme sobre fantasmas e jumpscares, Telefone Preto consegue manter um ritmo relativamente morno do inicio ao fim, contando com cenas capazes de causar ansiedade em momentos específicos e pontuais, não que seja algo ruim. A conexão entre espiritualidade e religião presente também é abordada de forma interessante, pela personagem da Madeleine McGraw, sendo ela que tem a capacidade de transportar os sentimentos do telespectador ao filme. Por fim o filme trata-se mais de uma boa ideia que poderia ser melhor executada, um bom filme para ver em busca de mais simbologias do que precisamente pela história.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *