Crítica | Nas Terras Perdidas (In the Lost Lands)

Nota
3

Nas Terras Perdidas, adaptação de três contos escritos por George R.R. Martin, acompanha uma rainha que contrata os serviços de uma poderosa e temida feiticeira chamada Gray Alys (Milla Jovovich), com a missão de enviá-la para uma terra fantasmagórica conhecida como as Terras Perdidas. O objetivo é obter um poder mágico capaz de alterar a forma física de pessoas e objetos. No entanto, Gray guarda um segredo: todo desejo que realiza traz consequências devastadoras. Ao seu lado está Boyce (Dave Bautista), um caçador enigmático que a auxilia a enfrentar as forças sombrias e os inimigos que habitam essa terra amaldiçoada. Apesar de seu jeito reservado e sério, Boyce torna-se um aliado valente e essencial enquanto a dupla enfrenta criaturas épicas e horrores inimagináveis nas Terras Perdidas.

Com uma estética pós-apocalíptica, marcada por cores intensas e um design de produção carregado de simbolismos e contrastes visuais, o longa nos transporta para um futuro distópico que serve de pano de fundo para essa fantasia sombria. Milla Jovovich interpreta Gray Alys com segurança, encarnando um tipo de personagem que já lhe é familiar, embora sem trazer grandes novidades. Já Dave Bautista, ainda que carismático, parece limitado por um roteiro que não lhe oferece espaço para explorar nuances emocionais mais profundas.

Apesar de contar com o nome de George R.R. Martin — o que por si só já gera grande expectativa —, o filme nem sempre consegue traduzir a densidade temática e a complexidade moral presentes nos contos originais. Há um esforço visível na construção de um universo rico e intrigante, mas o roteiro peca pela superficialidade em certos arcos narrativos. O maior mérito do filme está, sem dúvida, em sua estética.

Há ecos da complexidade moral típica de Martin, mas estes se diluem em diálogos expositivos e resoluções apressadas. Essa superficialidade enfraquece o envolvimento do espectador com os personagens. Gray Alys, por exemplo, é cercada de mistério e poder, mas suas motivações nem sempre são claras ou emocionalmente convincentes. O mesmo se aplica a Boyce, cuja força física contrasta com uma interioridade pouco explorada. Há indícios de um passado marcado por escolhas difíceis, mas o filme opta por apenas sugerir, em vez de desenvolver — uma abordagem que, embora funcione em certos contextos, aqui soa como uma oportunidade desperdiçada.

O universo apresentado é vasto e repleto de potencial, com criaturas míticas, reinos esquecidos e uma magia ancestral em ruínas — elementos que evocam tanto maravilhamento quanto decadência. No entanto, sem uma mitologia bem desenvolvida ou um fio condutor emocional consistente, a sensação de imersão se dissipa com facilidade. Nas Terras Perdidas é um filme que seduz pelo visual e pelo potencial narrativo, mas deixa a impressão de que, com um roteiro mais robusto ou mais tempo de desenvolvimento, poderia ter sido muito mais do que um espetáculo visual. Ainda assim, para os fãs de fantasia sombria e mundos decadentes, trata-se de uma jornada que, apesar das imperfeições, merece ser conferida.

 

Professor, escritor, tradutor, blogueiro, entusiasta em tecnologia, nerd e pseudo intelectual.

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