Nota
“Você não precisa ter medo de estar sozinha, porque nunca esteve”
Depois de anos brincando com a ideia de finais felizes e redenções improváveis, a sexta temporada de Once Upon a Time se posiciona como uma tentativa clara de dar um fechamento digno aos personagens que carregaram a série até ali, mas também como uma oportunidade de fazer um último experimento narrativo antes de virar a página. Com a chegada dos personagens da Terra das Histórias Não Contadas — incluindo Dr. Jekyll, Mr. Hyde, Aladdin, Jasmine e muitos outros — a série expande ainda mais seu universo, mas começa a sentir o peso de tantas tramas abertas, tantos mundos paralelos e tantas histórias precisando de um encerramento satisfatório.
A primeira metade da temporada é pautada pela dualidade de Regina, agora dividida entre si mesma e sua versão maligna, a Evil Queen. A escolha de separar literalmente os dois lados da personagem é ousada e oferece ótimos momentos, especialmente para Lana Parrilla, que entrega uma performance dupla cheia de nuances, dominando a tela com facilidade. Regina se firma como a verdadeira protagonista emocional da série, numa jornada que agora é tão focada em autoaceitação quanto antes era em redenção. Ainda assim, o excesso de antagonistas e micro-tramas enfraquece o impacto geral, fazendo com que alguns episódios pareçam desconexos do arco central.
A Parte B traz a construção do que seria o último grande vilão da série original: a Fada Negra. Com uma mitologia que se conecta diretamente a origem de Rumplestiltskin, a série tenta emplacar uma trama sobre a luta entre luz e escuridão dentro das próprias famílias. A ideia é promissora, mas a execução, novamente, sofre pela correria e pela dificuldade em desenvolver adequadamente tantos personagens ao mesmo tempo. O final da temporada, culminando com a Batalha Final que vinha sendo profetizada desde o começo da série, entrega um fechamento emocional para Emma, mas não sem tropeçar na pressa e em algumas escolhas questionáveis no caminho.
Em paralelo, vemos o amadurecimento de personagens como Henry, que passa a ter mais responsabilidade dentro da narrativa, e de Rumple, que precisa encarar a própria hipocrisia e o verdadeiro preço de seus atos. O romance entre Gancho e Emma ganha ainda mais espaço, com direito a toda uma preparação para a despedida do núcleo original. A série tenta, e em parte consegue, devolver um pouco da magia emocional que tinha nos seus primeiros anos, especialmente ao trazer de volta figuras como August e ao fazer paralelos diretos com a primeira temporada através de Gideon.
Visualmente, a sexta temporada mantém o padrão de qualidade da série, mas nota-se um leve desgaste na grandiosidade dos efeitos especiais, que agora parecem mais econômicos. A trilha sonora continua sendo um dos pontos altos, conseguindo reforçar a carga emocional de momentos importantes mesmo quando o roteiro titubeia. Há também um episódio musical especial, “The Song in Your Heart” (6×20), que surpreende pela qualidade das canções e pela maneira como elas são integradas à narrativa, oferecendo um dos momentos mais genuinamente mágicos da temporada.
A sexta temporada de Once Upon a Time é, acima de tudo, uma carta de despedida para seus personagens centrais. Ainda que nem todas as tramas sejam concluídas de maneira impecável, há uma intenção clara de honrar o percurso de figuras como Emma, Regina, Rumple e Gancho. A temporada consegue emocionar em vários momentos, principalmente por conta da bagagem emocional que o público já carrega, mas também escancara que a série havia chegado no seu limite estrutural, precisando urgentemente de renovação.
“Agora? Agora temos que ver o que acontece…”
Icaro Augusto

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.