Review | Q-Force [Season 1]

Nota
4

“Você é jovem, aguenta firme. Em dez anos você vai comandar esse lugar.”

Steve Maryweather, a.k.a. Agent Mary, era o melhor entre os alunos da Agência Americana de Inteligência (AIA), mas ele imediatamente cai em desgraça dentro da agência quando, no meio de seu discurso de formatura, se assume gay. Como ele não pode ser demitido por ser gay, a agência o envia para comandar a unidade de West Hollywood, onde ele pode desaparecer no esquecimento e nada importante acontece, e nenhuma missão chega. Dez anos depois de ficar preso nesse limpo, e de ter montado uma equipe de gênios LGBTQIA+, Mary resolve se rebelar e encontrar uma missão por conta própria, acabando por impedir uma negociação ilegal milionária que nem a AIA havia previsto, colocando sua unidade em evidência iniciando uma série de casos de grande importância que só um agente queer poderia resolver. Nasce assim a Força-Queer, apelido ofensivo que a AIA dá a essa unidade e que eles acabam adotando.

Lançado em 2 de setembro de 2021, a série criada por Gabe Liedman é uma comédia de animação para adultos que parodia os filmes de agentes secretos brincando justamente com o fato de vivermos em uma época onde quase ninguém faz mais questão de guardar segredos, o que torna tão mais fácil aos agentes conseguirem as informações apenas conversando com as pessoas em bares e pelas ruas. O show brinca com os clichês para produzir um roteiro inteligente alinhado com uma trama divertidíssima, tirando piadas dos filmes de espionagem ao mesmo tempo que brinca com os padrões das comunidades LGBTQIA+, apesar de exigir certo cuidado na hora de assistir, afinal essa é uma daquelas animações que tem cenas tão explicitas que não seria comum ver trechos seus no xvideos.

A produção inteira se fortalece principalmente por conta de seu elenco, que é super carismáticos e torna tudo ainda mais divertido de assistir, harmonizando completamente com as ótimas referencias ao universo queer e o universo pop. Mary é um agente padrão de produções de espionagem, ele é aquele agente galã que pode facilmente transitar em qualquer ambiente e ser extremamente eficiente, com a alteração de ser gay, o que vai completamente contra o clichê de masculinidade que está contida em todos os protagonistas desse tipo de filme. A cota de masculinidade que foi extraída de Mary é compensada no Agente Rick Buck, um puxa-saco da agencia que era o segundo melhor no treinamento e acabou tomando o espaço que deveria ser de Mary, mas que acaba sendo enviado para a unidade de WeHo como babá para os agentes quando eles começam a receber missões de verdade, mostrando que mesmo os maiores brucutus tem sentimentos afinal. Deb é a expert em mecânica, uma lésbica extremamente habilidosa em produzir os melhores apetrechos e por botar a mão na massa nos momentos chaves. Twink é o mestre dos disfarces da unidade, principal ativo nas missões de disfarces a drag canadense é capaz de se transformar em qualquer pessoa e assumir qualquer papel. Completando a equipe está Stat, a hacker (que muitos acreditam ser não-binária) que é capaz de resolver qualquer problema, superar qualquer rotulo e até criar uma IA senciente por quem se apaixona.

Além do elenco principal, a produção ainda se engrandece pelos seus personagens secundários, que se provam cheios de camadas que interferem diretamente na trama principal do show, como é o caso de V, a vice-diretora da AIA que, no decorrer do enredo, descobre que a agencia guarda um segredo perigoso sobre o seu passado, um segredo que muda completamente sua visão sobre a agencia. No papel de ‘vilão’ fica o Diretor Dirk Chunley, que comanda a AIA, que é o responsável por esconder o segredo de V, que ordenou a ida de Buck para WeHo e que parece nunca colocar fé nos esforços de Mary, sempre fazendo de tudo para impedir a Força-Queer de crescer. A mais divertida adição é Mira Popadopolous, a princesa de Gyenorvya, que é livremente inspirada em Mia Thermopolis de Genovia, e que se revela uma das personagens mais multifacetadas do show, com direito a ser a menina desgrenhada do passado, se erguer ao papel da doce princesa e ainda termos a ensandecida ninfomaníaca que se envolve com Buck. Como se não bastasse toda a comédia, Q-Force ainda nos cativa com uma trama maior, que permeia todos os episódios e nos leva a um final empolgante, dando uma sensação de que a serie foi um grande acerto da Netflix, capaz de representar a comunidade com perfis divertidos e referencias agradáveis, sem exagerar ou deixar caricato.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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