Crítica | Oito Mulheres e um Segredo (Ocean’s 8)

Nota
4

“Se eu fosse solta, eu ia querer uma vida simples.”

Depois de alguns anos de prisão, Debbie Ocean, a irmã de Danny Ocean, está de volta as ruas, cansada de pequenos golpes e pronta para, assim como seu irmão, executar o assalto do século durante o anual Met Gala, em Nova York. Buscando roubar o Toussaint, um colar de diamantes avaliado em US$ 150 milhões que é mantido sempre bem guardado nos cofres da Cartier, Debbie se une a Lou, sua antiga parceira de golpe, para montar uma equipe de especialistas para executar o crime perfeito. Pouco a pouco vamos sendo apresentados a Rose Weil, uma designer de moda cheia de dividas; Amita, uma especialista em joias; Tammy, uma mãe suburbana e contrabandista; Constance, uma mão leve das ruas; e Nine Ball, uma poderosa hacker capaz de usar tecnologia para aperfeiçoar o roubo.

Desde o fim da Trilogia Ocean’s, quando George Clooney decidiu que não queria mais continuar no papel de Danny, a proposta de um quarto filme acabou sendo engavetada e esquecida no decorrer dos anos, mas tudo mudou em 2015, quando surgiu a proposta de se lançar um spin-off focado em mulheres reunindo Helena Bonham Carter, Cate Blanchett, Mindy Kaling e Elizabeth Banks, uma proposta que só evoluiu até seu lançamento em 2018 e acabou por substituir Banks por Sandra Bullock. Com roteiro e direção de Gary Ross, e produção de Steven Soderbergh, o longa inicialmente parece uma releitura superficial de Onze Homens e um Segredo, principalmente por conta da semelhança da premissa e do inicio da produção, mas aos poucos vai ganhando sua própria personalidade ao mesmo tempo que se prova como um novo capitulo dentro da saga, mantendo os principais elementos que definiram cada um dos filmes da trilogia como parte da trilogia.

Bullock se encaixa perfeitamente em Debbie, um papel que é claramente a versão feminina do personagem de Clooney, ela poderia facilmente ser descrita como a irmã gêmea de Danny já que suas personalidades são tão semelhantes, dando um tom autoritário, controlador e afiado à personagem, que assim como aconteceu com Danny no primeiro longa, acaba encaixando uma figura marcante de seu passado em meio ao seu plano e, com pura genialidade, usando essa peça fundamental para tornar o plano ainda mais eficiente. Blanchett vive uma Lou realista, ela sempre está com o pé no chão e é dura em todas as situações, mostrando que está cheia de feridas do passado que a fizeram ser fria e calculista em cada uma das ações. Bonham Carter é uma Rose inexperiente e inocente, ela cai de paraquedas no golpe por conta da importância que seu nome possui e da necessidade que ela tem da grana, o que a faz se tornar o peão perfeito ao mesmo tempo que vive com medo de algo dar errado.

Kaling é uma Amita lutadora, ela assumiu os negócios do pai, não tem marido e vive a pressão de se mostrar bem sucedida o tempo todo, precisando ser dura com seus clientes em seu negocio familiar e vendo no assalto a chance de erguer de vez seus negócios. Sarah Paulson entra no elenco como a fluida Tammy, ela parece ter duas identidades bem precisas que não entram em conflito e transitam facilmente em tela, seja a dona de casa carinhosa e preocupada ou a contrabandista meticulosa e objetiva, um papel que cai como uma luva na multifacetada atriz. O papel de Constance é assumido pela enérgica Awkwafina, que dá um tom muito mais jovial ao papel e consegue nos cativar com toda a versatilidade da atriz e forma leve como ela encarna a ladra. A gangue se completa com Rihanna e sua Nine Ball, uma personagem bem alternativa que não se encaixa em nada com a personalidade da cantora, mas que parece ser um desafio bem sucedido nas mãos de Rihanna, que é bem pontual em cada trejeito e fortalece a personalidade da personagem até quando vemos um pedaço de sua história de fundo.

Claro que não adianta ter um grupo de ladras se não tivermos as vítimas perfeitas, e é nesse ponto que entram Anne HathawayRichard Armitage James Corden. Hathaway vive Daphne Kluger, a celebridade que irá usar o colar no Met Gala e que acaba se tornando o alvo que a equipe precisa cercar, já Armitage é Claude Becker, o antigo namorado de Debbie e o responsável por sua prisão que tanto ela deseja vingar, por fim temos Corden como John Frazier, o investigador de seguros que é enviado para descobrir o paradeiro do colar e pode colocar em risco a operação de Debbie. Além de tudo, temos duas das quatro participações especiais previstas, que conectam o filme diretamente com a trilogia original, por meio da aparição de Elliot Gould, dando conselhos a Debbie no papel do poderoso Reuben Tishkoff, e de Shaobo Qin, que retorna como Yen para um suporte em um momento chave do longa.

Seguindo uma grande tendência moderna, Oito Mulheres e um Segredo abre espaço para um elenco prioritariamente feminino em tela em meio a uma dinâmica que fez sucesso nas mãos de um elenco masculino, sem tirar o valor existente no padrão. Com cada mulher tendo seu espaço para expor suas aptidões de forma rápida e dinâmica, além de assumir uma conexão palpável com a audiência, o longa nos cativa com seu tom aventuresco temperado com uma comédia bem leve e as diversas reviravoltas que são ingredientes indispensáveis para um filme de golpe. Bem preenchido com um roteiro inteligente e perspicaz, o longa se fortalece com sua vilã amorfa, o tempo e a probabilidade, e evolui num caminho bastante equilibrado que nos leva a um desfecho bem redondinho. Mesmo que não esteja aqui para apresentar uma ideia inédita, o longa sabe o que faz e se renova pelo simples fato de suas diferenças da trilogia original.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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