Resenha | A Sombra da Serpente

Nota
4

“Se estiver ouvindo isto, parabéns! Você sobreviveu ao Dia do Juízo Final.”

Mesmo depois de todos os esforços de Carter e Sadie Kane, Apófis está livre, e dentro de três dias irá destruir completamente o Maat, a ordem do universo, e mergulhar o mundo na escuridão eterna. Os irmãos podem ser os mais importantes descendentes da Casa da Vida, mas nem seus melhores esforços parecem capazes de derrotar Apófis, o que só piora pelo fato de deuses estarem divididos, os jovens iniciados da Casa do Brooklyn não serem capazes de lutar quase sozinhos, Walt, um dos mais talentosos combatentes da Casa do Brooklyn, estar preso a uma maldição que consome sua energia vital, e Zia estar ocupada cuidando de , o deus sol que está completamente senil e parece não ser de grande ajuda para a batalha. Como se toda a situação não já fosse caótica o suficiente, uma última esperança surge os lançando em uma missão: descobrir o encantamento secreto capaz de utilizar o sheut (a Sombra) de Apófis como arma e localizar onde está escondida a Sombra da Serpente do Caos.

Depois de passar por uma certa queda na sua trama com O Trono de Fogo, a trilogia As Crônicas dos Kane chega em seu aguardado capitulo final, nos levando mais perto do tão perigoso momento do fim do mundo. Agora que Apófis despertou, os irmãos estão correndo o maior risco, e tudo fica ainda mais dificil pelo fato de os outros Nomos da Casa da Vida estarem se virando contra ele e contra Amós, tirando completo apoio na batalha final e os acusando de ter se unido aos deuses (um grande crime), desequilibrado o Maat e despertado Apófis. A nova trama parece estar pronta para ser mais densa, nos levando a rever os deuses, para entendermos a situação que cada um deles estão durante esse conflito e como eles poderiam colaborar para esse grande dilema, infelizmente esquecendo de desenvolver mais a ligação de Ísis e Hórus com os irmãos, um fator que foi tão importante para o desenrolar do primeiro livro e agora passou esquecido pela trama. Apesar dessas falhas, o novo livro traz uma narrativa mais leve, que se torna mais fluida a medida que vai evoluindo e proporciona uma leitura, de certa forma, rápida e agradável.

“Eles vão atacar daqui a três dias – Leonid disse. – Ao mesmo tempo, Apófis se erguerá, ao amanhecer do equinócio de outono.”

Seguindo o estilo narrativo das edições anteriores, a obra de Rick Riordan traz capítulos narrados pelos pontos de vista dos irmãos, alternando entre duplas de capítulos para cada um deles, o que nos ajuda a entender mais a fundo as transformações na personalidade de cada um deles e a experiência que eles têm em cada um dos acontecimentos da trama, que intencionalmente se tornam mais intenso para quem está narrando. Infelizmente o editorial não consegue ter um enredo muito melhor do que seu antecessor, o que nos deixa com um capitulo final num nível semelhante ao capitulo inicial da saga. Uma grande escolha do autor foi focar numa história de crescimento dos personagens, mesmo que ainda tenhamos que lidar com bastante do drama de Sadia indecisa entre Walt e Anúbis (um dilema que acaba tendo uma conclusão um pouco incomoda e oportuna demais) e com os desencontros amorosos de Carter e Zia, mas Rick consegue ser rígido ao amarrar bem os três livros, chegando até a exaltar acontecimentos anteriores, características físicas dos personagens e pontos fortes das personalidades dos deuses para conectar pontos chave do livro com pontos soltos dos livros anteriores, o que torna tudo mais agradável ao leitor, e até cria um fanservice excelente ao acenar graciosamente com a existência de eventos com outros deuses e magia ou quando Sadie fala sobre seu desafeto da escola, a líder da panelinha das populares, uma garota chamada Drew Tanaka, conhecida pelos fãs de Rick como a Conselheira do Chalé de Afrodite.

Mantendo o mesmo padrão visual dos volumes anteriores, a obra repete o excelente cuidado na diagramação que nos deixa apaixonados pela competência da Intrínseca, com suas folhas amarelas e uma fonte agradável aos nossos olhos, aperfeiçoando ainda mais a experiência com um Glossário ao final, onde temos uma lista de hieróglifos de feitiços, termos egípcios e informações sobre deuses. A tradução de Débora Isidoro é excepcional, garantindo que todas as piadas apresentadas consigam ser transmitidas para o publico brasileiro sem dificuldades sem perder a fidelidade ao material original, deixando claro para nós todo o humor inocente, irônico, sarcástico e juvenil que é uma das características marcantes de escrita de Rick. O livro ainda bebe bastante nas referencias e nos presenteia com um Gollum particular através de Setne, um fantasma assassino de um mago poderoso que pode ajudar os irmãos a encontrar a sombra ou trai-los para conseguir escapar do mundo inferior, o que torna a tensão do livro ainda maior. No fim, o livro peca principalmente ao não conseguir transformar Apófis no grande vilão da história que Rick nos prometeu desde 2010, que deveria ser tão grande quanto Chronos, mas acerta ao levar o foco a Setne, que engaja muito mais o desenrolar da trama do que a Serpente do Caos. A Sombra da Serpente é um bom livro para quem já conhece as obras de Rick e quer conhecer mais sobre a Mitologia Egípcia, mas ele prova que As Crônicas dos Kane não é um bom começo para quem ainda o conhece, podendo facilmente ser considerada a saga mais fraca de seu currículo.

“Justiça significa que todo mundo consegue o que precisa. E a única maneira de se conseguir o que precisa é ir buscar você mesmo.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 3 – As Crônicas dos Kane

Nome: A Sombra da Serpente

Autor: Rick Riordan

Editora: Intrínseca

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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