Crítica | Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore)

Nota
4

“O qilin é uma criatura que pode ler a alma das pessoas e se curva apenas para aqueles de coração puro”

David Yates teve a difícil tarefa de salvar a franquia depois da recepção ruim de seu antecessor. Para trazer de volta o entusiasmo do público a trama acelera em relação aos planos de Grindelwald, que após os acontecimentos em Paris é considerado procurado por incitar a guerra contra trouxas, em plano de fundo se iniciam as eleições para definição de um novo líder da Confederação Internacional da Magia, órgão responsável pela organização e controle da magia no mundo. Nesse contexto conhecemos uma nova criatura mágica, o qilin, conhecido no mundo bruxo como um indicador de grandes líderes, assim iniciando-se uma caçada por esta rara criatura. Além disto, a trama nos conta a verdade sobre uma das histórias mais escandalosas relatadas por Rita Skeeter em “A Vida e as Mentiras de Alvo Dumbledore”.

Com a expectativa baixa, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore possui a responsabilidade de reacender a chama quase apagada desta recente saga, mas com tantas polêmicas e regravações será que possui o potencial para que este sucesso seja alcançado? Desta vez o foco do enredo é apresentar a política do mundo bruxo, mostrando mais uma vez que manobras e manipulações podem sim influenciar o rumo de uma eleição. Mesmo com esse aspecto novo, o roteiro fica monótono em algumas partes, tendo que apelar para uma maior quantidade de cenas cômicas, mas que não atrapalham muito a experiência, outro ponto negativo é que as poucas cenas de ação deixam a sensação de que falta algo, mas isso se deve ao fato de serem curtas e bem dispersas durante o filme.

As criaturas mágicas não poderiam ter um melhor momento, assim como no primeiro, uma criatura mágica é o elemento guia para o desenrolar da história, mas não impedindo outras de obterem destaque (mesmo que seus nomes sequer sejam citados) e por fim sua construção em CGI nunca esteve melhor. A montagem do filme é muito completa, os cortes e conexões entre as cenas estão coesas, a trilha sonora se alia a fotografia e formam a tão conhecida experiência do mundo mágico, entregando muito do que os fãs aguardavam ansiosamente.

Eddie Redmayne segue entregando o personagem que amamos, Newt, o magizoologista tão peculiar quanto sua profissão. Neste filme vemos o desdobramento de sua recente reaproximação com seu irmão e como a sua relação com Dumbledore é forte, a ponto de lhe serem confidenciados segredos que nunca imaginamos e que trazem desdobramentos únicos para a trama. Por meio dos planos elaborados, vemos um Newt mais comunicativo e emotivo, revivendo alguns sentimentos do passado que nunca foram totalmente apagados.

Jessica Williams merece ter seu destaque reconhecido, Eulália Hicks é uma personagem única. Uma mulher de aura poderosa, ninguém menos que a autora de um dos livros de feitiços mais famosos do mundo, a bruxa protagoniza cenas icônicas de ação, onde podemos ver boa parte de seu vasto conhecimento de feitiços, e ainda assim consegue trazer cenas cômicas com o personagem de Dan Fogler, em momentos cruciais para refrescar a trama.

Madds Mikkelsen faz jus à seu papel, um homem ameaçador de palavras sedutoras, o que impressiona é que, mesmo entrando de uma forma abrupta após a saída de seu antecessor, o personagem segue forte e a mudança não incomoda. Que Grindelwald é um homem manipulador já sabemos, mas o ator eleva a um nível acima, é possível perceber a malícia por trás do personagem e como isso é usado a seu favor. Muito de sua relação com Dumbledore é revelada, nos ajudando a compreender o que culminou no ponto em que a relação dos dois se encontram.

Em contrapartida vemos Jude Law voltando ao papel de Dumbledore, que precisa a todo custo impedir os planos de seu rival. Como era de se esperar, temos muito foco no pacto de sangue e sua relação com Grindelwald, fazendo com que até mesmo os laços com sua família fossem abalados, reverberando entre todos os envolvidos, principalmente em Newt. É compreensível que seu passado seja a chave para a trama, já que vemos a culminância de acontecimentos que levaram a primeira grande guerra bruxa, e o seu envolvimento com o personagem de Mikkelsen é algo que não pode ser deixado de fora.

Tendo em vista todo o caos envolvendo sua produção, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é um filme coeso e que cumpre seu objetivo, encerrar um arco e iniciar outro. Mesmo assim possui falhas, onde a falta de cenas de ação faz com que a trama pareça arrastada, mas também conhecemos mais do mundo bruxo (inclusive, a ministra da magia do Brasil, interpretada por Maria Fernanda Cândido), seja no meio político ou das próprias criaturas. Por fim, o longa se adequa bem a seu propósito, possui falhas sim, mas tem o potencial de salvar a franquia do grande fiasco que foi o seu antecessor.

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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