Review | Alice in Borderland [Season 2]

Nota
4.5

“Ouvimos boatos de que a próxima fase vai começar…”

A fase mais fácil do jogo passou, chegou a hora de começar uma nova fase em Borderland, muito mais complexa e muito mais profunda. Agora que todos as cartas de números foram conquistadas, chegou o momento da caça pelas cartas de figuras ser iniciada, mas a busca pelos ReisDamasValetes é muito mais perigosa, agora os jogos possuem um desafiante humano que precisa ser derrotado, a vitória não depende mais de derrotar as regras mas seguir em um embate contra um estrategista nato, uma pessoa que ajudou a preparar o jogo e que está ali para derrotar o máximo de jogadores. Arisu, Chishiya, AnnKuinaTatta, UsagiNiragi sobreviveram à primeira fase, agora cabe ao grupo se unir para derrotar os novos desafios comandados pelos organizadores do jogo, agora eles precisam encarar membros da organização e vence-los em seus próprios jogos, um jogo onde os jogadores podem vencer e garantir a morte das pessoas por trás do pesadelo que estão vivendo, mas a chegada do Rei de Espadas acaba separando todos eles, o que os faz enfrentar, separadamente, seus próprios desafios, sempre na esperança de se reencontrarem em algum momento e voltar para o mundo de onde vieram.

Duas semanas após o lançamento de sua primeira temporada, em 2020, Alice in Borderland teve uma segunda temporada anunciada pela Netflix. Mais de dois anos se passaram até que essa sequência fosse finalmente lançada, criando uma enorme expectativa e rapidamente sendo consumida pelo público, que percebeu o quanto Shinsuke Sato tem realmente o dom em adaptar a obra de Haro Aso. Apesar de trazer diferenças do mangá e até expandir a trama ao nos presentar com vislumbres de jogos que foram omitidos da obra original, a trama de Sato não decepciona em momento nenhum, explorando mais fundo o passado do grupo protagonista para que possamos ter uma conexão mais plena com cada um deles, conexões que interferem diretamente nas jornadas que cada um deles passa a seguir, mas outra grande sacada do novo ano é dar uma alma para a Borderland por meio dos Reis, Rainhas e Valetes, que não só apresentam personalidades marcadas como, para alguns deles, temos flashbacks, cenas que ajudam a nos mostrar a origem de seus ideias, suas motivações como lideres de jogos e até nos dá um contexto sobre a inspiração de cada desafio dessa nova fase.

Kento Yamazaki se  mantém no centro da trama como Arisu, ele perdeu muito durante a temporada passada e precisa amadurecer e endurecer ainda mais, o que o coloca como líder do grupo dos sobreviventes e como peça chave no jogo contra Borderland. O processo evolutivo de Arisu se mostra muito mais claro, ele começa a tentar entender o mundo onde está preso e busca ir mais fundo nos desafios para acelerar a jornada que levará ele e seus aliados a uma saída. Tao Tsuchiya nos presenteia com um aprofundamento preciso para Usagi, que começa a expor camadas e ter detalhes sobre seu passado revelados, o que nos ajuda a enxergar o contexto por trás de sua personalidade, suas crenças e suas motivações. Nijirō Murakami nos presenteia com um passado inesperado para seu Chishiya, trazendo um flashback que nos apresenta detalhes da vida na Terra do jogador misterioso e que nos faz perceber o quanto as aparências enganam, a dor que ele carrega e o motivo de o jogo ter surgido como uma revisão de seus valores e crenças. Aya Asahina, interpretando Kuina, se fortalece na trama, fugindo completamente da exploração da questão transgênero e nos mostrando que a personagem pode muito bem ser explorada e aprofundada sem necessariamente ter que abordar sua transição. O grupo se completa com Ayaka Miyoshi como Ann, que apesar de não ter muito desenvolvimento em tela traz contribuições poderosas para o enredo e para a evolução como personagem.

Bem ritmada e renovada, a segunda temporada de Alice in Borderland mostra que sua fórmula ainda funciona e se supera, aprofundando seus personagens ao mesmo tempo que constrói vários jogos diferentes, o que mantem ainda mais viva a temática da série e toda a atmosfera desenvolvida no decorrer do primeiro ano, ganhando tempo até para aprofundar seus ‘vilões’ e nos envolver na proposta densa do show. O novo ano parece a prova de que a trama é capaz de se superar sem perder o compasso e sem mudar sua base de enredo, aproveitando até um orçamente aparentemente maior que permite à produção investir mais na equipe, entregando uma trilha pulsante que nos envolve e um deleite visual com a fusão de efeitos práticos e CGI, algo que só soma com as veias dramáticas que são exploradas no decorrer desse segundo ano, para o agrado dos espectadores. Todo o conceito que a produção entrega da inexistência de bandidos parece ser ainda mais eficiente nessa temporada, dando motivações até para os atos mais hediondos de forma solida, como é o caso de todo o background que temos do Valete de Copas, com flashbacks que nos mostram a origem de seus dilemas, que o levaram a criação de seu jogo e culminam numa autorreflexão intensa, numa epifânica reviravolta que resume o espirito da nova narrativa.

“Quem somos nós? Somos os verdadeiros cidadãos desse país.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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