Crítica | A Lenda de Ochi (The Legend of Ochi)

Nota
3

Na ilha remota de Carpathia, uma pequena vila teme as criaturas que são chamadas de Ochi. Lá, um grupo de crianças recebe treinamento de Maxim (Willem Dafoe), um caçador experiente que tenta ensiná-los a como caçar os temidos Ochi. Yuri (Helena Zengel) é filha de Maxim e também recebe treinamento com os meninos para caçar, mas enquanto todos falham o seu treinamento, Yuri sente cada vez mais falta de sua mãe que fugiu, deixando-a sozinha com seu pai vários anos atrás, segundo as histórias dele. Certo dia, Yuri decide se aventurar na floresta quando ela reencontra um bebê Ochi, que ela havia visto em uma caçada anterior, e percebe que ele está machucado por uma de suas armadilhas. Com compaixão com a pobre criatura, ela decide resgatá-lo e levá-lo para casa para tentar cuidar dele. Mas ao chegar, ela é surpreendida por Petro (Finn Wolfhard), que rapidamente tenta matar o pequeno Ochi. Então Yuri toma a decisão de deixar sua casa para proteger seu novo amigo e tentar levá-lo de volta para sua mãe. Da produtora A24, A Lenda de Ochi é um filme que reúne toda uma estética nostálgica para contar a história dos misteriosos seres chamados Ochi.

Sendo o primeiro longa do diretor americano Isaiah Saxon, que havia anteriormente trabalhado com artistas como Björk em seus clipes, e também com diversos curtas de animação produzidos a partir do estúdio independente de animação que ele ajudou a fundar, o Encyclopedia Pictura. Sendo uma co-produção entre a produtora A24 e o estúdio Encyclopedia Pictura, A Lenda de Ochi teve o orçamento de 10 milhões de dólares, um valor singelo comparado a grandes blockbusters, ainda mais para um filme de fantasia com ideias tão audaciosas. As criaturas “Ochi” foram feitas com diversas técnicas como em fantoches para o bebê Ochi, roupa especial para os Ochis maiores, com um ator especializado em movimentos de primatas selecionado para o papel, e, claro, animatronics para os rostos dos personagens. Essa é uma das coisas mais interessantes do filme, que poderiam facilmente ter utilizado efeitos em 3D para dar vida às criaturas, mas o trabalho com efeitos práticos não só ficam mais bonitos, como também criam uma atmosfera perfeita para o filme, deixando com uma cara de filme dos anos 80.

O longa também conta com um bom elenco, ter o renomadíssimo Willem Dafoe como o pai da protagonista foi um grande acerto, já que a versatilidade e experiência do ator guiou as performances dos atores mais novos. Já a protagonista, apesar de jovem, já tem uma vasta experiência como protagonista. A atriz alemã Helena Zengel ficou mais conhecida pelo seu papel em News of the World (2020), filme indicado ao Oscar que ela protagonizou junto com Tom Hanks, mas ainda não tinha explorado todo o seu potencial como atriz, já que, nesse trabalho, ela faz uma personagem que não fala e sua corporeidade acaba não sendo das melhores. Já em A Lenda de Ochi, apesar de não ser um filme que exija grandes interpretações, ela se mostra muito mais confortável e entregue ao seu personagem, tendo uma boa dinâmica com os outros atores e principalmente com seu “amiguinho ochi”. Já Finn Wolfhard, foi uma adição irrelevante ao elenco. Apesar dele ser conhecido pelo sucesso de público Stranger Things, e já ser uma cara marcada em obras que emulam os anos 80, o ator no final não adiciona muito, sendo um personagem bem irrelevante e sem carisma. 

Apesar da sua estética ser bem interessante, com diversas referências estéticas a filmes dos anos 80, como The Dark Crystal (1982) do incrível Jim Henson, que foi um especialista em marionetes, A Lenda de Ochi se mostra muito bonito esteticamente, porém fica a dúvida: Para quem esse filme foi feito? A história é bem simples e tem um enredo óbvio que fica claro nos primeiros minutos de filme tudo que vai acontecer, mas ao mesmo tempo, as cenas mais “violentas”, com sangue e outros efeitos elevam a classificação indicativa, deixando o filme aqui no Brasil com 12 anos de classificação mínima. Portanto, faltou um pouco de coesão entre a produção do longa de definir bem o seu público alvo para a montagem final do filme ser mais coesa. O filme também se mostra inconsistente esteticamente nas suas cenas finais, que possuem mais impacto, mas que são colocadas em cenários em computação gráfica, o que destoa completamente do resto do filme, que foi filmado inteiramente em locações lindíssimas em montanhas europeias, levando a esse salto enorme em qualidade, que foi reduzida por colocarem os atores em um cenário digital, muito mal feito por sinal.

Apesar das suas inconsistências e previsibilidade, A Lenda de Ochi é um filme com cenas lindíssimas e esteticamente interessantes. Buscando encantar visualmente despertando essa nostalgia de filmes de fantasia dos anos 80, o filme traz elementos estéticos vintage mas que se destacam em meio a tantas produções computadorizadas. As criaturas feitas por efeitos práticos elevam esteticamente a obra por trazer uma certa originalidade que se perde em tantos blockbusters atuais. O elenco também é muito bem colocado pela escolha de Willem Dafoe, veteraníssimo que consegue tirar de letra esse papel, e ainda interagir bem com os atores menos experientes. Porém, apesar de nova, a atriz Helena Zengel não tem nada de inexperiente, mesmo com tantos protagonismos, ela se mostra pronta agora para trabalhos mais sérios e desafiadores. Ainda que a proposta do filme pareça indecisa quanto ao público-alvo, o filme se destaca pelo esforço em trazer um universo único e visualmente marcante, que foi muito bem idealizado pelo diretor e sua equipe de criação que pensou em cada detalhe, mesmo que nem tudo tenha sido bem trabalhado no universo.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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