Nota
“Esta é uma história de garoto conhece garota, mas você deve saber de antemão: isso não é uma história de amor.”
Tom Hansen acreditava no amor verdadeiro. Summer Finn não. E isso era um problema. Quando Tom conhece Summer, sua nova colega de trabalho, ele acredita ter encontrado a garota perfeita, aquela que vai transformar sua vida em algo digno de canções dos Smiths e cartões de Dia dos Namorados. O que ele não esperava é que Summer não compartilhasse da mesma visão romântica da vida. Ao longo de 500 dias — entre encontros, desencontros, e muitas ilusões —, o filme nos leva por uma montanha-russa emocional que acompanha a idealização e a frustração amorosa, tudo pelo olhar enviesado de um homem apaixonado demais para enxergar a verdade.
Dirigido por Marc Webb e roteirizado por Scott Neustadter e Michael H. Weber, 500 Dias com Ela é muitas vezes vendido como uma comédia romântica moderna, mas, como o narrador avisa nos primeiros minutos, essa não é uma história de amor — pelo menos, não da forma tradicional. Na verdade, é quase um estudo de caso sobre a forma como projetamos nossos desejos em outras pessoas, ignorando seus limites, suas vontades e, às vezes, seus avisos explícitos. O roteiro brinca com a ordem cronológica dos dias, nos jogando entre os altos e baixos da relação, o que serve tanto como mecanismo narrativo quanto como metáfora do caos emocional de Tom. O recurso funciona bem porque reforça a ideia de que não existe uma narrativa linear no amor — só a confusão de memórias, expectativas e realidades quebradas.
Joseph Gordon-Levitt dá vida ao ingênuo Tom com um equilíbrio delicado entre o carisma e a imaturidade emocional. É fácil se identificar com ele, torcer por ele, e ao mesmo tempo sentir raiva de suas decisões. Ele é um retrato perfeito de alguém que cresceu acreditando em finais felizes sem nunca questionar o que isso realmente significa. Zooey Deschanel, com sua já conhecida aura excêntrica e misteriosa, transforma Summer em um enigma: uma mulher que deixa claro desde o início o que quer — ou o que não quer — mas que é interpretada por Tom como um quebra-cabeça a ser resolvido. E é aí que o filme brilha: Summer nunca é a vilã, mas sim o espelho das projeções de Tom.
A direção de Webb é cheia de personalidade, conseguindo equilibrar leveza e melancolia ao longo da narrativa. A trilha sonora também merece destaque, funcionando quase como uma narração paralela da história — Smiths, Regina Spektor e Simon & Garfunkel ajudam a criar o clima agridoce que define toda a experiência. 500 Dias com Ela é uma história sobre relacionamentos, os reais e os projetados, um filme que, à primeira vista, pode parecer uma crítica àqueles que não querem se comprometer, mas olhando com mais atenção, é uma crítica muito mais dura àqueles que projetam seus desejos no outro. Ele fala sobre expectativas e amadurecimento, sobre aprender que amar alguém nem sempre é o suficiente — e que tudo bem. No fim das contas, é uma história sobre crescer. E, de vez em quando, sobre reaprender a começar.
“Só porque alguma coisa acaba, não quer dizer que ela não tenha sido incrível.”
Icaro Augusto

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.