Crítica | Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice)

Nota
4

“Barb, querida… nós estamos mortos. Acho que não temos mais com o que nos preocupar.”

Adam (Alec Baldwin) e Bárbara Maitland (Geena Davis) vivem uma vida pacata, em uma pequena cidade no Connecticut, onde pretendem descansar suas merecidas férias na casa que tão arduamente reformaram. Mas, após um bizarro acidente, o casal se descobre preso na pós-vida, destinados a assombrar seu lar e conviver com a solidão que tanto desejavam.

A singela paz construída pelos novos fantasmas muda drasticamente quando um novo casal adquire seu imóvel, trazendo tudo aquilo que eles almejavam manter fora de sua residência. Assustados com o seu futuro, os Maitland entram em contado com Juno (Sylvia Sydney), uma funcionária pública do pós-vida, que os informa que se quiserem se livrar dos novos inquilinos, eles terão que assombrá-los.

Desanimados com seus constantes fracassos, os desencarnados decidem procurar uma ajuda exterior, um espírito auto denominado como bio-exorcista, que promete exterminar, de uma vez por todas, os problemas trazidos pelos vivos na residência assombrada. Mas, a presença de Beetlejuice (Michael Keaton) pode trazer mais danos do que soluções e nem todos estão dispostos a pagar o preço de seus serviços.

Após encarar um projeto mais contido e repleto de uma vasta visão autoral em suas entrelinhas, Tim Burton assumia uma nova obra, onde seu estilo narrativo, tão marcante e característico, afloraria de maneira arrebatadora e marcaria de vez sua presença no universo cinematográfico.

Os Fantasmas se Divertem está longe de ter um início fácil. Retalhado e retrabalhado inúmeras vezes, o longa iniciou sua jornada de maneira perigosa, longe de ser o clássico eclético que amamos conhecer. Seu texto mais sombrio, repleto de bizarrices questionáveis, não agradou a primeira vista, precisando ser remodelado para enfim conhecer a luz do dia. Através da visão Burtoriana o longa conseguiu encontrar um meio termo, explorando suas singularidades enquanto conquistava o espaço que merecia dentro das vertentes em que se instalou.

A obra então ganhava um humor acido, flertando com os clássicos do terror que Burton tanto admirava, enquanto construía questões pertinentes que agradavam tanto a crítica quanto ao público. A abordagem sobre a morte e sobre o que nos espera do outro lado era brilhantemente trabalhada, construindo um universo peculiar que alfinetava nossas visões sobre o mundo a cada nova volta do roteiro.

Não é a toa que o longa se inicie com a exploração de uma maquete precisa da sociedade que deseja mostrar, cruzando o caminho até seus protagonistas inicialmente tediosos e desinteressantes que não possuem qualquer carisma do público em seus primeiros minutos.

O filme explora sua pequena vidinha, apenas para virar o jogo nos primeiros oito minutos da trama, onde constrói uma morte cômica e bizarra que tinge com novas cores aquilo que achávamos conhecer.  Os tons pastéis, que combinam com a vida tediosa de seus protagonistas, passa a ter novos elementos, demonstrando as decisões arriscadas que o filme pretende abordar.

É a partir dessa nova vertente que o longa extrapola, mudando seu foco e acrescentando conceitos ao rico universo construído. Seja pelas medonhas minhocas de areia, que se tornam um assustador empecilho que mantém os fantasmas em seu aprisionamento, ou a burocrática e colorida repartição destinada a pós-vida, tudo é pensado para nos surpreender e acrescentar novas camadas a seu enredo aparentemente simplista.

O horror lúdico e as críticas sociais abraçam tudo ao seu redor, construindo dinâmicas interessantes que nunca cruza a linha do grotesco mas atinge em cheio o imaginativo do público. A trilha sonora, brilhantemente encabeçada por Danny Elfman, transborda com a figurativa excentricidade imaginada por Burton, trazendo uma mistura eclética que nos conquista a cada novo ritmo inserido.

Mas, o brilhantismo audiovisual parece não se estender a seu roteiro, trazendo uma crise existencial que é duramente sentida no segundo ato da trama. Se o primeiro ato consegue definir uma casa assombrada às avessas, partindo do ponto de vista dos recém-falecidos ao serem confrontados com a soberba dos novos inquilinos, o segundo larga a mão desse trunfo para dar voz aos Deetz, mudando assim o protagonismo do filme enquanto deixa os Maitland estranhamente ausentes de sua própria história.

Charlie (Jeffrey Jones) e Delia (Catherine O’Hara) são detestáveis a seu modo, explorando a extravagância ridícula de uma família rica procurando refúgio em uma pacata cidade. Enquanto Charlie vê novas oportunidades de negócios nas construções locais, Delia, incentivada por seu terrível decorador Otho (Glenn Shadix), decide remodelar a aconchegante casa, construindo uma paródia pós-moderna que assombraria qualquer fantasma ali presente.

A interação dos três é primorosa, principalmente na maravilhosa cena do jantar, onde O’Hara rouba a cena em um dos momentos mais emblemáticos do longa ao som do ritmo jamaicano de Day-o. Mas, mesmo com um elenco forte, o longa parece perder sua motivação e arrastar seu meio até definir o que realmente deseja contar.

Eis que Lydia (Winona Ryder) assume de vez a narrativa, interligando os pontos e tomando para si o protagonismo perdido ao longo da história. Esperta e estranhamente mórbida, a adolescente flerta constantemente com a morte, trazendo uma ligação precisa para os diferentes mundos apresentados na trama. Mas, é Michael Keaton que verdadeiramente rouba a cena.

Embora encabece o título do longa, o bizarro fantasma de Keaton aparece apenas em 17 minutos da película, mas cada um deles se torna memorável aos olhos do público. Com uma atuação over-the-top e repleta de um humor grotesco, Keaton nos entrega um personagem incomparável que consome tudo o que está ao seu redor enquanto nos deixa vidrados a cada nova nuance apresentada.

Os Fantasmas se Divertem pode ser o segundo longa dirigido por Burton, mas é considerado por muitos o primeiro a trazer a veia latente do diretor. Repleto de bizarrices e cenas memoráveis, o longa extrapola o nonsense e conquista o público com seu carisma palpável, trazendo um clássico instantâneo que combina com a morbidez lúdica de seu diretor, nos convidando a abraçar o diferente e tomar cuidado com certas palavras repetidas três vezes.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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