Nota
Quando uma franquia televisiva infantojuvenil decide migrar para as telonas, a expectativa natural é de que ela leve consigo não apenas seu público fiel, mas também um salto de maturidade em termos de narrativa, direção e proposta visual. As Aventuras de Poliana – O Filme, lançado em 2023 e derivado da longeva novela do SBT, tenta expandir o universo da protagonista otimista para um novo cenário, mas acaba se apoiando demais na nostalgia e de menos na inovação. A produção funciona quase como um episódio estendido da novela, sem alcançar o fôlego ou o acabamento técnico que um longa-metragem exige.
Na trama, Poliana — interpretada mais uma vez por Sophia Valverde — está agora diante de novos desafios: o crescimento, a responsabilidade e os laços que vão se desfazendo à medida que o tempo passa. A proposta do filme é acompanhar esse amadurecimento em um contexto novo, que mistura acampamentos, segredos do passado e uma suposta missão envolvendo o futuro de sua família. A ideia poderia render uma narrativa sensível sobre transição e descobertas, mas infelizmente esbarra em diálogos rasos, situações apressadas e um roteiro que parece preso às fórmulas da televisão aberta.
Apesar da tentativa de elevar a escala da produção, os elementos técnicos continuam tímidos. A fotografia é plana, com cores saturadas demais e pouca sofisticação visual. A montagem peca pela falta de ritmo, tornando o filme cansativo mesmo com sua curta duração. A trilha sonora segue a linha pop juvenil, mas raramente é usada de forma emocionalmente eficaz. O elenco alterna entre atuações competentes e momentos de artificialidade, o que afeta diretamente a imersão. Sophia Valverde, carismática como sempre, faz o possível para manter a essência de Poliana viva, mas o roteiro pouco lhe oferece em termos de complexidade emocional.
O maior problema do longa talvez esteja em sua indecisão sobre o público-alvo. Embora ainda fale com o público infantil, o tom mais dramático e introspectivo parece mirar em quem cresceu assistindo à novela — mas sem aprofundar verdadeiramente nenhuma dessas frentes. A história tenta manter viva a essência do “Jogo do Contente”, mas falha em trazer conflitos relevantes ou mensagens que ressoem com o público mais velho. O resultado é um filme que soa datado já na estreia, com um enredo que depende demais do conhecimento prévio da série para fazer sentido, tornando-se pouco acessível para quem chega sem bagagem.
As Aventuras de Poliana – O Filme tem coração e boas intenções, mas falta ousadia e refinamento. A transição da TV para o cinema exigia mais ambição — visual, narrativa e emocional. Fica a sensação de que Poliana merecia um filme que refletisse não só seu otimismo contagiante, mas também a complexidade dos sentimentos que surgem com o crescer. Como está, a produção soa como um aceno tímido ao passado, sem coragem suficiente para realmente olhar para frente.
Icaro Augusto

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.