Crítica | A Rede Social (The Social Network)

Nota
4.5

Por décadas, a comunicação e as mídias sempre estiveram em constante evolução. Afinal, para que a tecnologia e a modernidade tenham companhias, tudo deve ser readaptado conforme os requisitos da época e a demanda exigem. Dentro desse parâmetro, o Facebook surge no mundo como uma rede capaz de integrar várias comunidades sociais e atingir um público ainda maior que outros meios, através das mãos do então estudante Mark Zuckerberg e sua equipe. Seria, portanto, o início de uma revolução tecnológica? Para muitos, sim. Para o jovem Mark, talvez não desse certo.

Através desse questionamento pertinente, David Fincher constrói a narrativa de “A Rede Social” e o eleva a um nível além de uma simples biografia. Diferentemente de muitas obras, começa a trajetória de suas criaturas no passado, com diálogos responsáveis pelo início de tudo. Tal artimanha pode cair numa caricatura e corre o risco de desconstruir a qualidade da narrativa, mas o olhar visionário do cineasta não permite que isso aconteça.

Logo no início, somos apresentados à figura de Zuckerberg e seus anseios, quase pautados numa arrogância notória, essencialmente durante a sua conversa com a namorada. Visto como prodígio e extremamente talentoso, o jovem almeja mudar o mundo, ainda que se sinta excluído socialmente. Tal qual muitos na sua condição, sonha mais que vive – o que pode parecer um defeito para alguns e qualidade para outros. Nesse sentido, Fincher não hesita em mostrar um Mark dúbio e que oferece vários sentimentos, fazendo com que haja uma conexão do público com o produto, já construindo a primeira crítica.

Quantos jovens não usam a rede social como válvula de escape? Quantos não mascaram o sentimento de fracasso por uma tela virtual? São questões que assombram Mark e o faz sonhar ainda mais com um meio que facilite a interação, como se o “mundo real” não fizesse sentido. Nesse contexto, o roteiro deixa nítida a diferença entre a realidade e a ficção promovida pela internet, como se ambas estivessem num duelo e o contato físico não fosse suficiente. Sentindo-se excluído pelos colegas da faculdade, o jovem usa o universo midiático para se “vingar” e criar uma bolha, sempre almejando a aprovação de tudo e todos.

Por meio desse quesito, Fincher não condena o personagem pelas suas escolhas, tampouco pelos erros e acertos. Carrega uma crítica às cobranças da sociedade, sempre num tom que desconstrói a necessidade de ser aprovado. Mark Zuckerberg, longe da faceta que cria na ferramenta visual, é humanizado e praticamente vive em silêncio. Sua mente e seus aparelhos tecnológicos configuram um escapismo. É interessante sua construção, principalmente quando nos deparamos com a figura de Eduardo Saverin, estudante brasileiro e melhor amigo de Mark. Apesar de idealista, “Wardo” – apelido pelo qual é conhecido – sonha com os pés no chão e consegue ser mais sociável fisicamente que o amigo. A diferença entre ambos é notável e emula um certo sentimento de inveja entre os dois, já que Zuckerberg almeja ter a mesma facilidade do colega nos âmbitos sociais e lida com suas frustrações.

Além dos dois, vale ressaltar a presença enigmática de Sean Parker, visto como a “serpente do paraíso”. Por trás da máscara de bom moço e tranquilo, Parker consegue manipular e dominar todos à sua volta, principalmente quando entra em conflito com Mark e cria uma personalidade quase parasitária, possuindo uma influência praticamente onipresente. Seu realismo é frio e, muitas vezes, ecoa como uma incógnita no ar, levando o espectador a inúmeras reações.

Um ano depois do sucesso da comédia escrachada “Zumbilândia”, Jesse Einsenberg tem em mãos um tipo mais sério e, por vezes, duvidoso. Sua performance como Mark Zuckerberg impressiona e consegue extrair todas as camadas desse perfil controverso, saindo de uma aparente nerdice a um amadurecimento convincente em questão de minutos. Uma entrega louvável e que faz jus à indicação ao Oscar, assim como sua notável sintonia com Andrew Garfield, que constrói perfeitamente o comportamento mais realista de Eduardo Saverin, e Justin Timberlake, intérprete de Sean Parker. Três jovens atores que se consagram desde os mínimos aos máximos momentos da narrativa, sempre num estilo que chama a atenção de quem assiste.

Mais do que um recorte de um momento real da história, “A Rede Social” consegue atingir sua narrativa na ferida da sociedade, criticando certas atitudes e mostrando um grande abismo que existe entre o real e o imaginário das redes virtuais. A mensagem é clara: ninguém é capaz de se mascarar somente atrás da internet sem olhar a realidade. Como quase toda a sua filmografia, David Fincher sabe usar simbologias e percorrer pela mente humana, independentemente do modo e da relevância no enredo, sempre com enquadramentos que valorizam a trama e uma fotografia impecável. Um grande filme que vale a pena ser visto, entre erros e acertos louváveis.

 

Apenas um rapaz latino-americano apaixonado por tudo que o mundo da arte - especialmente o cinema - propõe ao seu público.

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