Crítica | A Mula (The Mule)

Nota
4

Leo Sharp coleciona uma série de honras que vão desde de prêmios por seus trabalhos como paisagista e decorador até o reconhecimento por ter lutado contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, foi aos 90 anos que o veterano de guerra ficou ainda mais conhecido, pois começou a trabalhar para um cartel de drogas, transportando uma imensa quantidade de drogas por todo o país.

Depois de afirmar que estava se aposentando das atuações no cinema, o veterano ator e diretor Clint Eastwood retorna para a frente e para trás das câmeras no seu novo filme, A Mula. Eastwood é um dos profissionais mais premiados da história do cinema, e já levou vários Oscars, tanto na categoria de Melhor Diretor quanto na de Melhor Ator. É claro que por conta disso, sempre que um dos seus projetos ganha data, a expectativa é grande para assistir o resultado final do seu trabalho.

Eastwood sempre foi um ator e diretor extremamente talentoso e o que chama a atenção no seu trabalho, é como é possível perceber o quanto ele conseguiu amadurecer muito bem nos dois lados da produção. Durante seus primeiros anos de carreira como ator, ele era apenas visto como o cara durão que aparecia numa cidade para “chutar as bundas” dos caras maus. Desde sua atuação impecável em Menina de Ouro (2005), longa que lhe rendeu o Oscar de Melhor Diretor e Melhor Filme, o ator parece ter entendido muito bem como trabalhar a dor, o peso e a sensibilidade de personagens com a idade mais avançada.

Por isso mesmo, podemos afirmar que a maior qualidade do filme A Mula, é exatamente a atuação de Clint Eastwood. Com um personagem que acaba colocando sua vida profissional em primeiro lugar e esquecendo da importância dos pequenos e grandes momentos com a família, Eastwood entrega uma atuação impecável e, que ainda por alguns instantes, dentro da sua picape dirigindo cheio de drogas na mala, é possível esquecer que ele é um velho amargurado pelo tempo e lembrar que, aqui, ele é um velho curtindo as músicas clássicas dentro do carro. Vale salientar que a trilha sonora do filme também é um dos seus pontos fortes.

Apesar de ser extremamente prazeroso acompanhar a saga do seu personagem, a sensação que fica durante o resto da sua jornada é a de que os personagens coadjuvantes poderiam ter tido uma importância mais significativa na história, principalmente na hora de criar a catarse emocional. A relação do personagem principal com sua ex-esposa é muito bem construída, desenvolvida e finalizada; porém, isso não acontece muito bem com as demais relações do personagem, como, por exemplo, com a sua filha e neta. Quem também acaba tendo seus talentos desperdiçados no longa, são os atores Bradley Cooper e Andy Garcia. Enquanto o primeiro interpreta um agente especial em total rota de colisão com Eastwood, o segundo interpreta o mafioso dono do cartel de drogas. Os dois personagens acabam se tornando verdadeiros clichês, e não somam muito na história que estava sendo contada até então.

No fim das contas, A Mula é uma história sobre o que realmente faz a vida de um homem, sobre qual legado ele quer deixar para seus familiares, amigos e queridos. Por muitas vezes, as pessoas só conseguem perceber o quanto isso é importante quando o tempo já está quase se esgotando.

 

Formado em publicidade, crítico de cinema, radialista e cantor de karaokê

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *