Nota
Muitos acham que o escritor cria suas histórias do nada, como se houvesse um abastecimento infinito de ideias prontas para serem colocadas para fora, quando na verdade o ato de observar o ambiente ao seu redor é que faz um bom escritor criar boas histórias. Em um agosto qualquer, um jovem escritor decidiu se hospedar no prestigiado Hotel Budapest para curar-se de seu bloqueio criativo, o que foi o momento perfeito para conhecer o dono do prestigiado hotel, Mr Moustafa (F. Murray Abraham), que decidiu contar sua história em mínimos detalhes ao jovem escritor, devido ao interesse do mesmo. Moustafa relembra sua história a partir da sua chegada ao Hotel, onde o Gerente, Gustave H. (Ralph Fiennes), o recebe como lobby boy (Tony Revolori), e mesmo muito grato por toda a mentoria que ele recebeu nos seus primeiros dias no trabalho, eles foram envolvidos até no meio de um drama familiar. A obra prima do diretor Wes Anderson, e provavelmente o filme que o introduziu para muitos de seus fãs, The Grand Budapest Hotel, nos faz acompanhar a história riquíssima desse hotel por vários anos, até ele chegar nas mãos do senhor Moustafa.
O Grande Hotel Budapeste se tornou o primeiro filme do diretor a ser reconhecido pelas premiações. Só no Oscar ele levou 4 das suas 9 indicações. Nas categorias técnicas, o filme levou Melhor Cabelo e Maquiagem, principalmente pelo trabalho incrível de caracterização da atriz Tilda Swinton, que interpretou a requintada Madame D., que a deixou irreconhecível. O longa também foi premiado por: Melhor Figurino, que é um show a parte, mas não pelas extravagâncias e sim pelas representações impecáveis das fardas dos soldados que são recriações baseadas em exércitos reais, os figurinos dos trabalhadores dos hotéis, incluindo outros hotéis que são representados por outras culturas, tendo uma mescla de indumentárias muito interessante e suas paletas de cores, Melhor Design de Produção, pelo trabalho impecável com os cenários que transcendem o próprio Hotel Budapeste com as paisagens austríacas que se assemelham a pinturas de animações clássicas infantis, mas também pelo detalhismo incrível, com os quadros que fazem parte da trama central do longa, e por último Melhor Trilha Sonora Original, pelas músicas que transportam bem para uma Áustria da década de 30, mas também criando uma identidade própria muito bem estabelecida do filme.
A direção de arte impecável de The Grand Budapest Hotel levou o reconhecimento geral do diretor Wes Anderson, e não é para menos. O filme que apresenta frames extremamente simétricos, com movimentos estáticos e nivelados de câmera, brinca com seus elementos estéticos e os utiliza brilhantemente como elementos narrativos, tornando as cenas mais cômicas, mesmo abordando temas sérios em alguns momentos, são alguns exemplos dos inúmeros acertos dentro do longa coloridíssimo que serve como uma bela embalagem para o humor seco e às vezes ácido do diretor. Colorido inclusive é um ótimo adjetivo para o filme, não só pelos seus “rosas” vibrantes, mas também para ilustrar o papel da paleta de cores no filme que retrata bem alguns momentos importantes do filme, a calmaria, a incerteza e o caos eminente. No meio do roteiro há diversas críticas ao facismo que estava para chegar na Europa dos anos 30, e o filme retrata muito bem esse distanciamento da calmaria dos cidadãos europeus da época, representados pelo rosa vibrante e pelos azuis, para a falta de cor dos uniformes dos soldados, das ambientações da prisão, criando um contraste interessantíssimo para a narrativa.
The Grand Budapest Hotel também conta com atuações de destaque, como Ralph Fiennes, que apesar de não ser o personagem principal, é o que tem mais destaque como o Monsieur Gustave H., o carismático e sedutor gerente do Grand Hotel, que tem uma personalidade hiperativa, mas sobretudo muito cômica, sendo um dos principais alívios cômicos do filme, um papel relativamente diferente para a carreira de Fiennes que tende a entrar em papéis mais sérios, mas que conseguiu tirar de letra não só o papel, mas também em se adequar ao estilo de atuação necessária para um filme de Wes Anderson. Outra estrela é o Tony Revolori que em seu primeiro papel de destaque em um filme já conseguiu trabalhar com grandes nomes, mas ainda mais que isso, ele consegue ter uma dinâmica maravilhosa com Ralph Fiennes, quase como se sua construção de personagem também fosse um indicativo da sua segurança dentro do próprio filme, já que a atuação de Revolori se mostra muito progressiva, visto que nos últimos momentos do filme ele parece ser outro ator comparado ao início, o que conversa muito bem também com sua personagem que foi mentorado pelo Monsieur Gustave durante todo o enredo.
Colorido e bem humorado, O Grande Hotel Budapeste se consolidou com uma das melhores obras do diretor Wes Anderson e com razão. Wes Anderson passou por diversos trabalhos tentando encontrar um estilo próprio de filmagem, e após passar pelas animações o diretor finalmente encontrou seu estilo e decidiu aplicar as novas técnicas aprendidas em seus filmes live-actions. O longa mostra a maturação da estética de Wes Anderson, após trabalhos como Moonrise Kingdom (2012), que trouxe bons exemplos de como a estética pode ser uma poderosa ferramenta narrativa. Com seu humor peculiar, paleta de cores vibrantes e personagens carismáticos e caricatos, o longa transcende sua bela embalagem visual para entregar uma história rica e envolvente, repleta de críticas sociais, consolidando Wes Anderson como um dos diretores mais autorais e estilizados do cinema contemporâneo estadunidense.