Nota
“Ninguém vai se lembrar de nós.”
Cinco adolescentes desajustados, unidos por acaso (ou destino), encontram moedas misteriosas que lhes conferem superpoderes, e logo descobrem que foram escolhidos para algo maior: proteger o mundo contra uma ameaça ancestral prestes a despertar. Com ajuda do robô Alpha 5 e do enigmático Zordon, os novos Rangers precisam aprender a confiar uns nos outros e, principalmente, acreditar em si mesmos, antes que Rita Repulsa destrua tudo que conhecem. A premissa, por mais conhecida que seja, ainda carrega um potencial inegável — e é exatamente nessa familiaridade que o filme de 2017 tenta (re)fundar a lenda dos Mighty Morphin Power Rangers.
Dirigido por Dean Israelite, o reboot de Power Rangers tenta equilibrar nostalgia com modernidade, trazendo um ar mais sombrio e dramático ao universo colorido da franquia dos anos 90. O roteiro de John Gatins aposta no desenvolvimento dos personagens, e até surpreende ao apresentar um grupo de jovens que, apesar dos arquétipos — o líder problemático, o atleta em crise, a garota incompreendida, o nerd e o solitário —, tem tempo de tela suficiente para ganhar alguma profundidade. O filme não tem pressa para entregá-los uniformizados e em cena de ação, e esse é um dos seus maiores riscos: para alguns, funciona como construção de personagem; para outros, é uma longa introdução que deixa a adrenalina para o último ato.
Dacre Montgomery (Jason), Naomi Scott (Kimberly), RJ Cyler (Billy), Ludi Lin (Zack) e Becky G (Trini) compõem um elenco jovem com química palpável. Cyler, em especial, rouba a cena como Billy, trazendo vulnerabilidade e humor na medida certa. Já Elizabeth Banks se diverte com sua Rita Repulsa exagerada, oscilando entre vilã de terror e paródia camp — e talvez essa indecisão de tom seja uma metáfora para o filme todo. Às vezes ele quer ser um drama adolescente profundo, outras vezes uma aventura leve e empolgante. E em algumas cenas, tenta ser os dois ao mesmo tempo.
Visualmente, o filme entrega o básico com certa competência. Os trajes atualizados e os Zords têm design moderno, mas não exatamente memorável, e a luta final, embora divertida, carrega um excesso de CGI que distancia da tensão real. Ainda assim, há um prazer genuíno em ver os cinco finalmente gritando “É hora de morfar!” e se lançando contra os lacaios de Rita. O filme sabe que esse é o momento pelo qual o público esperou — e não decepciona.
Power Rangers é um filme que tenta honrar seu legado enquanto se reinventa para um novo público. Não é um acerto completo, mas também está longe de ser um desastre. Com personagens cativantes, uma boa dose de nostalgia e algumas decisões corajosas (como trazer diversidade real para os Rangers), o filme tem coração — mesmo tropeçando no ritmo e no tom. Fica claro que havia potencial para uma continuação que jamais veio, mas dentro do que se propõe, entrega uma sessão da tarde moderna e competente. No fim, é sobre encontrar força naquilo que nos torna diferentes — e sobre heróis que usam armaduras, sim, mas que antes de tudo precisam aprender a ser pessoas.
“Para você, pode parecer apenas uma moeda. Mas para nós… é o começo de tudo.”
Icaro Augusto

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.