Review | Overcompensating [Season 1]

Nota
3.5

Benny (Benito Skinner) é um típico jogador de futebol americano. Popular, com notas altas e sempre com uma namorada líder de torcida a tiracolo, ele era o maior orgulho dos seus pais no Ensino Médio. Agora que está indo para a faculdade de economia, a pedido do seu pai, Benny tem que lutar muito para ninguém descobrir o seu maior segredo: ele é gay. Indo para a mesma faculdade de sua irmã, Grace Scanlon (Mary Beth Barone), ele vai tentar ao máximo se encaixar no seu novo curso, que claramente não foi feito para ele. Mas quando o namorado da sua irmã, Peter (Adam DiMarco), lhe conta que a primeira festa dos calouros, ou você transa com alguém ou você é visto como um fracassado, ele vai entrar em pânico. E é aí que ele conhece Carmen (Wally Baram), uma jovem tímida e nerd que se interessa logo de cara por Benny e que também não quer ser vista como uma fracassada por sua colega de quarto. Mas o que nem Benny nem Carmen esperavam, é que uma noite casual poderia ser o início de uma grande amizade. Criada e escrita pelo próprio protagonista Benito Skinner, Overcompensating é a nova série de comédia da Amazon Prime que fala sobre o processo de sair do armário de uma forma leve e divertida, com a premissa principal sendo a amizade.

O roteirista da série, Benito Skinner, ficou muito conhecido a partir de 2016 por seus conteúdos de comédia em redes sociais como Tiktok, Instagram, entre outros, onde ele criava esquetes de humor, com seus personagens mais famosos sendo “Benny Drama” e “Jenni the Hairdresser, além de fazer diversas imitações de artistas populares na época como Shawn Mendes, Lana Del Rey, e das socialites Kardashians. Em 2018, ele estreou o seu show solo com o mesmo nome, “Overcompensating”, em um bar local em Nova Iorque, onde ele contava histórias baseadas em sua própria experiência. Após também participar como ator em algumas produções, Benito recebeu o convite da Amazon Prime de roteirizar sua própria série no Prime Video, o que levou a adaptar o seu show de 2018 em uma série ficcional, muito baseada em suas próprias experiências com sua saída do armário durante a faculdade. 

O roteiro de Overcompensating é bem simples, mantendo premissas e estereótipos tradicionais de filmes adolescentes norte-americanos, com arquétipos que já estão no imaginário popular, como da menina nerd que é “diferente das outras meninas”, o jogador de futebol americano, a garota loira líder de sororidade da faculdade, o hetero babaca que trai a namorada com todas, mas isso não necessariamente enfraquece a obra como um todo, porque todos esses personagens são desafiados em algum momento a sair de sua zona de conforto e confrontar o seu próprio arquétipo, de uma forma que o ponto da série se baseia em questionar o papel de cada personagem. Apesar de trazer roteiros inteligentes de clichês pré-estabelecidos, a série se baseia muito no humor de esquetes que funcionam nos vídeos curtos do próprio Benito Skinner, mas que para a série acabam sendo traduzidos como um humor bobo e sem muita dimensão, como se não tivesse sido uma boa tradução entre formatos, já que nas esquetes os personagens não precisam atrair a simpatia do público, situação muito diferente para uma série, onde os personagens são sim bastante carismáticos, mas que não se misturam bem com o humor, muitas vezes do absurdo, que é proposto na série. 

Por ter uma temática de séries “adolescentes”, como em Skins (2007) e Euphoria (2019), com muitas festas, álcool, sexo e drogas, a série da Prime, acaba caindo também em redundâncias nas atuações. O Benito Skinner por exemplo, replica seu personagem “hetero” estereotipado, mas que na série não funciona tão bem assim por não ser cômico o suficiente como nas suas esquetes, já que mesmo sendo uma série de comédia, parece muito mais que o ator leva a sério demais o personagem, mesmo nas comédias de absurdo, portanto se ele tivesse canalizado mais a sua persona hetero mais caricata, até as próprias piadas da série teriam funcionado mais. Já quem não precisa de esforço para fazer um hetero babaca é o Adam Dimarco, que está odioso como Peter de uma forma boa. À medida que a série progride, o seu personagem ganha mais dimensão, tendo discussões interessantes inclusive sobre masculinidade tóxica e das relações heteronormativas em geral. Já quem se torna o melhor alívio cômico da série é a atriz Holmes, interprete da colega de quarto da Carmen, a louquinha das festas Hailee, que acaba sendo também um arquétipo de loira sem noção, mas que ela acaba sendo tão carismática ao longo da série com sua cabeça tão fora da realidade que é impossível não gostar dela e nem da sua personagem.

Overcompensating se destaca de filmes do gênero por abordar muito mais o aspecto familiar e de amizades no processo de saída do armário, do que em outras obras do gênero. No filme Com amor, Simon (2018), por exemplo, todo o desenvolvimento do personagem se dá na confiança que ele tem de se relacionar com o seu eventual parceiro, o que não acontece com a jornada do Benny, já que ele é muito mais pessoal do que de tentar construir um relacionamento com alguém. A jornada da amizade de Benny e Carmen por exemplo é uma boa forma de ilustrar isso, já que eles vão por diversos altos e baixos, de ter um interesse sexual (mesmo que seja a teor de manter as aparências da parte do Benny), para diversas desconfianças e traições, para enfim eles começarem a se acertar para desenvolver uma amizade saudável e sem mentiras. Da mesma forma acontece com a irmã do Benny, já que a Grace não se dá bem com o Benny, e aos poucos ela vai se abrindo para ter um relacionamento melhor com o irmão, especialmente por começar uma amizade com a Carmen. Além disso, toda a pressão que Benny sofre para esconder quem ele é, se dá pela sua família e pelas expectativas que sempre foram criadas para ele desde a infância, e é interessante a abordagem da série com relação a isso, mesmo que seja uma passagem tão pequena, que fica a necessidade de ser melhor explorado numa eventual segunda temporada. 

Escrita pelo influencer Benito Skinner, Overcompensating traz, com muita comédia, a dura jornada de sair do armário. Apesar de recorrer a arquétipos datados na cultura pop estadunidense, a série consegue entregar uma abordagem diferenciada ao explorar a amizade e as dinâmicas familiares no processo de aceitação pessoal, já que a jornada de Benny não é centrada em um romance tradicional, mas sim na sua luta interna e nas relações que o ajudam a encontrar conforto em sua própria identidade. Mesmo que tenha um foco maior no humor, nem sempre as piadas funcionam, já que o núcleo principal embora recorra bastante ao humor físico, são personagens às vezes sérios demais em contextos humorísticos, mas na área dramática e de conflitos acabam sendo muito mais bem trabalhados. Os personagens, no entanto, são cativantes e em diversos momentos são bem construídos, já que a série propõe reflexões sobre masculinidade, expectativas sociais e o papel das amizades nesse processo. Mesmo com um gancho enorme para uma segunda temporada, a série da Amazon Prime ainda não teve a sua renovação confirmada, mas seria interessante ver um aprofundamento maior em alguns temas que ficaram apenas na superfície.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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