Crítica | Pinóquio (Pinocchio) [1940]

Nota
5

“Eu vou provar para vocês, boneco sou, mas sou assim. Quem quiser me examinar não há cordões em mim.”

Certa noite, há muito tempo atrás, um Grilo Falante (Cliff Edwards) viu um desejo se tornar realidade. Em meio às suas intermináveis viagens, o estranho animal chegou a um pequeno lugarejo e, sem encontrar viva alma, decidiu se alojar na única luz que avistou, observando assim o velho Gepetto (Christian Rub) finalizar sua última criação. Pinóquio, um boneco de madeira que se movimentava através de cordões, a quem o carpinteiro amava como um filho.

Orgulhoso de sua marionete, Gepetto faz um desejo à estrela mais brilhante do céu: que o boneco fosse transformado em um menino de verdade. Escutando a bondade em seu coração, a linda Fada Azul (Evelyn Venable) decide realizar seu pedido, dando vida ao boneco e nomeando o Grilo como sua consciência. Mas, assim que realiza tal feito, ela alerta o menino de madeira que, apenas quando se mostrar corajoso, sincero e altruísta, ele poderá transformar-se em um menino de verdade.

Antes mesmo da finalização de seu projeto anterior, Walt Disney já preparava uma nova obra grandiosa, trazendo um toque mais ágil à trama mágica que tanto amamos conhecer. E, para isso, um grande investimento foi feito, catapultando uma nova maneira de se fazer animações e dando nova profundidade a algo que já parecia perfeito.

Baseado na obra sombria de Carlo Collide e dirigido por Hamilton Luske e Ben Sharpsteen, Pinóquio apostaria em um novo ritmo para os longas animados, contando suas grandes aventuras com uma agilidade impecável. A animação multiplanos trouxe uma nova vantagem de produção enquanto criava uma nova camada para os desenhos aquarelados. Com movimentos mais realistas e ágeis, o longa foi considerado uma conquista inovadora, remodelando tudo aquilo que se conhecia sobre o gênero.

O roteiro assinado a sete mãos transforma a obra macabra em algo mais palpável, trazendo uma desenvoltura impecável que se mostra em sua crescente de maneira espantosa. Em meio a fábula encantadora, o longa nos mostra uma importante lição que, através das desventuras de seu protagonista, só crescem em nosso imaginário.

Pinóquio (Dickie Jones) é puro em sua essência mas, devido às pessoas que encontram em seu caminho, se corrompe a cada novo infortúnio, demostrando assim o quanto somos frágeis diante das tentações. ,,O desenvolvimento do personagem vai calçando um pensamento oportuno, que nos faz refletir a cada novo passo que damos em nossa vida. Afinal, mesmo adultos precisamos aprender sobre o peso de nossa liberdade e a lidar com as consequências de nossos atos diante das escolhas que tomamos, sejam elas boas ou más, sempre temos um preço a pagar.

E é aí que entra a figura do Grilo, que passa por poucas e boas ao tentar livrar seu protegido das encrencas em que se mete. Embora seja mostrado como o marco divisor entre o certo e do errado, o inseto ainda comete seus deslizes, se mostrando tão humano quanto o protagonista, embora mais sábio que o mesmo. O Grilo sente raiva, tristeza e ciúmes em momentos específicos, além de lutar para ser ouvido quando o mais fácil é simplesmente ignorá-lo, mas nunca desiste de trazer a tona o melhor de seu amigo.

Entre tantas figuras marcantes, o longa nos apresenta pequenos vilões, que nunca roubam o lugar de destaque mas acrescentam camadas a jornada do protagonista. Seja pela ganância explosiva de Stromboli, a diversão destrutiva do Cocheiro (ambos interpretados por Charles Judels) ou até mesmo a gula raivosa da baleia Monstra, cada um traz um novo ensinamento sobre os prazeres mundanos, com quase todos sendo conduzidos pelas intervenções de João Honesto (Walter Catlett) e Gideão.

A dupla de trambiqueiros são a porta de entrada para os infortúnios do protagonista, servindo como metáforas para as pessoas que tiram vantagens da ingenuidade alheia, nos apresentando uma maneira mais fácil e nada segura que nos tira de nossos caminhos. O filme é tão bem estruturado que consegue usar o mesmo artifício não uma, mas duas vezes, nos mostrando o quão fácil é cair em tentação… mesmo que, hipoteticamente, tenhamos aprendido a lição com o primeiro erro. Embora seja conhecido por usar bem a metáfora do nariz crescente diante das mentiras contadas, essa artimanha aparece apenas uma vez durante todo o longa, demostrando o quão profundo ele pode ser e o quanto suas mensagens ficam gravadas em nossas memórias.

Outro ponto alto da obra é sua trilha sonora, que nos encanta desde seus primeiros acordes. O longa conquistou um feito histórico ao ser a primeira animação a ganhar Oscars em categorias competitivas (Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original), além de construir uma marca inenarrável que perpetua até hoje. Não é a toa que os acordes de When You Wish upon a Star esteja presente em cada abertura Disney, se mostrando como um símbolo irretocável da empresa.
Mas, como nem tudo são flores, a animação encontrou um inimigo inigualável, que não só minou suas chances na bilheteria como fez o estúdio reavaliar seus próximos projetos. Embora o filme tenha sido um sucesso de crítica, a Segunda Guerra cobrou seu preço fazendo o longa ser um fracasso de bilheteria e só conseguindo se pagar após o seu relançamento em 1945.

Mesmo com sua grandiosidade, o filme também é conhecido por suas polêmicas, principalmente por aspectos que foram considerados pesados já em sua época de lançamento. Em determinado ponto da história, a pequena marionete acaba na Ilha dos Prazeres, um lugar onde regras não existem e crianças podem ser livres ao extremo, chegando a fumarem charutos e beberem cerveja ao bel prazer. A cena claramente serve como alegoria para mostrar as consequências da falta de regras, transformando seus participantes literalmente em burros em uma das cenas mais macabras da Disney. Dificilmente seria aprovada hoje em dia, mas sua mensagem é tão clara e poderosa que nos deixa impactados com sua genialidade.

Embora seja apenas o segundo longa animado do estúdio, Pinóquio já consegue ser uma avanço significativo na construção de seu universo. Mesmo após tantas décadas, o longa se mostra atual e significativo, trazendo um marco cinematográfico que não deve ser esquecido tão cedo. Afinal, ele não se tornou um clássico a toa, principalmente quando nos ensina que nosso desejo, por mais impossível que pareça, pode se tornar real se acreditarmos e batalharmos por ele. E não custa nada acreditar que, assim como nosso protagonista, podemos nos tornar pessoas melhores no fim do dia.

“E é só você pedir e a estrela transformar em realidade o que você sonhar…”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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