Crítica | O Esquema Fenício (The Phoenician Scheme)

Nota
4.5

Zsa-zsa Korda (Benicio del Toro) é um empresário de sucesso que tem um grande dilema em sua vida: Ele está sempre fugindo da morte. Após diversas tentativas de assassinato, Korda decide entrar em contato com sua filha mais velha, Liesl (Mia Threapleton), que vive atualmente como uma freira em um convento, mas decide atender o desejo de seu pai e vai visitá-lo. Ao chegar lá, ela se depara com um plano enorme para conquistar apoios financeiros para um projeto, mas para isso Zsa-zsa precisa que sua filha abandone sua vocação como freira para ajudar nos negócios da família e se tornar a única herdeira, o que é uma ideia absurda para Liesl que está prestes a começar seus votos no convento, e além de tudo não concorda com os métodos de ganhar a vida do seu pai. Enquanto isso, o novo tutor dos outros filhos de Zsa-zsa, Bjorn (Michael Cera), escuta a conversa dos dois enquanto espera seu momento de ser enfim admitido como tutor. Como Korda se importa muito pouco com seus outros filhos, ele decide levar Bjorn como um secretário na sua jornada com sua filha para seus negócios, visto que seu último secretário morreu no seu último acidente de avião. O Esquema Fenício é o mais novo filme do diretor americano Wes Anderson, promovendo uma jornada hilária pelos dilemas da família Korda.

Conhecido por sua estética inigualável e sobretudo por seus filmes com elencos de peso, Wes Anderson ressurge após seu último filme, Asteroid City (2023), com mais um trabalho com um elenco igualmente gigante. Contando com nomes já carimbados em seus filmes como Willem Dafoe, Bill Murray, Scalet Johansson, F. Murray Abraham e Benedict Cumberbatch, O Esquema Fenício traz novos nomes para o universo de Wes Anderson: Michael Cera e Mia Threapleton. Michael Cera inclusive foi uma ótima adição para o filme, visto que ele combina 100% com a estética de atuação caricata pré-estabelecida pelo diretor, e também mostra sua versatilidade como ator, mesmo que a princípio pareça que ele seja um personagem já típico para ele, o sotaque que ele faz traz um outro nível de complexidade.

Após as diversas críticas por Asteroid City, era esperado que, em um próximo trabalho, o diretor mudasse um pouco a sua estética para inovar e se renovar, como foi na primeira vez que ele decidiu inovar esteticamente criando um de seus melhores trabalhos com Fantastic Mr. Fox (2009). Mas em O Esquema Fenício, o diretor se mantém fiel a sua estética, composta pelos movimentos de câmera horizontais, simetria extrema nos seus frames, e claro as atuações super caricatas. O novo longa se mantém consistente com suas outras obras, com a direção de arte muito bem estruturada, e novamente com a colaboração com a figurinista Milena Canonero, que foi responsável por diversas outras obras de Anderson e ainda pelo o figurino do clássico The Shining (1980), mas que agora se superou com um figurino importantíssimo também para a trama, onde a personagem Liesl tem todo um arco com seu figurino acompanhando o seu desenvolvimento, com peças muito bem escolhidas para a personagem. Outra colaboração de sucesso que volta é a do maquiador Heike Merker, responsável pela maquiagem incrível de Tilda Swinton em The Grand Budapest Hotel, que teve um trabalho magnífico com próteses e deixou o ator Benedict Cumberbatch irreconhecível.

Um grande elenco geralmente significa grandes atuações. O protagonista Benicio del Toro, por exemplo, traz um take interessante para o filme. Já acostumado com o estilo de atuação do diretor, del Toro mescla bem seu lado cômico com momentos de mais seriedade, não do filme em si, mas da personagem que leva tudo a sério demais. Mas a alma do filme sem dúvidas está com a Mia Threapleton, que carrega todos os momentos do filme com maestria. Apesar de ter protagonizado outros filmes, esse acaba sendo o seu primeiro filme de destaque na carreira, onde ela já se prova uma atriz completa por entregar uma ótima comédia, onde as cenas mais engraçadas de fato são com ela, mas sobretudo por ter uma dinâmica incrível com Michael Cera e principalmente com Benicio del Toro, onde a jovem inclusive consegue alavancar a atuação de del Toro por conta da dinâmica ótima entre os dois em cena. Outro que surpreende é o Riz Ahmed por casar tão bem com o projeto e estilo de atuação, já que a cada projeto ele se prova um ótimo ator e isso é inegável, mas que sua atuação como o Príncipe Farouk deixa uma vontade de vê-lo em novos projetos com o Wes Anderson. Apesar de muitas performances boas, quem se apaga completamente é Tom Hanks, que já não havia feito uma grande performance em Asteroid City, mas que agora fica ainda pior por ser completamente engolido por seus companheiros de cena, deixando sua participação completamente desnecessária. 

O Esquema Fenício reitera a identidade visual que consagrou Wes Anderson, mas com uma história mais coesa e mais focada no humor. A última obra do diretor, Asteroid City, deixou um gosto amargo em alguns fãs por não ser tão coeso, trazendo uma proposta diferente de roteiro para os padrões colocados pelos outros filmes do diretor, embora siga os mesmos padrões estéticos que conquistou diversos fãs. Já agora, em seu novo filme, um roteiro mais linear pode atrair de volta alguns fãs, enquanto pode afastar outros que podem se sentir cansados de verem o mesmo padrão de história, mesmo que ainda funcione. O elenco entrega ótimas performances, com destaques para Mia Threapleton, que é a alma do filme, e Michael Cera, que foi uma ótima adição ao mundo de Wes Anderson e que deveria voltar em próximos projetos do diretor. A direção de arte e figurino enriquecem ainda mais a experiência, por reunir novamente parcerias de sucesso de outras obras como a figurinista Milena Canonero e o maquiador explêndido Heike Merker. O longa reafirma o talento de Anderson para criar mundos únicos, envoltos de uma estética harmoniosa, porém com personagens caóticos que é o que esperamos ver nos filmes do diretor, proporcionando uma jornada visual que continua irresistível.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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