Análise | Zelda II: The Adventure of Link

Nota
3.5

Lançado em 1987 no Japão (e 1988 no Ocidente) para o Nintendo Entertainment System (NES), The Legend of Zelda: Adventure of Link é o segundo título da icônica franquia criada por Shigeru Miyamoto. Desenvolvido pela Nintendo, o título representa uma guinada radical em relação ao estilo do primeiro jogo, abandonando parte da perspectiva top-down em favor de uma jogabilidade side scrolling híbrida com elementos de RPG. Com uma proposta de aprofundamento nas mecânicas de combate e evolução de personagem, Adventure of Link ainda é considerado o título mais experimental da saga principal. Lançado originalmente em cartucho dourado, o jogo está disponível atualmente em plataformas como o Nintendo Switch Online.

EXPERIMENTANDO NOVAS MECÂNICAS

Visualmente, Adventure of Link se mantém dentro das limitações gráficas do NES, mas apresenta notável avanço em relação ao seu antecessor. A mudança para o side-scrolling durante combates e exploração de cavernas permitiu maior detalhamento dos sprites e animações de Link, além de inimigos com movimentos e padrões visuais mais complexos. A paleta de cores é limitada, mas bem aplicada, com cenários que, mesmo simples, transmitem o clima dos diferentes biomas do jogo.

A jogabilidade é o verdadeiro divisor de águas. Ao invés de manter o estilo de ação contínuo, o jogo implementa três camadas distintas: overworld com encontros aleatórios, side-scrolling para combate e exploração, e templos que funcionam como dungeons. Link agora ganha experiência ao derrotar inimigos, permitindo subir de nível em ataque, defesa e magia — uma clara influência de franquias RPGs como Final Fantasy e Dragon Quest. O sistema de combate exige precisão: é necessário dominar bloqueios com escudo, ataques em pé e agachado, e os tempos de animação dos inimigos.

Essa nova estrutura também introduz uma dificuldade considerável: o jogo exige paciência e repetição para que o jogador entenda o timing dos inimigos, perceba suas fraquezas e consiga montar estratégias eficientes para superar os desafios dos templos. Morrer em um desses confrontos significa ser jogado de volta ao ponto inicial do mapa — North Palace — o que pode ser frustrante. Embora isso não implique perda de itens adquiridos, portas já destrancadas ou níveis evoluídos, a necessidade constante de recomeçar o trajeto reforça o caráter punitivo do jogo.

Entretanto, essa complexidade não é acompanhada por um balanceamento ideal. A curva de dificuldade é íngreme, e a ausência de salvamento automático torna a experiência punitiva. Ainda assim, para os padrões da década de 1980, era um jogo ambicioso, que ousava misturar gêneros e expandir o conceito de aventura eletrônica.

NASCE ‘A LENDA DE ZELDA’

A narrativa de Adventure of Link se passa seis anos após os eventos do primeiro jogo, em uma Hyrule marcada pelas consequências da queda de Ganon. Embora o vilão tenha sido derrotado, seus seguidores, agora liderados por uma entidade sombria conhecida como Link’s Shadow, tramam sua ressurreição. O pano de fundo político é igualmente sombrio: décadas atrás, após a morte do Rei de Hyrule, seu filho, movido por ambição e ressentimento, alia-se a um mago misterioso para extrair de sua irmã — a jovem Princesa Zelda (não a mesma do primeiro jogo) — o segredo sobre o paradeiro da Triforce da Coragem, revelado apenas a ela em vida pelo rei. Diante da recusa da princesa, o mago a amaldiçoa com um sono profundo e morre logo após lançar o feitiço. Tomado pelo remorso, o príncipe ordena que todas as futuras princesas da linhagem real passem a se chamar Zelda, criando o primeiro elo da série com a ideia de múltiplas Zeldas ao longo da cronologia — um conceito que se tornaria pilar da franquia.

Agora, cabe a Link recuperar a Triforce da Coragem, escondida em templos guardados por perigosas criaturas, para finalmente uni-la à Triforce da Sabedoria (selada com a princesa adormecida) e à Triforce do Poder, que, após ter sido corrompida por Ganon, passou a residir dentro do próprio herói. Ao mesmo tempo, ele precisa sobreviver à perseguição incessante dos asseclas de Ganon, que acreditam que derramar o sangue de Link sobre as cinzas de seu mestre poderá trazê-lo de volta à vida — uma motivação que dá ao jogo um clima constante de urgência e ameaça.

A ambientação é curiosa. Enquanto o mundo superior remete à exploração aberta do primeiro jogo, os templos subterrâneos evocam sensações de claustrofobia e tensão. A direção de arte, ainda que rudimentar, utiliza bem os recursos disponíveis para diferenciar regiões como desertos, pântanos e florestas, e a silhueta dos inimigos é marcante. O design dos cavaleiros e chefes introduz um ar sombrio, uma tonalidade rara para os padrões da série.

A trilha sonora, composta por Akito Nakatsuka, é menos icônica que a de Koji Kondo no primeiro jogo, mas ainda assim funcional. O tema do mundo superior é vibrante e heróico, enquanto as músicas dos templos são tensas e atmosféricas, contribuindo para a sensação de desafio constante. Os efeitos sonoros são simples, mas satisfatórios — o ruído metálico dos ataques com espada e os sons de magia cumprem seu papel com eficácia.

UM JOGO MEDIANO, MAS A BASE DE UMA FRANQUIA

Por ser um jogo da era 8-bit, Adventure of Link não conta com DLCs ou conteúdo expansível, mas oferece surpresas escondidas ao longo do mapa, como cidades secretas, magias opcionais e áreas acessíveis apenas após o uso criativo de habilidades. As cidades introduzem NPCs e sidequests simples — como buscar itens ou desbloquear magias — que expandem o universo do jogo e foram a base de interações mais elaboradas em títulos posteriores.

A estrutura de progressão, por meio da obtenção de cristais para destravar templos, confere ao jogo um senso de objetivo contínuo. No entanto, a ausência de indicações claras e a dificuldade dos combates geram momentos de frustração, especialmente para jogadores modernos. Ainda assim, quem persiste é recompensado com uma jornada desafiadora e um final emblemático, que fecha o ciclo de Link como herói.

The Adventure of Link pode não ser o jogo mais celebrado da franquia, mas seu legado é inegável. Ele introduziu conceitos como o uso de magia, cidades com NPCs, múltiplas Zeldas e um sistema de progressão de personagem — todos elementos essenciais para o futuro da série. Uma experiência difícil, às vezes injusta, mas corajosa em sua proposta de evolução.

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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