Crítica | Divertida Mente (Inside Out)

Nota
5

Riley é uma garota de 11 anos que vive em Minnesota com seus pais, ama rockey, seus amigos e escola, e é muito brincalhona, além disso, somos apresentados à garota sob a perspectiva de seus sentimentos, que controlam a sua mente e constroem sua personalidade: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho. A vida de Riley muda completamente após sua familia precisar se mudar para San Francisco, o que leva Riley a precisar lidar com todos esses sentimentos de viver em um novo lugar, uma nova escola, enfim, uma nova vida.

A Alegria, a chefe dos sentimentos, quer o melhor para a Riley, ou seja, ela feliz e bem o tempo todo, mas lógico que uma criança é e tem vários sentimentos ao decorrer do dia, mesmo que a alegria faça de tudo para a garota ficar feliz a maior parte do tempo, o que faz com que a Tristeza fique sem muito o que fazer, criando uma situação que acaba atrapalhando o super controle da Alegria e faz elas serem sugadas para fora da sala de controle, levando junto algumas memórias bases, que são de suma importância para a existência da personalidade da garota, deixando nas mãos das outras três emoções o controle do dia-a-dia de Riley, dias que passam a ser cheios de medo, raiva e nojo, sem alegria ou tristeza para dosar tudo.

Divertida Mente, além de ser um filme para crianças, mostra um grande trabalho de estudo sobre a psique humana, como funciona os sentimentos, pensamentos, sonhos, amigos imaginários, inconsciente, personalidade, memória, e tantos outros aspectos. Os roteiristas e diretores trabalharam bastante para trazer um assunto tão abstrato, como a mente humana, de forma tão leve e tão palpável, é formidável como dá para entender cada elemento da personalidade da Riley se formando, o que leva o público a se questionar sobre a própria formação psicológica, tanto a de cada um de nós, adultos, como a de nossos filhos. Cada sentimento é representado por uma cor predominante, que segue as cores que representam aquele sentimento na psicologia das cores, sendo Alegria em amarelo, a Tristeza em azul, a Nojinho em verde, o Medo em roxo, e a Raiva em vermelho, algo que se complementa com as formas físicas que os compõe, como a Raiva ser mais carrancudo e quadrado, o Medo ser mais ansioso e esguio, a Nojinho com formas mais femininas, sempre de bico e com cilios evidentes, a Tristeza bem redonda, com franja e sempre coberta, a Alegria de cabelo bagunçado, expansiva e um vestido simples.

Além desses elementos para definir os sentimentos, a direção de arte ainda usa um design com efeito de  pincel junto ao 3D dos personagens, criando textura nos cabelos e na pele das emoções para trazer aquele fator X, aquele a mais que temos em cada animação Disney. Divertida Mente ganhou os Oscares de Melhor Animação e Melhor Roteiro Original em 2016, o que mostra que Pete Docter, que além de dirigir também co-roteirizou o longa, foi essencial para criar a alma do filme, se inspirando no crescimento de sua filha, garantindo à produção um apelo emocional com o espectador, assim como é possivel notar em Up, outro dos trabalhos do cineasta na Disney. Os cenários se expandem através das ilhas da personalidade da Riley, como a da amizade, da família, da honestidade, do hockey, além de diversos outros espaços da mente da garota, que acomodam a imaginação com todos os sonhos, doces, troféus, namorados imaginários, subconsciente, pensamentos abstratos, ou memórias diárias, passando até pelo cemitério das memórias, cada ambiente tem sua paleta de cores, o que se mostra essencial, seja as mais colorida do mundo dos sonhos e imaginação, ou as mais escura como o subconsciente e o cemitério das memórias.

Além dos sentimentos, que protagonizam a trama, somos apresentados aos pais da Riley, seus próprios sentimentos, mostrando como funciona a relação de uma pessoa com outra e seus sentimentos, e o inesquecível Bing Bong, o amigo imaginário de Riley que, com toda simpatia e fofura, tenta ajudar a Alegria a deixar tudo bem com Riley, e toca o coração com a maravilhosa cena do foguete. Com o decorrer da narrativa, é ensinado a importancia de sentir-se triste, que também aprendemos com a tristeza, nos aliviamos com ela e podemos prosseguir com a nossa vida, que é praticamente irreal acreditar que é possivel ser feliz a todo tempo. Uma jornada que se fortalece ainda mais com as escolhas da dublagem brasileira, onde temos Miá Mello como Alegria, Katiuscia Canoro como Tristeza, Dani Calabresa como Nojinho, Otaviano Costa como Medo e Leo Jaime como Raiva, o cast perfeito para cada sentimento. Divertida Mente marcou a Disney com toda a criatividade contida no projeto, transformando todo um mundo subjetivo em uma nova realidade para seus espectadores, se tornando uma referência de animação, psicologia e até na cultura pop, até hoje.

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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