Nota
Asteroid City é uma vila pequena no meio do deserto estadunidense com apenas um motel, um posto de gasolina, e algumas casinhas chamada, que se chama assim pelo seu ponto turístico, uma cratera resultada de um meteorito que caiu há milênios atrás, e que ainda atrai algumas pessoas da comunidade científica. Mas a história na verdade acompanha uma família que está de passagem pela cidade e acabam ficando presos nela, o que acaba sendo uma boa oportunidade para o pai contar para suas crianças que a mãe deles faleceu, uma atriz famosa que está de passagem com sua filha por motivos misteriosos, e alguns cientistas que investigam a cratera e irá acabar resultando em eventos inesperados. O longa, que é o mais recente do aclamado diretor Wes Anderson, dividiu opiniões entre críticos, mas continuou agradando os fãs mais fiéis do diretor com um dos estilos de filmagens mais reconhecíveis da história do cinema.
Asteroid City reuniu um elenco de peso, nada fora do comum nas obras de Wes Anderson, que estabeleceu sua estética de filmagem como marca registrada dos seus filmes após o sucesso de sua primeira animação Fantastic Mr. Fox (2009), além de posteriormente lançar seu filme mais famoso, considerado por muitos a sua obra prima, The Grand Budapest Hotel (2014) com grandes nomes do cinema como Tilda Swinton e Willem Dafoe, que já viraram caras certas nos seus filmes, participando de várias produções juntos. Agora, em Asteroid City, Wes Anderson aposta em novos atores junto dos seus recorrentes como Tom Hanks, Scarlett Johansson e Jeffrey Wright, que podem vir a ser novos rostos certos para aparecerem em próximas produções.
O longa mantém a estética pré-estabelecida de Wes Anderson, o que acaba sendo uma das poucas coisas positivas do filme, que já é o fator principal de deixar o filme atrativo. A paleta de cores saturada deixam as cenas belíssimas, mesmo num cenário sem grandes exuberâncias no meio de um deserto, mas com cenários muito bem colocados, como se as casas e ambientações se parecerem ser feitas de papelão, o que faz muito sentido com o contexto das cenas que servem para representar a produção de uma peça de teatro. Mas ao contrário de outras produções da mesma época do diretor, Asteroid City se propõe a brincar com o surrealismo de formas mais ousadas e “desleixadas”, onde a estética de “produção de uma peça de teatro” se sobressai em diversos momentos, inclusive num dos momentos de tensão do filme onde um personagem é feito por animação, mas uma animação propositalmente de baixo orçamento para criar essa ambientação caricata.
Mas, apesar de toda intencionalidade da produção de Asteroid City, o longa parece mais uma caricatura de como um filme de Wes Anderson deveria parecer, com personagens excêntricos, tiradas que querem soar inteligentes, mas embaladas em um enredo que tem uma proposta interessante mas com uma execução não muito boa. Há uma ideia de mescla de realidades que poderia ter sido muito bem feita e criado momentos cômicos que funcionariam bem com a história, mas infelizmente a execução não é das melhores, deixando toda a progressão do enredo sem sentido e sem graça. Um curta da mesma época, Poison (2023) consegue mostrar que o diretor ainda sabe conduzir enredos interessantes, mesmo em pouco espaço de tempo, e mesmo com poucas variedades de cenários, por exemplo, o curta tem muito mais sucesso em prender a atenção com um suspense intrigante e engraçado.
Ainda assim, por Asteroid City contar com um elenco de peso, as atuações são espetaculares. Jason Schwartzman é perfeito como o pai perdido e fotógrafo de guerra, mostrando que ele ainda tem uma boa dinâmica com o diretor mesmo após anos de The Grand Budapest Hotel, mas quem rouba a cena sem dúvidas é Scarlett Johansson, que se mostra uma atriz perfeita para projetos do Wes Anderson, por encarnar bem a persona apática necessária para os papéis dele, mas sem perder personalidade e nem sentimentos e dimensão da sua performance. O que não acontece muito com Tom Hanks, que já não é conhecido por um alcance de atuações muito variadas, mas aqui ele se apaga totalmente, não se adaptando bem com o estilo “seco” de atuação que é exigido pelo filme e apenas entregando uma performance sem sal nenhum.
Apesar de manter o nível estético com um visual impecável e um elenco de peso, Asteroid City parece perder a força em sua execução. Wes Anderson continua a apostar em seu estilo inconfundível, mas desta vez, seu jogo de roteiro surrealista pode soar excessivamente forçado por não conseguir criar um sentido palatável para sua audiência, não que fosse necessário dar sentido a sua obra, mas a falta de conexão com uma linearidade de ideias acaba tornando o filme menos envolvente do que poderia ser. Ainda que tenha momentos ótimos de atuação, graças ao carisma de Jason Schwartzman e Scarlett Johansson, e com uma direção de arte como sempre no ponto certo, a narrativa não sustenta todo o potencial da premissa, deixando a impressão de uma obra que imita a fórmula do diretor sem alcançar o impacto de seus trabalhos mais aclamados. Para os fãs, há ainda o charme característico de sua filmografia, com personagens igualmente excêntricos, trazendo uma experiência igualmente caótica e divertida, mas não chega a ser um filme de destaque para o currículo do diretor.