Crítica | Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo! (Mamma Mia! Here We Go Again)

Nota
3

Mamma Mia!, filme de musical dirigido por Phillida Lloyd e lançado em 2008, teve certa notoriedade não apenas por sua bilheteria gigantesca, mas por adaptar a peça homônima com um elenco de muito peso. Nada disso, no entanto, é garantia de qualidade, e o resultado foi um novelão das sete com uma trama frouxa enxertada por músicas do grupo sueco ABBA (que também serviu de inspiração para a peça), com números musicais copiados dos videoclipes dos anos 1980 e personagens unidimensionais.

Recapitulando: no primeiro filme, Amanda Seyfried interpreta Sophie, uma jovem que mora numa ilha grega com sua mãe, Donna (Meryl Streep), que comanda um pequeno hotel/vila. Sophie nunca soube quem era seu pai e está prestes a se casar com Sky (Dominic Cooper). Ao descobrir o diário de sua mãe, ela encontra nomes de três homens (interpretados por Stellan Skarsgård, Colin Firth e Pierce Brosnan) e percebe que um deles pode ser o seu pai, resolvendo enviar convites para virem ao seu casamento.

Em Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!, a continuação dirigida por Ol Parker, Donna não está mais viva e acompanhamos Sophie e seu padrasto e “1/3” de pai Sam (Pierce Brosnan) reformando todo o hotel para uma grande inauguração, na tentativa de homenagear sua mãe. A vida de Donna está sendo paralelamente recontada desde quando ela era bem mais jovem, quando conheceu os três possíveis pais de sua filha até a sua chegada na ilha, onde Sophie nasceu.

A grande diferença entre o filme de 2008 e esta sequência é a fluidez da narrativa. Se a direção de Phillida Lloyd e o roteiro de Cathereine Johnson não conseguiram fazer o fiapo de história ir para frente ou, ao menos, ligar um número musical a outro de maneira orgânica, o diretor e roteirista Ol Parker, dos fraquíssimos Imagine Eu & Você Agora e Para Sempre, surpreendentemente consegue fazer as duas coisas – pelo menos em boa parte do tempo. A intercalação das duas linhas temporais é dinâmica e oportuna, criando transições óbvias, mas eficientes.

A trama se mantém aquela besteira de sessão da tarde, mas há, dessa vez, um foco claro a ser seguido pelo roteiro, que distribui os atores de maneira a valorizar seu potencial cômico, sem apostar somente na gritaria de mulheres chegando ao cais (em especial, a dupla interpretada por Julie Walters e Christine Baranski). O carisma de Lily James também ajuda, tanto nas sequências musicais como para compor uma personagem tão mal explorada pelo desastroso roteiro do filme anterior (ou alguém encontra uma explicação para uma pessoa tão doce, despojada, que usa macacão o tempo todo e que tem fama de consertar tudo que vê, ao mesmo tempo canta sonhando com dinheiro e uma vida de madame).

Apesar de se ater ao estilo hiper teatral dos números musicais, a direção consegue trabalhar as canções com mais planos abertos e valorizando a geografia de cena – errando a mão ao mesclar sequências diegéticas e mais realistas com aquelas em que pessoas sobem na mesa de um restaurante e todos os clientes cantam junto. Infelizmente as únicas músicas que despertam algum entusiasmo só o fazem por conta da nostalgia – e, diga-se de passagem, o mérito é muito mais das canções do ABBA do que de qualquer um dos dois filmes. A cinematografia, por outro lado, suaviza aquele brilho e superexposição piegas que dominava as cenas do primeiro Mamma Mia! e, assim como em 2008, o elenco é competente o suficiente para manter um vínculo emocional constante e compensar pelas fórmulas e limitações da comédia romântica.

Falando em vínculo emocional, por mais irônico e absurdo que possa parecer, Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo! se beneficia da ausência de Meryl Streep; apesar da insistência nos diálogos em despertar o elemento nostálgico (é só contar quantas vezes alguém suspira “I wish she was here…“), a falta da presença calorosa da atriz realmente cria um laço mais forte de melancolia entre os personagens e deles com o público, por consequência, além de dar a tristíssima sensação de que a própria Meryl não está mais entre nós de verdade (esperamos que isso demore muito, muito para acontecer!).

Prejudicado por um clímax fragmentado em mais números musicais que não influenciam a história (aquele com a cantora Cher dá até um certo constrangimento), Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo! deve agradar muito quem gostou do filme anterior, tanto por suas qualidades como por suas deficiências. Mas também merece algum reconhecimento por ter conseguido criar o mínimo de envolvimento e competência técnica tendo um musical tão medíocre como antecessor.

 

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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